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Era mais uma de todas aquelas quintas-feiras de verão enfiada na própria rotina entediante e sem graça que eu mesma havia criado.

Acordei exatas 07:40 da manhã batendo disparadamente no alarme do celular que provavelmente já havia soado outras cinquenta vezes antes. Nunca fui uma pessoa que se encontrava de pé logo após o primeiro barulho genérico da manhã, então levantar era uma missão impossível todo santo dia, ainda mais durante dias frios ou chuvosos, por outro lado, amanhã era sexta. "Ótimo! Obrigada pela auto motivação, cérebro."

Sentei ao lado da cama e fiquei refletindo sobre minha vida enquanto esfregava meu couro cabeludo com as mãos. Então ser adulto era isso? Acordar cedo, fazer tarefas, trabalhar e estudar em sequência até o dia da minha morte? "Pare de ser dramática, Gio!" Pensei comigo mesma. Não havia um por quê de reclamar enquanto eu simplesmente poderia agradecer por mais um dia de vida, o que se tornou um milagre desde a noite em que quase sofri um traumatismo  devido a uma maluca anônima que não foi reconhecida até hoje, tudo apenas por fanatismo. Que loucura. O que fãs perdidamente apaixonadas não fazem pelo seu ídolo gostosão, hein?

— Giovana! Vamos, ou prefere se atrasar de novo? - Disse Anna enquanto passeava pelo corredor.

Minha mãe? Ah, pois é. Ela ainda grita comigo toda manhã me cobrando até levantar, me sinto como ainda fosse uma garotinha de treze anos. Incrivelmente, algumas coisas parecem nunca mudar mesmo.

— Estou indo, mamãe! Prepare meu café, tudo bem? - Respondi sarcasticamente, esgoelando na cama na tentativa de fazê-la ouvir.

Mais cedo ou mais tarde teria que fazer esse sacrifício, então rapidamente levantei da cama e fui em direção a porta já que meu momento de reflexão e drama havia sido interrompido meio minuto atrás, a única opção que me restava era correr para o banho.

— Que droga - Suspirei. — Espero que as férias cheguem logo.

Peguei minha toalha pendurada na porta e fui até o banheiro para tomar uma boa ducha. O dia estava só começando.

08:46

Depois de passar uma eternidade penteando meu cabelo, desci até o andar de baixo para tomar café. Como sempre, mamãe ainda deixava tudo preparado.

— Finalmente, hein? Mocinha. - Disse ela enquanto passava a geleia de morango em uma fina fatia de pão.

— Não seja tão apressada, senhorita. Estava lutando contra meu cabelo durante todo esse tempo. - Falei me sentando.

— Você recebeu uma carta mais cedo, não quis abrir e ainda não descobri de quem era já que é diretamente para você, quero que leia e descubra por vontade própria. - Ela reforçou. — Está em cima do balcão.

— Sério? Desde quando essa privatização toda? - Perguntei surpresa, tirando a xícara da boca.

Anna sinalizou. — Desde que você cresceu, não é mais nenhuma criança que precisa de cuidados totalmente rígidos, moça.

— Poxa vida, finalmente em paz, não? - Sorri ironicamente. — Vou sair logo, quando voltar do trabalho eu leio. Não perca ela, tudo bem? Duvido que seja de grande importância.

— Tem certeza? E se for algo grave? E se for uma bomba na sua vida? - Questionou expressiva.

— Pare com isso! - Resmunguei balançando uma colher. — Você sabe como são as coisas hoje em dia. Internet, tecnologia e "blablabla". Tudo isso serviu e está caindo muito bem, até de mais. - Suspirei. — Não tenho tempo para blefes e piadinhas do fundamental.

— Me desculpe, senhora Giovana. Peço perdão por fazê-la ficar pressionada e curiosa devido á uma cartinha romântica totalmente anônima.

— ROMÂNTICA? - Gritei confusa. — Quero ler agora mesmo!

Ela riu. — É brincadeira, bobinha. Falei que não iria dar nem mesmo uma espiada.

— Engraçadinha, melhore com essas suas piadas bregas e cafonas.

Continuei tomando meu café enquanto aquela grande impressão curiosa me atormentava cada vez mais. Infelizmente, não era hora para perder tempo com trotes ou brincadeirinhas infantis. Eu precisava correr.


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