Com as pernas suspensas no ar, olhos fechados, boca contraída, e me tremendo mais que vara verde, antecipava uma dor agonizante.
Dor que não veio.
E quando, corajosamente, abri os olhos, Eric estava com o rosto tão perto do meu que era só um movimento em falso e nossas bocas se juntariam. Para o meu alívio, os caninos estavam retraídos, deixando o semblante dele mais relaxado; ou algo do tipo. Não era muito fácil identificar as reações naquela máscara mortuária branca que ele chamava de cara, não. A única pista que eu tinha eram os olhos que brilhavam como se o vampiro estivesse se divertindo.
E a risada vazia do vampiro explodiu, ecoando pela noite, subindo e descendo o peito em movimentos descontrolados. Fazendo eu choramingar mais ao sentir meu corpo sacolejar no mesmo ritmo da gargalhada sinistra dele.
Até que ele parou de rir e me soltou no chão com menos delicadeza do que havia pego.
—Merda, isso dói — resmunguei.
— Ops! — Eric deu uma boa agachada para ficar na minha altura caída no chão, a flexibilidade daquele corpo gigante me impressionou. — Foi mal. — Apoiou um dos cotovelos na coxa se aproximando de novo do meu rosto. — Eu gosto da sua coragem, Lara, mas eu recomendo que daqui pra frente você tenha um pouco mais de... consideração.
Revirei os olhos. Ele tava me pedindo consideração? Ele? Depois de tudo. Se eu não estivesse me sentindo tão mole e vazia talvez até percebesse a idiotice que era fazer aquilo, mas naquele momento eu estava pouco me importando com o que ele queria e murmurei:
— Minha bunda.
E só então me dei conta que ele me chamou pelo nome, mas como se eu não tinha falado? O encarei, pronta para perguntar, e ele riu de novo. E com a cabeça fez uma mesura, como se confirmasse algo.
Sinceramente, não entendi muito não.
— O que você é?— Parecia ser uma curiosidade verdadeira.
— Eu não sei, cara — atropelava-me toda com a voz rouca olhando para os sapatos manchados de sangue. — Senhor Eric... Northman. Não sei...Achei que você soubesse. Por isso eu vim. E para ser sincera eu nem me lembro de muita coisa da minha vida, não, só alguns fragmentos...e você...o senhor, tá neles.
— Eric. Pode me chamar só de Eric...então, você se lembra de mim... entendo. — Segurou entre o polegar e o indicador meu rosto ardido, me obrigando olhar nos olhos dele. — Sabe, Lara, aquela noite foi apenas um sonho terrível... um sonho do qual você não se lembra. De fato, você sofreu um acidente... um grave acidente de carro... com seus pais...
— O que você tá fazendo? — Fui envolvida em teias de aranhas e passei a mão em frente ao rosto para tirá-las. — Tá tentando me hipnotizar?
— Algo do tipo.
— Pra quê? Você é louco?...Espera, então, foi você quem apagou minhas memórias... por quê?
Eric não respondeu.
O silêncio da noite foi quebrado apenas pela minha respiração descompassada, e nem ele e nem eu desviamos o olhar. Senti de novo as teias, e as tirei.
Ele era insistente nessa coisa.
Eu estava certa desde o início, ele estava envolvido no que aconteceu comigo no passado, eu só não sabia o quanto e como fazê-lo cooperar. Precisava conquistar a simpatia daquela criatura, e insistir na pergunta que ele, claramente, se recusava a responder não era o caminho.
Foi estranho perceber que a única lâmpada que restou na rua oscilava e que, ainda assim, conseguia vê-lo perfeitamente. E por uma fração de segundo, o rosto pálido ganhou vida, os olhos frios, calor. Assim como havia acontecido no bar, o vampiro se transformava em alguém familiar, trazendo uma sensação assustadora de carinho, a resposta estava na ponta da língua. Eric se levantou, me puxando com ele e dissipando aquela imagem da minha mente.
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Das cinzas
FanfictionOs vampiros saíram dos caixões e estão vivendo em sociedade mesmo contra a vontade de alguns humanos. Ao completar 21 anos, com muita coragem e pouca noção, a amnésica Lara Doe chega em Shreveport atrás do único que ela acredita ter a chave para...