A TROCA

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Os cabelos de Acácia eram trançados com destrezas e cuidado, pérolas e contas de pedras semipreciosas coloridas eram entrelaçados entre os fios loiros acinzentados tingidos de preto.

— Minha Senhora, creio eu que a vossa ideia seja infortuna.

Pelo espelho, Acácia viu as rugas de preocupação entre os olhos verdes da criada.

— Não, não é... eu quero vê-los de perto. E hoje é perfeito.

— O Sumo Sacerdote, reparará nas diferenças; nossos olhos, Minha Senhora, o vosso é tão negro, não há como falseá-los.

— Pegue a máscara! — E a criada pegou uma de rosto inteiro, feita de ouro, apenas os olhos ficariam expostos — Não essa, a outra. A de fios.

— Minha Senhora...

— Hoje, tu és a Senhora, criança. A outra máscara chamará mais atenção, ele ficará preocupado e estará aos teus arredores. Com esta ele não suspeitará de nada.

Levantou-se e colocou a máscara no rosto da ama, os fios de ouro faziam uma cortina em seu rosto. Olhos mais atentos perceberiam a diferença, mas ninguém olhava atentamente para seu rosto há tempos.

— Minha Senhora, a senhora não usará vossos poderes para isso, não é? — Acácia sorriu, havia anos que não os usava e seria inocente, apenas para assegurar a boa sorte da ama, e a ama pareceu desfalecer. — Oh, que os céus nos perdoe.

— Minha amada criança, eu sinto a alma daquele estrangeiro clamar por mim. Eu preciso vê-lo de perto...

— Minha Senhora, mas eles são saqueadores, bárbaros, que propagam o caos onde aportam, eles vendem escravos. A Minha Senhora não pode, não deveria.

— O mundo lá fora não é benevolente como essa terra tendo sido para vós. Fora desta ilha, os humanos matam e escravizam uns aos outros. Aquele homem é tão cruel quanto qualquer um, Kynthia.

Enquanto Acácia caminhava por corredores longos, arqueados e cobertos por cortinas brancas; a sua frente, Kynthia seguia com o vestido de seda roxo e a máscara de fios dourados sobre o véu. Acácia usava túnica de seda branca simples e uma tiara que cobria parte do rosto. Tudo reluzia sob a luz das tochas, e antes de entrarem no grande salão, a ama sussurrou.

— Espero que valia a pena, Minha Senhora!

E todos no grande salão dourado com chão de marfim silenciaram suas vozes e fizeram reverências até Kynthia se sentar no trono de ouro talhado com imagens de fogo. Acácia ao seu lado, falava por Kynthia assim como Kynthia fazia por Acácia, a todos que chegavam perto, ora para agradecer, ora para adorar.

— Minha Senhora, estás deslumbrante! — O sumo sacerdote se aproximou de Kynthia, se ajoelhando. — Sou seu servo temente e adorador.

— Levanta-te, Petrakos! — A voz de Kynthia saiu vacilante ao pronunciar o nome dele. Acácia respirou fundo ao lado dela. Kynthia se ajeitou e completou: — És meu amigo e protetor, sabes que não aprecio esses afagos vindo de ti.

— Ao teu desejo, Minha Senhora. — Ele se levantou sorrindo, olhou para Acácia e disse:— Não vistes que Sua Senhora está com sede? Ande, vá buscar vinhos e queijos.

Acácia ergueu os braços chamando os outros servos e em pouco instantes a mesa foi posta à frente deles. Petrakos encheu duas taças e entregou uma para Kynthia, sentando à sua direita.

—Preciso ter a palavra com o Panayiotis, mas antes disso, os estrangeiros querem ter a palavra com a Minha Senhora, posso chamá-los?

— Por que precisas ter com ele a palavra, criança? — A ama encarnou bem a personagem. — Vás algo errado com a segurança desta terra?

— Não, Minha Senhora. E pela sua graças nunca estará, contudo, prudência nunca me é demasiada.

— Claro... chame os estrangeiros, e que sejam breves .

Era o momento que Acácia ansiava, ver de perto os estrangeiros que vieram de além mar, de terras frias, e aportaram em sua terra, com seus barcos estranhos. O líder deles se aproximou, alto, cabelos trançados loiros, olhos curiosos, e uma alma ambiciosa.

— Me chamo Leif, do Norte; agradeço Vossa hospitalidade — disse para Kynthia numa mistura de grego comum com outra língua que Acácia não identificava. — Essas são terras abundantes em beleza e riquezas. Seria um prazer fazer negócios com vós.

Acácia se aproximou de Kynthia e fingiu ouvi-la. Na verdade, sussurrou a ama o quão orgulhosa estava por ela ir tão bem, pedindo para ela não se preocupar, só aproveitar a noite. Acácia voltou à posição e encarou o homem.

— Leif, do Norte, hoje, tu és convidado, tu e toda sua tripulação, toda. Todo homem, mulher e criança são livres nesta terra. É o que diz Minha Senhora. — Ela levantou os braços e mais uma vez os servos vieram. — Dê de beber e comer aos que estão na praia. Espero... Minha Senhora espera vê-lo amanhã na primeira hora da tarde para tratar de negócios. 

Das cinzasOnde histórias criam vida. Descubra agora