9-PAÍS ÓRFÃO

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" Vida e eu envelhecendo

Eu sou um país órfão da minha casa

Oh, me pergunte porque eu fico

Eu digo que não conheço nenhum outro lugar

Mas meus parentes não podem me amar.

E o outros tem sede de sangue"

Orphan Country - Yola


—Claro que é — ri anasalado, balançando a foto. Eric olhou para mim do mesmo jeito que sempre olhava: como uma pedra de mármore branco. —Você não tá falando sério, né?

— Por que eu mentiria? — Por que você não mentiria? Foi minha resposta silenciosa. Ou não tão silenciosa já que ele emendou: — Eu não ganharia nada com isso, Lara.

Ele mentiu e mentiu e mentiu desde o início, e queria que eu acreditasse nele? Com os dedos trêmulos e sem olhar para o vampiro sentado em minha frente, recolhi os documentos, acenei a cabeça e me levantei. Eric era a mentira encarnada e eu não ficaria mais um minuto sequer perto dele.

Só que a cada passo que dava em direção a porta, o peso daquelas palavras desabavam sobre mim, e eu já não sabia se não era verdade, ou se eu queria que não fosse verdade. Minhas pernas pareciam feitas de chumbo e pena, eu respirava com dificuldade.

Ao tocar na maçaneta, minha mente turvou numa densa nuvem cinza, e ao longe, ouvi uma voz infantil. E sem forças para lutar me senti flutuar em direção à ela.

"— Papai, Papai!

Eu corri da minha mãe, parada da porta de casa, até meu pai. E ele me pegou no colo.

— Papai — continuei— , aquele homem que foi embora tem as cores feias... ele é mau. — Ele me soltou, e me olhou com tanta raiva e nojo, percebi no meu coração. — Às vezes, a suas cores é feia também, papai

E corri dele para minha mãe chorando.

E como se me afogasse, fui dragada por outra memória.

"Estava parada na soleira da varanda, segurando a coberta, gritando histericamente, apavorada ao assistir um corpo todo ensanguentado ser carregado pelo meu pai até o celeiro.

— Por que a mamãe não pode entrar em casa?

Corri pelo cascalho sob a brilhante lua cheia. Antes de alcançar o meu pai, fui suspensa no ar. Alguém me segurou no colo, tentando apaziguar meus gritos e esforços para sair do abraço.

— O que tem de errado com a cabeça dela, tio?

— Calma, coelhinho — disse meu tio, um jovem que parecia uma versão menor do meu pai, com uma cicatriz no olho esquerdo, mas as cores eram infinitamente mais bonitas. — Vamos pra casa que eu te explico.

—Você.. Você... — E meu pai banhado em sangue apontou a espingarda ainda quente na minha cabeça — Você matou a minha esposa."

E de novo a sensação de afundar, mais uma memória.

"Meu jeans estava úmido, o cheiro parecia urina, minhas mãos amarrada ardiam, e em posição fetal, jogada no chão de madeira fosca lutava contra as lágrimas

Das cinzasOnde histórias criam vida. Descubra agora