28-GOSTO DE MAÇÃ

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Eu estava no limiar da consciência, naquele tipo de sono que não parece real e sem sonhos, quando senti alguém me balançando. Resmunguei alguns palavrões junto ao pedido para me deixar sozinha. Bem ao fundo, ouvia alguém me chamar, mas foi fácil ignorar a voz. Algo naquela partezinha do meu cérebro parecia irritado. E de repente, senti-me flutuar.

— Merda! —grunhi quando toquei o fundo da banheira, cheia pela metade de água. — O que você tá fazendo?

—Que bom que acordou, precisamos conversar.

— Eu não quero conversar com você, Eric. Vai embora.

Tirei alguns fios molhados do rosto e ainda sonolenta encostei a bochecha na borda da banheira, ignorando o vampiro que estava agachado ao meu lado. Foi quando a água morna se tornou fria, e Eric jogou água na minha cara. Com raiva, bati meus braços na água, espirrando nele e no chão.

— Eu não vou limpar o seu banheiro, é melhor parar com isso.

— Tá preocupado com meu banheiro? Nossa, que tocante da sua parte. Grande consideração a sua. Pena que não teve a mesma comigo.

— Eu deixei você dormir por três noites, e dois dias. — Ele jogou mais água no meu rosto. — Mais um pouco, deixaria de ser consideração, seria descaso. E depois de tudo que estou passando para te manter viva, não posso simplesmente deixar você se matar assim.

Nem me dei o trabalho de responder, só queria que ele fosse embora. Ele ficou me encarando, sério. E bufei em cima dele.

— Seu hálito está péssimo, poderia derrubar um cavalo à distância.

— Não iria sentir se não estivesse aqui. — Ele jogou mais água.— Que merda, Eric. — E mais água. — Você é muito infantil, caramba. — Antes da quarta vez, aceitei a derrota. — Tá, tá, o que você quer?

— Termina o banho. — Ele mexeu na rolha da banheira fazendo escoar a água fria, depois abriu a torneira de água quente. — Depois conversamos.

— Termina você, não tô incomodada.

Eric ergueu uma sobrancelha e sua irritação me atravessou. Aquilo foi o suficiente para eu voltar à razão. Mas era tarde, com uma agilidade assombrosa, ele pegou a bucha e começou a esfregar meus braços.

— Tá bom, eu faço sozinha, pode deixar. — Tentava segurar a mão dele que puxava minha blusa encharcada. — É sério, não precisa.

— Você tem 5 minutos.

Assim que ele saiu, pulei da banheira e fui escovar os dentes. No espelho, reparei olheiras enormes e cabelos desgrenhados. Era um aspecto perfeito para combinar com a bagunça que estava na minha mente, com aquele vazio desolador que me envolvia junto ao bolo na garganta e parecia que nunca iria embora. Tirei as roupas encharcadas e terminei o banho.

— Fecha os olhos. — Sai do banheiro enrolada na toalha com os cabelos um pouco desembaraçados. Deitado em minha cama, ele me observava enquanto eu pegava uma muda de roupa limpa. — Pedir essas coisas para você é o mesmo que pedi para você fazer o contrário, né?

— Se sabe, por que pede?

Pelo espelho, mostrei a língua e ele sorriu. Ainda emburrada, voltava para o banheiro, minha vista escureceu e minhas pernas bambearem. Ele me pegou antes que eu caísse, e sem muito esforço me sentou na cama.

Com agilidade ele passou a blusa pela minha cabeça e me vestiu o short. Eu enrolei a toalha em meus cabelos ainda úmidos e bocejando me joguei sobre a cama em seguida. Se ele quisesse dar uma festa no meu apartamento, eu não ligaria; contanto que pudesse voltar a dormir.

Das cinzasOnde histórias criam vida. Descubra agora