27 -ROMEU E JULIETA

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Foram 72 horas bem difíceis de suportar e cada minuto que passava era mais desesperador. Lotei a caixa de mensagens de Taylor. Cheguei a ir em seu apartamento, mas o porteiro não me deixou passar, disse que ele estava fora. Eu só queria a chance de consertar tudo, seja lá qual fosse o problema.

No trabalho, as coisas só não estavam piores por ser domingo; menor fluxo, menor chance de erros, e, ainda assim, eu estava dispersa. O tempo todo eu pegava o celular, tinha acabado de verificar se tinha alguma mensagem. E nada. Nenhuma resposta.

Eric parou na minha frente, de braços cruzados.

— Desculpa! — Guardei o aparelho no bolso do avental. — Não vai se repetir.

Ele girou os calcanhares em direção ao escritório e com a cabeça me chamou. Fui andando atrás daquela montanha, tentando não me sentir tão pequena e torcendo para a bronca ser rápida. Sempre que eu entrava naquele cômodo, meus ouvidos pareciam entupidos por alguns instantes, já que a porta à prova de sons eliminava os ruídos de música e vozes do salão, deixando tudo muito quieto rapidamente, e eu me sentia um tanto quanto oprimida pelo silêncio.

— Eu sei que tô errada! Não precisa brigar ou descontar nada; não vou fazer de novo. E também vou prestar mais atenção no serviço! — Sentei na cadeira de frente a ele.

— Que bom que você sabe, me poupa o sermão. Não te chamei para isso.

— Não?!

— Não!

— Então...— E ficamos nos encarando. Desviei o olhar, vi alguns livros jogados no sofá e ao voltar meus olhos para ele, apontei as pilhas de livros com a cabeça. — Então?

— Como pode vê ainda pesquisando.

— Claro.

— Tudo o que sei de você não ajuda em nada a descobrir sua natureza. Diga-me: nada de estranho tem acontecido com você?

— O que mais tem acontecido são coisas estranhas, Eric...

Ele balançou a cabeça com um sorrisinho frouxo.

—Nenhuma mudança no seu corpo, como sair fogos pelas narinas ou criar asas.

Eu ri, mas ele pareceu sério.

— Você acha que isso é possível? — Ele deu de ombros. E alguns instantes pensando, conclui: — No momento, nada, mas eu não sei se você sabe, mas eu saro rápido.

— Reparei isso depois do incidente com George. Algo além disso?

— Não.

— Não? Certeza?

Assenti. Não queria contar para ele sobre minha sensitividade, principalmente depois que Sookie me alertou para não fazer. Com o silêncio que desceu, conclui que havíamos terminado. Já de pé, me virava para sair quando ele me alcançou, mas não me assustei com a velocidade com que ele saiu da cadeira. Acho que, enfim, estava me acostumando.

— O que aconteceu para você está triste assim?

Quase perguntei como ele sabia. E sorri amargurada. Eu tinha esquecido da ligação entre a gente

— A vida. — Ele me olhou de um jeito tão estranho, parecia sentir compaixão ou pena, aquilo me irritou. — Precisa de mim para algo mais?

— Somente isso.

Sai do trabalho, e ao ligar para Taylor a mensagem era " esse número de telefone não existe" e aquilo doeu muito. Eu precisava entender o que tinha acontecido. Decidi ir na casa de Miguel, precisava de alguém para desabafar e talvez ele soubesse algo sobre Taylor. Só me dei conta que passavam das 2 da manhã no meio do caminho e voltei para casa. Conviver com vampiros fazia eu esquecer que as pessoas dormiam à noite e viviam ao dia.

Das cinzasOnde histórias criam vida. Descubra agora