23- DEIXÁ-LO DO LADO DE FORA

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Era fim de expediente, uma noite sofrida de quarta, eu estava exausta e esse nem era o dia de maior movimento e nem o de melhores gorjetas, não via a hora de chegar em casa e pegar aquele maldito livro; dois dias, e nada. Nenhuma frasezinha. Talvez, Eric só estivesse tirando sarro da minha cara.

Já com Miguel, aprendi um bocado sobre como funcionavam as relações entre os sobrenaturais e percebi que um : havia um acordo tácito de respeito mútuo entre os sobrenaturais, algo como "resolva os seus problemas sem afetar os outros, que tudo fica bem". Dois: vampiros eram uma espécie de relações públicas dos sobrenaturais com os humanos, uma forma de medir a aceitação das pessoas a existência deles, três: vampiros eram odiados no mesmo nível que eram respeitados. Talvez a palavra mais correta fosse: tolerados, contudo, apesar de ter diferença entre as duas, não acho que os vampiros se importassem com ela.

Também descobri uma ou duas coisas sobre os Kappas, não era muito, mas o suficiente para saber que o que aconteceu no cassino não saiu barato para o Eric, o que me levava a acreditar que ele, o vampiro mais irritante que conheci, estava jogando comigo sobre a maldição. Não havia outro motivo para ele se arriscar tanto para me salvar se não fosse aquele.

Minha curiosidade estava a mil, mas eu teria que guardá-la para outra hora, Eric estava no estacionamento encostado na frente do meu carro.

— Vem comigo.

Ele disse quando cheguei mais perto, e o acompanhei até o corvette. Sentei no banco do carona, afivelei o cinto e fiz uma oração aos céus para que ele, dessa vez, dirigisse com prudência, estava cansada demais para me preocupar com um acidente de trânsito.

— Você está bem? — ele perguntou antes de dar a partida.

— Sim, sim, só estou implorando pela minha vida à primeira divindade disponível.

— Eu sou um bom motorista! — Ri anasalado. — Nunca estive em acidentes, talvez eu tenha algumas multas, mas só, se você quer saber.

— Mas multas por ultrapassar o limite de velocidade não é, necessariamente, o que faz um motorista ser ruim?

— Detalhes. — E saiu com o carro, deixando o vento balançar os fios loiros e sedosos dele no rosto. — Você é muito careta, deveria se soltar mais.

— Pra onde tá me levando? — Tirava do rosto alguns fios que escaparam do meu rabo de cavalo

— Já vai descobrir.

Balancei a cabeça resignada, depois fechei meus olhos e estiquei meus braços para frente, estalando os dedos para aliviar a tensão.

— Na noite do cassino, o que você prometeu para os kappas em troca da minha vida? — Eric olhou para mim, depois voltou os olhos para a estrada ficando em silêncio. —Ok, entendi, mais uma coisa que você vai me contar, se contar, quando for a hora.

— Algo. — Enruguei para ele a testa, preferia o silêncio a uma resposta tão idiota assim. — Dei minha palavra para um favor futuro.

— Só isso?

— Acha pouco Eric Northman te dever um favor?

— Não foi isso que eu quis dizer. — Girei os olhos. — Então você só chegou e disse" te devo uma" e eles deixaram eu ir com você?

— Confia em mim, Lara?

— Não.

— Os kappas também não. Assinamos um contrato.

— Ainda não entendo como um pedaço de papel obrigaria a você fazer alguma coisa, mas se os kappas aceitaram isso, talvez, eles não sejam tão espertos assim.

Das cinzasOnde histórias criam vida. Descubra agora