5 minutos de olhos fechados concentrada. Esse foi o tempo da terceira e última tentativa. Suspirei fundo ao levantar do banco que haviam me oferecido para sentar. Todos estavam decepcionados comigo, exceto o vampiro. Seu rosto como sempre não dizia nada, mas eu sentia sua preocupação.
— Preciso falar com ela a sós — Eric disse para o líder dos lobis. E fomos escoltados para fora do galpão, deixados em um local longe o suficiente para termos privacidade e perto para que ficássemos sob suas vistas. — O que está acontecendo?
— Não sei. Desde dos atentados... naquela noite eu senti tudo. E agora não sinto nada. A gente tá fudido... eu to fudida.
— Sei que está com medo. Mas confia em mim, você vai conseguir.
— Como sabe? Como tem tanta certeza sobre isso, mas não tem sobre a gente? Da boca pra fora sou sua amada, noiva... eu sei que tem um motivo oculto para você me chamar assim, mas é só... artimanhas? Ou você realmente sente isso?
De todos os momentos, escolhi o pior para deixar aflorar minhas inseguranças. E a raiva e frustração dele não melhoravam meu humor. E eu queria muito sair correndo dali, pois a minha salvação dependia só de mim, e eu iria falhar. Meu peito ardeu. Literalmente. Puxei debaixo da minha blusa de manga comprida meu pingente e ele brilhava e pulsava. E por mais que ardesse, o ardor saía das minhas mãos percorrendo todo meu corpo como se estivesse em minhas veias, não era de todo ruim. Era familiar. Meus olhos encontraram os olhos do vampiro. Ele não tirava os olhos do meu pingente, e um calafrio percorreu meu corpo com intensidade daquele olhar.
— Eric... Eric! O que foi?
Guardei a joia dentro da roupa, e como quem desperta, ele apenas disse:
— Nada. Você pode voltar e tentar de novo?
— Você vem comigo?
Ele assentiu, mas não saiu do lugar.
— Só preciso de um tempo.
Voltei para dentro do galpão, e fui em direção a menina. Sentei de novo e segurei a mão dela. Não pensei no que aquela brasa pulsante sobre o meu peito significava, apenas deixei fluir e gradativamente a sensitividade se fez presente. E a primeira coisa que captei foi o medo. E ele era tão forte e afiado, como adagas geladas no meu coração. Não lutei contra ele, o tomei todo para mim. E ela abriu os olhos para fechá-los em seguida. Quando me ajeitei no banco, para relaxar, encostei a cabeça no tronco do vampiro. Ele tinha se colocado atrás de mim sem eu perceber sua aproximação.
— Consegui .— Tudo o que emiti foi sussurro fraco. Era madrugada quando alcancei enfim a aura da vítima, meu esforço foi tanto que até suava apesar do inverno. — As memórias dela estão "sujas" pelas emoções. — Não tive palavras melhores para explicar. — Não me peçam para falar cor de roupa ou pele, cabelo. Tudo é amarelo, ok?
— Por que amarelo? — alguém perguntou.
— Medo. Ela é sobre, a aura deveria ressoar em vermelho, como todos vocês, mas o medo é tão forte que ... vou começar.
Ler a aura de um sobre sempre foi muito difícil e dessa vez estava pior. Não havia um fluxo constante, era tudo fragmentos de memórias que a impactou, um dia que se perdeu da mãe, cair e ralar o joelhos, a primeira decepção amorosa, até algo importante ser revelado:
— Gêmeas!? Elas eram gêmeas. As duas foram levadas... é escuro, frio. Água! Perto do rio. O medo é palpável. " Você não ouve, Marina, me chamando?" disse a mais velha antes delas serem levadas...
E nada. Não havia mais memórias. Não havia mais nada. E dela ecoou bem baixinho aquela melodia melancólica, mas parecia o eco de um eco. E ela me chamava . Num pulo, larguei a mão da garota e desabotoei a parte de cima do pijama e toquei em seu peito. E o coração dela era uma densa camada escura, mimetizando a vida. Marina abriu os olhos, agarrou minha mão me puxando até a altura do seus lábios e sussurrou:
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Das cinzas
FanfictionOs vampiros saíram dos caixões e estão vivendo em sociedade mesmo contra a vontade de alguns humanos. Ao completar 21 anos, com muita coragem e pouca noção, a amnésica Lara Doe chega em Shreveport atrás do único que ela acredita ter a chave para...