32 O FOSSO

96 11 2
                                    


Esperei pelo vampiro no meu quarto. E toda hora, eu me olhava no espelho admirando o trabalho feito no salão: os cabelos estavam escovados e finalizados com babyliss, jogado de lado, minhas unhas e maquiagem em tons de dourado. Estava empolgada como se fosse o baile de formatura que eu não tive.

Quando me formei, não fui ao baile, se não era para pedir coisas, as pessoas não pareciam confortáveis comigo, e ninguém me convidou também. Nem Cíntia.

Mas com aquele vestido fiquei fantasiado com aquela noite não vivida, desfrutando da sensação de ver o assombro na cara das pessoas quando eu entrasse com o Eric. Apesar dele não ser a primeira escolha, essa, desde que passei a sonhar com aquele homem, sempre foi o homem dos meus sonhos, e nem a segunda, para ser sincera. Ainda assim, era uma ótima escolha, e ele deixaria muitas garotas, e garotos, babando. E outras pessoas bem nervosas com medo.

Às 8h da noite, ele bateu na minha porta, com o rosto levemente corado e usando calça social e o blazer por cima de uma camisa. Todo de preto, embaladinho para presente. Eric me olhou de cima a baixo, não comentou nada, só se aproximou e farejou o ar ao meu redor.

— Seu cheiro está diferente, o que andou fazendo?

— Diferente ruim ou diferente bom? — perguntei conferindo se o desodorante estava funcionando.

— Diferente. — Ele fungou mais um pouco, e por fim cheirou meu pescoço. — É...é fraco, mas você cheira a magia, esteve com bruxas hoje?

Aquilo explicava algumas coisas, as bruxas eram capazes de camuflar a própria essência com encantamentos. Li sobre isso naquele livro que Eric havia me emprestado. Respirei fundo e resumi o incidente com Darya. Ele ficou parado me ouvindo rígido, sem piscar e respirar, como se fosse uma estátua. Nesses momentos, era impossível não notar o que ele era.

— E foi só isso? — ele continuou. — Você não deu mais detalhes, ou falou o que estávamos fazendo aqui?

— Não, só falei coisas bobas. E não deu tempo dela fazer perguntas mais específicas. Acho que ela tentou ir com calma e isso foi a minha sorte porque eu ...

— Estava soltinha, né? — Ele perguntou, e senti no fundo da minha mente, uma leve irritação. — Me diz exatamente, palavra por palavra, o que disse. — E dessa vez, eu contei todos os detalhes do que foi falado. — Tem certeza que foi só isso? — balancei a cabeça confirmando — Ok. Vamos.

Mas se as bruxas me bloquearam, ponderei ao fechar a porta do quarto, era porque suspeitavam que eu fosse capaz de lê-las, ou elas só fizeram por precaução? Pensei em questionar Eric sobre a minha dúvida, mas cheguei a conclusão que uma coisa não anulava a outra. Entramos no elevador em silêncio, e pelo espelho notei o vampiro me olhando.

— O que foi? — Virei-me para encará-lo.

— Nada.

Ele sorriu daquele jeito de quem tá escondendo algo.

— Ah, não! Tem alguma coisa, me fala. — Ele olhou de cima a baixo de novo e sorriu. — Que foi?

— Nada.

Respirei fundo tentando controlar minha perna ansiosa batendo contra o piso com irritação. Ao passarmos pelo o saguão, a recepcionista o chamou e ele mandou eu falar com ela.

— Houve um problema com a cobrança de um serviço prestado para o quarto 404, é preciso refazê-la. — A mulher, claramente decepcionada por falar comigo, me mostrou o extrato, retirei o cartão de crédito da bolsa e paguei o serviço de doação de sangue. — O senhor Viklund tem gostado do serviço?

Das cinzasOnde histórias criam vida. Descubra agora