24- VOCÊ ESTÁ PERDIDA, GAROTINHA

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Você está perdida, garotinha

Você está perdida, garotinha

Você está perdida

Me diga quem

É você

The Doors— You're Lost Little Girl


A sequência de ações desde levantar do sofá até chegar ao banco do carona eram apenas borrões e ruídos em minha cabeça. Sookie caída no canto da sala, a sua voz ecoando, me falando que não poderia me ajudar parecia um looping gravado para sempre. Olhei para o motorista, a sensação violenta de impotência me fez tremer da cabeça aos pés.

— Você sabia que ela não conseguiria? —Minha voz saiu por entre os dentes.

— Eu suspeitava que houvesse alguma barreira mental.

— Então, você sabia.

— Lara...

— Poderia ter sido muito mais grave que um corte na testa, eu poderia ter matado ela, e você sabia dessa possibilidade e deixou que a gente corresse esse risco.

— Era uma suspeita.

— E você me testou! — gritei. — Para esse maldito carro! Anda, me deixa sair daqui!

Ele me ignorou e continuou dirigindo com sua costumeira imprudência.

— Eric, para esse carro ou eu vou me jogar!

Não era um blefe. Se eu não morresse na queda, no outro dia estaria bem. Desafivelei o cinto e abri a porta. Numa freada que projetou meu corpo para frente, o carro parou. No mesmo pique saltei, e caminhei pela rodovia semideserta e escura.

Com passos rápidos, andava pelo asfalto negro, ignorando Eric me pedindo para voltar. O frescor da madrugada havia caído, contudo meu corpo estava quente. Sentia tudo ao meu redor fervendo e, literalmente, eu via tudo em vermelho. Olhei para minhas mãos, vermelhas flamejantes, e deduzi que via minha aura preenchida de ira.

Não sei por quanto tempo andei, dispersando aquela energia que eu sabia, no meu âmago, que era destruidora, até ver o corvette ao meu lado, pela primeira vez, em baixa velocidade.

— São 22 milhas até em casa, entra no carro, Lara. — Olhei para a floresta, ao redor, e me perguntei se seria uma boa ideia entrar nela. — Anda, eu não tenho mais tempo para sua gracinha, entra no carro.

Continuei andando, com a raiva que fervia em mim, poderia facilmente caminhar por 3 horas ou mais. Até preferia, precisava desse tempo para não me arrepender do que poderia fazer se ficasse perto dele.

Ele deu um arrancão com o carro e sumiu no horizonte. Diminui os passos e respirei aliviada. E assim que dei conta que não sabia o caminho de volta, me curvei colocando as mãos no joelho, gritando com o nada. As humilhações daquela noite não tinha fim, deixei a minha mochila com o celular e dinheiro dentro do carro. Gritei, e gritei até silenciar todas aquelas vozes, minhas vozes, me culpando por ser burra.

Um pouco mais rouca, voltei a caminhar, não demorou muito até eu virar uma curva e dar de cara com Eric, encostado na lateral do automóvel, com os braços cruzados. Passei por ele, com meu nariz em pé. Um pouco mais adiante, com o resto da minha dignidade, dei meia volta, e parei na frente dele, numa tentativa de alcançar minha mochila no assoalho.

Das cinzasOnde histórias criam vida. Descubra agora