26-COMO FACAS

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Suas palavras são como facas

Elas descascam minha pele e perfuram minha alma

E eu culparei a mim mesmo

Por defender o que eu esperei que te mantivesse ao meu lado

City and Colour— Like knives


Sonhar com Acácia era como acompanhar uma novela em que a protagonista mimada colocava tudo a perder por puro egoísmo e um macho gostoso. Infelizmente, eu não conseguia mudar de canal ou mudar os episódios, que quase sempre eram reprises em ordem aleatória, e nem sempre eram bons. O que me restava era esperar para ver onde isso me levaria.

E esperar era o lema da minha vida. Nas últimas semanas, eu esperava os dias passarem e, às vezes, eram rápidos, principalmente quando estava com Taylor, outros demorados. Esperava que eu e Taylor conseguíssemos resolver nosso único problema, que naquela altura eu já nem achava mais um problema: o sexo.

Desde que eu expliquei para ele como me sentia, meu namorado fazia muito esforço para me deixar confortável. E no começo, devo confessar, foi fofo. Sempre que as coisas esquentavam, ele perguntava se eu estava bem, se eu estava na minha onda, e não na dele.

— Não é tão ruim assim; se você ficar quebrando o clima toda vez, não vai ter onda pra eu curtir.

— Eu sei, eu só não quero ser... invasivo.

—Bonitão, você sabe que sou eu a coisa invasiva aqui, certo? Eu tenho que te pedir desculpas, não você!

Mas não adiantou muito, porque mesmo se ele não falasse, eu conseguia sentir toda aquela insegurança quando nos tocávamos. E tudo piorou quando confessei que já conseguia controlar minha sensibilidade extra, que era como chamávamos meus dons, no dia a dia, mas em momentos muito confusos, agitados ou intensos, como no sexo, eu pedia o domínio daquilo.

— Sabe? — ele disse na semana passada, antes de voltar para Jackson. —A gente não precisa transar sempre, podemos ir com calma, tentar devagar se encaixar; não acha?

— Acho que a perfeição vem com a prática.

Mesmo não querendo, já que mesmo só sentindo as emoções dele ainda era bom, concordei com a proposta. Sabia que ele precisava de mais tempo para se ajustar à nossa realidade.

No trabalho, o marasmo era substituído por alguns momentos angustiantes, como quando Cintia voltou a frequentar o bar com o Devon, o vampiro com quem ela vivia. E para minha surpresa, Devon era até simpático, para um vampiro, e não ficava olhando para o meu corpo. Na verdade, ele não olhava para nada ali, parecia entediado o tempo todo.

— Foi mal... pelo outro dia... — ela disse quando o vampiro se afastou para cumprimentar meu chefe. — Eu tava um pouco triste, me sentindo sozinha. Enfim... A gente não precisa ficar de cara feia uma pra outra, né? Não o tempo todo, você não acha?

Apesar de torto, era um pedido sincero de desculpas.

— Como se sua cara pudesse ser feia também. E nem a minha — sorri para ela. — Por mim, tudo bem; só não espere que seja tudo igual.

— Eu não espero, só não quero alimentar ressentimentos e mágoas... Tive um sonho esses dias... foi estranho, mas sinto que a gente é ... enfim. Vamos nos perdoar, tudo bem?

Das cinzasOnde histórias criam vida. Descubra agora