38- OS VINTE UM

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Desde do Halloween que Eric e eu parecíamos estar em lua de mel. Todas as noites, quando ele não vinha comigo para casa, ele aparecia um pouco depois, e se não estávamos fazendo sexo primitivo e apaixonado, estávamos fazendo sexo preguiçoso e manhoso. Certa madrugada, descansando a cabeça em seu peito morno, meus dedos brincavam com seus pelos e cicatrizes enquanto as mão dele corria pelas minhas costas, pela primeira vez, conversamos sobre aquele assunto que pairava sobre nossas cabeças.

— Sei que isso. — Ergui minha cabeça e apontei para nós dois. — Só tá rolando porque você vê em mim outra pessoa, mas eu não sou Acácia. Você sabe disso, não sabe?

— Isso só é, em partes, verdade; mas você também vê em mim outra pessoa, só que eu não me importo. Gosto de estar aqui, no presente, no agora, seja quem você for. — Ele me jogou uma piscadela.

— Seja quem eu for? — Dei um tapinha na barriga dele, e ouvi um risinho ecoando no seu peito oco. — Esperava ser um pouquinho, só um pouquinho, importante para você...

— Falsa modéstia não combina com você.

—Eu sei que você se importa comigo, do seu jeito, mas queria que fosse por mim, não por um eco do passado. — Fiz um beicinho para ele e deitei de novo a cabeça em seu peito. Então, levantei de novo. — Como assim eu vejo em você outra pessoa?

Eric ficou em silêncio me encarando por um tempo, acho que ponderando se minha pergunta era genuína ou só charme, e por fim falou:

— Você, Lara, eu aprecio...muito. Muito mesmo. E é por... — ele deu uma pausa profunda, como se fosse falar alguma coisa diferente do que disse a seguir: — E mesmo não querendo se vê dessa forma, você é Acácia, Acácia é você; vocês carregam a mesma essência, a mesma alma, se assim você preferir enxergar. Eu, por outro lado, não sou o mesmo homem que Acácia conheceu...

— Claro que é, Eric — o interrompi, e logo me desculpei por isso e continuei: — mas, você é exatamente o mesmo homem. É até vergonhoso o quanto demorou para eu perceber isso.

— Eu sequer sou um homem. Sou um vampiro.

Aquelas poucas palavras, me fizeram entender que assim como estava certa, ele também estava. Nos dois buscávamos um no outro algo que não encontraríamos. Eu queria o homem dos meus sonhos, e ele a deidade do seu passado. Eu poderia me ressentir por isso, ou apenas aproveitar o momento, como ele fazia. Preferi correr por um caminho diferente.

— Prazer. — Levantei-me do seu colo erguendo minha mão para ele. — Eu sou Lara, apenas Lara. Até onde sei sou uma humana singular e completamente ferrada da cabeça, parte culpa sua, e estou aqui e quero te conhecer, vampiro. Provando que minha cabeça não tá no lugar.

Por um tempo, até um pouco constrangedor, fiquei com a mão estendida para ele enquanto ele me encarava com a sobrancelha erguida. E riu ao pegar na minha mão.

— Eric Northman, vampiro. Sou tudo o que a palavra sugere, e de agora até antes do sol nascer te farei minha. — Ele me puxou para um beijo, bagunçado mais meu cabelos e todas as minhas certezas.

— Lara, viu o jornal essa tarde? — Ginger parecia num misto de prazer e terror com o que iria me contar: — Levaram o coração das pobrezinhas. Você viu? Você precisa tomar cuidado...

— Você tá falando do caso dos 21? — Ginger assentiu para Belinda que entrou na conversa enquanto abastecíamos nossas bandejas. — Tão jovens, né? É verdade, Lara, você precisa ficar atenta.

— Gente, do quê vocês tão falando? Eu não vejo jornal, nem tenho tv em casa.

— Menina, você não tá sabendo mesmo? Parece que tem um assassino em série à solta. Shreveport está cada vez mais violenta. — Belinha pegou a bandeja e antes de sair, completou: — Capaz de colocarem a culpa nos vampiros.

Das cinzasOnde histórias criam vida. Descubra agora