30- LÓTUS AZUL

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Acordei no meio da noite com uma sensação angustiante de ser observada, caçada. Ao olhar para a cortina do quarto balançando com o vento, o frio do outono cobriu minha pele e tremi. Olhei para o vão da porta do banheiro e vi um vulto. E aqueles segundos de medo paralisante percorreu meu corpo. Passado o susto, acendi o abajur, era só a sombra, e corri para fechar porta e janelas me perguntando se era coisa da minha cabeça ou alguém, ou algum ser, esteve em meu quarto enquanto eu dormia.

Segundo o relógio, passava das 3 da manhã, olhei para o teto tentando visualizar a presença do vampiro no quarto acima. Será que teria sido Eric? E se fosse porque ele teria invadido meu quarto? E se não fosse? Quem teria sido? Talvez os lobisomens, talvez Fredrick! E ri de mim mesma. Provavelmente não tinha sido ninguém. Voltei a deitar, mas a mente trabalhava trazendo todos os medos e traumas, guardados no fundo da mente, para a superfície; uma coisa levou a outra e quando dei por mim já estava no elevador em direção ao quarto andar.

Parei na porta do quarto do vampiro, balancei a cabeça em negação, dei meia volta para elevador, e na metade do caminho, mudei de ideia e fui até a porta de novo. E dessa vez, a porta abriu antes que eu pudesse decidir o que fazer.

— O que quer? — Eric disse usando um roupão.

— Humm, atrapalho alguma coisa?— Espichei a cabeça para dentro do quarto. Eric abriu mais a porta mostrando que estava sozinho. — É que eu quero falar com você sobre amanhã: preciso lavar o carro de novo ou só abastecer? Tem alguma outra coisa que você queira que eu faça com sua assistente? Alguma conta para pagar...

Eric aguçou os olhos sobre mim e minha voz foi sumindo, vi um sorriso de lado antes dele se virar em direção ao interior do quarto me deixando na soleira da porta.

— Vai ficar aí a noite toda? Entra.

Fechei a porta atrás de mim e quando olhei em direção a cama, ele estava abrindo o roupão.

— Ô Eric, o q-que você tá fazendo?!

— Me preparando para deitar... — Ele tirou o roupão, virei o rosto antes de ver qualquer coisa, mas tinha certeza que ele estava nu. — Você é muito pudica, Lara. Um corpo é só um corpo.

— É e um rio é só um rio e, ainda assim, muita gente morre afogada. Você já tá decente?

Ouvi barulho na cama e virei. E ele estava com as costas apoiada na cabeceira, a colcha branca, tão branca como a própria pele dele, o cobria até metade da cintura deixando a mostra uma trilha de pêlos loiros que levava a um lugar que eu não queria imaginar, mas imaginei. Os braços cruzados atrás da cabeça e um olhar no mínimo malicioso. O que eu fui fazer ali, meu pai?

—Senta! você não vai crescer mais. — Sentei bem na pontinha da cama, bem longe dele. — Nessa gaveta, tem papel e caneta. Vou precisar que anote algumas coisas. — Ele apontou com a cabeça a mesinha de cabeceira próxima a mim. Quando estava com as duas coisas na mão, ele começou a ditar: — Tarefa um: "não enrolar o vampiro só porque estou com medo" — Olhei para ele de cara feia com metade da frase escrita, ele riu e continuou: — Anotou? Agora me conta, foi outro pesadelo?

Quase perguntei como ele sabia dos meus pesadelos, mas a resposta era óbvia: o vínculo.

— Só uma sensação ruim: como se tivesse alguém no quarto. Mas não tinha ninguém; acho.

— Quer que eu dê uma olhada, veja se não tem um bicho papão debaixo da sua cama?

— Oh, você faria isso; que cavalheiro — disse irônica —não precisa, é só que... minha mente é pior que o bicho papão.

Das cinzasOnde histórias criam vida. Descubra agora