"Devo admitir, Eu não posso explicar
Qualquer um destes pensamentos correndo pelo meu cérebro.
É verdade, Baby, eu estou uivando por você
Howlin'for you— The Black Keys
Aquela foi uma noite atípica no bar.
A quantidade de vampiros sobrepujaram a quantidade de humanos e meu pescoço fervia com aquela coisa que parecia uma companhia avisando sempre que um deles entrava. Toda essa agitação parecia muito suspeita dado o que aconteceu na noite anterior. (Um vampiro morto por outro vampiro.) E por mais que odiasse aquilo ao menos serviu para me distrair dos pensamentos torturantes.
E eles eram muitos, e insistentes. Era ficar parada que logo vinha a imagem do corpo da minha mãe ou do olhar de Nabal cheio de ódio. A maldita culpa.
Então trabalhei como uma maníaca, ninguém da minha seção ficou de copo vazio, ou teve que esperar muito para ser atendido, me dediquei tanto aos clientes, principalmente os não humanos, que até recebi gorjetas mais generosas.
Foi só no fim da noite que estranhei não ter visto, ou sentido, Eric uma única vez.
O fato dele ter ficado ausente alguns dias antes ajudou para eu demorar a perceber sua falta, mas aquele tanto de vampiro que ficou andando de um lado pro outro, observando o funcionamento do bar pareceu algo mais, talvez eles fossem do tal conselho que Eric falou que daria conta. Se era um blefe, ou não, não fazia ideia; só que agradecia por ser problema dele, não meu.
Olhei para o relógio do depósito, 2h em ponto da madrugada. Tínhamos colocado as cadeiras em cima das mesas e limpado todo o salão em tempo recorde, meu estado de espírito atribulado, mais uma vez, serviu para alguma coisa além de me deixar com vontade de sentar e chorar a cada minuto.
— Vou chegar em casa a tempo de conseguir assistir um filme. — Ginger pegava as coisas dela. — Tomar um vinho, me divertir sozinha, se é que vocês me entendem.
— Só quero bater na cama e dormir. Amanhã levanto cedo para botar meu filho pra escola. — Belinda prendeu os cabelos, e sorriu para mim. — Que bicho te mordeu hoje?
— Nada. — Troquei a camiseta preta pela branca me certificando de esconder bem o meu pingente, principalmente, a parte da prata abaixo da gola canoa. — Acho que só tava afim de trabalhar mesmo. Manter a mente ocupada...
— Problemas com homens? — Ginger perguntou.
— Ou mulheres? — Belinda emendou.
Sem saber o que responder sorri para elas, que não insistiram no assunto, se despediram me deixando sozinha guardando com cuidado o uniforme improvisado na mochila.
Fui até o escritório de Eric. Bati na porta duas vezes, na terceira mexi na maçaneta que se moveu facilmente deixando a mostra o cômodo iluminado pela luminária em cima da mesa. E bem abaixo dela estava a pasta amarela.
Suspirei forte.
Aquele lugar foi, nas últimas 24h, cenário de uma morte grotesca e da decepção que amargurou meu coração. Mas assim como o barman havia sido substituído, o carpete chamuscado também havia sido. Talvez, eu devesse aprender algo com os vampiros, e deixar de me sentir miserável por coisas que fugiam do meu controle era o começo. Peguei a pasta, a coloquei na mochila, desliguei a luminária e fui em direção a saída do bar. Ainda pensando em toda merda que envolvia meu passado.
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Das cinzas
FanfictionOs vampiros saíram dos caixões e estão vivendo em sociedade mesmo contra a vontade de alguns humanos. Ao completar 21 anos, com muita coragem e pouca noção, a amnésica Lara Doe chega em Shreveport atrás do único que ela acredita ter a chave para...