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ANÚBIS

No dia seguinte, eu ajeito o Zé no meu ombro, sentindo ele tirar o meu boné e colocar nele, ergo meu olhar para cima, em sua direção. Troco o copo de mão, fecho meu punho direito e inclino aproximando do seu, ele aproxima o dele e faz o toque comigo sorrindo, meu de fé.

Júlia: Calma, Guto, você vai me derrubar desse jeito - desço do meio fio do meu quintal, vendo minha irmã em cima do skate azul, com os dois braços pendurado em volta do pescoço do Argentino, enquanto ele ri da cara que ela faz.

Argentino: Desse jeito não vai ter como eu ensinar a parada pra você, meu trevinho - levo o copo transparente de whisky até a boca e dou um gole - tá me arranhando pra caralho, vai ficar marcado e seu irmão vai pensar que eu tô traindo ele - ergo o dedo médio em sua direção, escutando a risada de vagabundo que ele da.

Júlia: Desculpa, eu tenho medo de cair e ralar o joelho - ela fala rindo.

Sinto o líquido gélido do whisky molhar minha garganta ao mesmo tempo que foco minha atenção na entrada da minha casa, Di'Raça passa pelo portão ajeitando o fuzil no ombro com um cigarro pendurado por entre os lábios, em seguida, um Volvo prata atravessa o portão, entrando aqui no quintal.

Júlia: Eu vou embora antes de anoitecer, só vim pra cá pra da um beijo no meu irmão e trazer os convites do casamento da minha vó - ouço sua voz atrás de mim e me aproximo do carro, afasto o copo da minha boca e seguro pela borda e quem tá no volante desce o vidro da janela me encarando de dentro do veículo.

Argentino: Vamo ser padrinhos juntos, já sabe o que vamos da pra sua vó? Eu tô pensando em da uma coleção de acessórios eróticos pra apimentar a relação sexual deles - travo meu maxilar franzido meu rosto, essa parada de casamento tá toda errada, o único homem da minha avó foi o meu avô, o papo é um só.

Bagdá: Cheguei, toddynho - fala, estacionando o carro entre o meu e do Argentino.

Niara: Oi, Anúbis - inclino minha cabeça para baixo, olhando a preta do lado do meu irmão, sentada no passageiro e sorrio.

Anúbis: Tá suave nêga? - pergunto, me aproximando do carro - demorou ein - sinto o Zé puxar minha orelha e descer pelas minhas costas, correndo atrás do Argentino.

Argentino: O pai tá ocupado, cadê a cachorra da sua mãe? Fica postando foto sua nos status, mas quem cuida sou eu, né não? - dou risada escutando a risada da Júlia chegando aqui, enquanto ela chama o Argentino de louco.

Bagdá: Foi a Niara, fez eu ir atrás dela pra comprar o presente pra sua vó - ele fala, erguendo a mão direita pra fora da janela, pra pegar na minha, eu passo a minha mão no pano da bermuda, tirando o suor do copo e estendo em sua direção - vi os brinquedinhos novos que tu comprou, tá ricão né safado? - sorrio, sentindo ele apertar a minha mão e virar pra dá um beijo.

Niara: Tô bem, e você? - pergunta pra mim e eu apenas balanço minha cabeça em concordância - é óbvio, não é todos os dias que você vai se casar - minha cunhada fala e abre a porta do passageiro, descendo do carro.

Anúbis: Tô nada, sempre é bom ter - inclino minha coluna para cima, sentindo meus ossos estralar.

Argentino: Tá tão gostoso que tá ficando crocante - a risada do Bagdá entra pela minha audição e eu dou a volta pelo quintal rindo. Argentino é foda, tem tempo ruim pra esse vadio não.

Bagdá: Ele entrou como desconhecido - ouço o barulho do alarme do carro travando e subo na calçada - Argentino trouxe ele pra cá depois que tu saiu de lá, como ele é cria daqui foi rápido pra desenrolar uma ficha pra ele - tiro meu celular do suporte preso da minha cintura segurando na mesma mão que o copo - demorando mais um pouquinho e ele morria, irmão.

Anúbis: Visão - puxo um banquinho e sento te olhando - eu sinto que esse fudido vai me da um problema do caralho. Igual a mulher do Pirata - falo, deixando o celular em cima da minha perna - vontade de voltar lá e terminar de matar - Bagdá afasta a tampa branca da caixa de isopor e tira um latão de cerva de dentro, sentando do meu lado.

Bagdá: Brother, eu não entendi porra nenhuma naquela hora lá - gesticula balançando a cabeça pro lado oposto - mas tu acha que essa parada vai da caô lá na Penha ou pra cá? - pergunta, rompendo o lacre da cerva com o polegar - do jeito que é fraco ele morre antes de três meses.

Anúbis: Não sei, não - viro a tela do meu celular - Pirata tá comigo tem tempo, tu sabe, mas a mina dele não me desce - sinto meu celular vibrar e no visor aparece o nome da pimentinha.

Bagdá: Tenho nada contra é amiga da minha mulher, não minha, mas em todo caso sempre é bom tá por dentro. Ela é amiga da sua cacheadinha também, né não? - eu olho seu rosto confirmando.

Anúbis: Piscotralha não tá mentindo - deixo o copo de whisky do meu lado e pego o celular, desbloqueando a tela com a digital do meu polegar.

Bagdá: Então tu já sabe qual é - faço tsc e mudo minha atenção pra tela do aparelho.

Aperto nas notificações lendo as mensagens que ela acabou de me mandar. Ontem eu liguei pra ela depois que sai da boca, e ela tava na defensiva. Odiei essa parada, se ela não fala eu acho que quem deu vacilo foi eu.

Layla: Hoje eu vim arrastada, mas vim.
Layla: Como você tá?

Eu: Hm.
Eu: Tô suave, vai fazer o que depois que sai daí?

Layla: Nadinha.. por?

Eu: Quero passar um tempinho contigo.
Eu: Vou ficar uns dias fora e antes quero te ver, só pra ver se tu vai mentir quando eu perguntar porque tá na defensiva comigo.

Layla: Muitos dias?
Layla: Não tô, você que cismou com isso, tô normal.

Eu: Depende... enfim.
Eu: É pra ficar perto de mim e não longe. Te passei a visão, tu tá se fazendo.

Layla: Não tô kkkk.
Layla: Se eu for vai ser porque eu não tenho nada pra fazer.

Eu: Essa marra só é por msg.
Eu: Então, eu te busco.

Layla: Eu nem disse sim.
Layla: Vai vim me buscar que horas?

Dou risada lendo e desvio minha atenção do celular, observando minha irmã vindo na minha direção com a Niara.

Júlia: Eu vou pra casa da Niara, ela vai me ajudar no trabalho. Aqui não da pra mim fazer nada com esse inseto me enchendo o saco - inclino meu pescoço, observando o Argentino rindo com o Zé no colo.

Argentino: Eu dou flores e ela me dá espinhos.

ESSÊNCIA DE VILÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora