So It Goes...

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See you in the dark
All eyes on you, my magician
All eyes on us
You make everyone disappear, and
Cut me into pieces
Gold cage, hostage to my feelings
Back against the wall
Trippin', trip-trippin' when you're gone
So It Goes...

REMUS
7

 Meu pai me deixou brincar no jardim até depois do horário, mamãe estava viajando e eu o convenci a ficar comigo enquanto o sol se punha. Juntamos as pedras do jardim e montamos um castelo pequeno perto de uma árvore. Papai transfigurou galhos em espadas de madeira e chapéus pontudos e pretos em elmos para nossas cabeças. Então a invasão começou.

  Em uma manhã, eu era o rei.

  Na manhã seguinte, papai era o guarda que anunciava a chegada dos inimigos.

  No dia que seguiu, fui um dos vampiros que atacavam o Grande Império do Quintal, o reino mais forte de todo o continente da Minha Casa.

  Mas na noite seguinte, papai anunciou a chegada dos lobos.

  Não estávamos mais brincando.

  Mamãe tinha voltado de viagem, estava chovendo e o vento fazia as janelas assobiarem, minha mãe tentava me ensinar a ler à luz da lareira enquanto tricotava com uma agulha e sua própria varinha. Em um momento, o colo da minha mãe era o meu forte. No outro, papai entrou na sala e avisou:

— Lobisomens estão observando nossa casa.

  Mamãe me apertou em seu peito. Ela segurou meu rosto com as duas mãos e beijou meu cabelo. Ouvi o chiado da água apagando o fogo da lareira e vi meu pai correr para trancar as janelas.

— Se esconda, querido. Não saia de onde estiver. — Mamãe tinha lágrimas nos olhos, eu não queria deixá-la, mas ela me apertou e sussurrou: — Vai ser como se estivéssemos brincando de esconde-esconde, tudo bem?

  Meu pai me ajudou a me esconder e me abraçou antes de sair do quarto. Entrei em um baú antigo de roupas que sempre ficava de frente para a cama. Puxei a tampa e apenas observei a luz se mexer pela fresta da fechadura da enorme caixa. Ficar no escuro sempre me assustou, não pela falta de luz, mas por não saber o que estava comigo na escuridão, então me concentrei na luz que conseguia ver, sem saber quanto tempo havia passado ou se o tempo sequer estava se mexendo.

  Acho que peguei no sono por algum tempo. De repente o filete de luz sumiu sem que eu percebesse.

  Minha casa nunca foi tão silenciosa, mamãe sempre estava rindo das piadas do meu pai, e ele estava sempre assando alguma coisa no forno enquanto mamãe cantava músicas que ouvia em suas viagens. Como eu saberia que já estava seguro?

  Tentei ouvir alguma coisa. Qualquer coisa. Mas nenhum som chegava até o quarto, apenas a luz da lareira sendo reacendida. Se eles acendessem o fogo novamente, os lobos teriam ido embora, certo?

  Andei até a sala com apenas meias nos pés. O quarto escuro não me deixava enxergar pelo espaço pequeno que abri da porta, e tentei distinguir as sombras na sala. Um homem alto que poderia ser meu pai estava em pé na sala, mas ele era muito magro. Inclinei minha cabeça para tentar achar minha mãe e a encontrei em pé de frente para a lareira. Mamãe soltou um soluço quando me viu, e todos se viraram na minha direção. Alguém me puxou para cima me segurando pela cintura, a pele áspera parecia rasgar minha barriga. Eu comecei a chutar o ar, tentando acertar quem quer que fosse. Minha mãe se mexeu e dois homens a impediram de ir até mim.

— Remus, pare!

  Meu coração começou a bater nos meus ouvidos, a mão que me segurava era grande e áspera e não me deixava respirar. Mas eu parei.

...Ready For It?Onde histórias criam vida. Descubra agora