King Of My Heart

325 40 18
                                    

Late in the night, the city's asleep
Your love is a secret I'm hoping,
dreaming, dying to keep
Change my priorities
The taste of your lips is my idea of luxury
King Of My Heart

SIRUS
10

INÍCIO DO 5º ANO

  Ouvi um barulho ao meu lado e distingui uma sombra se aproximando, reconheceria ele mesmo na escuridão. O brilho em meu anel cessou quando Remus se sentou ao meu lado no chão cheio de folhas e deitou sua cabeça em meu ombro.

  James, Remus, Lily e eu decidimos acampar antes que as férias acabassem, e enquanto meus amigos dormiam, eu me sentei perto da fogueira com um bloco de papel e uma pena.

— Nunca vi você desenhando.

— Tem várias coisas que você não me viu fazer — retruquei com um sorriso. Ele me censurou com um empurrão suave.

  Remus se inclinou para ver o desenho tomar forma, em silêncio e com cuidado para não me atrapalhar, ele ajeitou a cabeça de modo a ficar mais fácil de ver e se apoiou em mim com seu braço na minha coxa. Ficamos assim até que eu terminasse de desenhar uma visão familiar para mim: um lobo correndo ao lado de um cervo, ambos cercados pelos olhos astutos de uma raposa. Olhei para Remus e ele parecia ter gostado. Eu estava virando a folha no caderno quando decidi desenhar em uma superfície nova: o garoto ao meu lado.

  Puxei o braço dele na minha direção e levantei a manga de sua blusa para abrir espaço em sua pele, contornei suas cicatrizes com os dedos antes de decidir o que eu faria. Remus era cheio de histórias e rascunhos nunca terminados, todos marcados em sua pele. O braço dele se arrepiou quando cheguei ao cotovelo com meus dedos, seguindo a maior cicatriz marcada em sua pele.

— Essa é nova — ele comentou.

— Eu sei — respondi, levantando meu olhar para ele.

  Os olhos dele costumavam ser verdes anos atrás, mas agora o verde escureceu para um quase castanho. À luz do fogo era possível ver o fundo de cor verde perto de suas pupilas. Ele sorriu para mim, um sorriso quase imperceptível. Mas eu cuidei dos arranhões em seu rosto, sabia identificar os seus movimentos, sabia quais sardas formavam quais constelações. Eu limpei os cortes em seus braços, e sabia quais eram novos, quais tinham recebido o meu toque. Sorri de volta, o fogo aquecendo algo mais fundo em meu peito.

  Voltei a olhar para seu braço, a ponta da pena tocando sua pele. Uma estrela ao lado de sua cicatriz. Depois outra, e outra. Uma estrela entre essas três; uma constelação surgindo ao redor de suas feridas, na pele macia que deveria ser cheia de relevos e calos. Percebi um padrão entre as estrelas, um que eu reconheceria em qualquer céu. Canis Majoris.

— Narcisista — Remus sussurrou.

  Eu olhei para ele.

— Então deixa que eu apago — brinquei, indo até minha mala pegar um lenço.

  O braço de Remus me parou no mesmo instante.

— Nem ouse.

  Demos risada. E foi a vez de Remus desenhar.

  Assim que chegamos em Hogwarts, mandei James usar sua varinha para marcar a lua em meu pulso permanentemente. A tinta estava fraca, mas ele seguiu com precisão cada tremor que os dedos de Remus fizeram em minha pele.

  Depois das férias, a Casa dos Gritos parecia nunca ter recebido visitas. Remus ficava andando de um lado para o outro enquanto limpávamos. Ao anoitecer, antes da lua surgir, Remus se sentou na cama que colocamos ali, com uma aparência nada boa. Eu sabia que a marca em suas costas doía à medida que a Lua chegava, mas ele nunca me deixou olhar para ela ou tentar ajudá-lo.

— Eu tô bem, Six.

— Isso não me tranquiliza. Se você me deixasse ver...

— Não precisa. Assim que a Lua aparecer a dor vai passar.

  Eu não queria deixá-lo sozinho, então o abracei com força. James e Lily já estavam do lado de fora quando ele me soltou. Segurei a mão dele com força antes de ir embora.

  Nós dois baixamos nosso olhar para nossas mão unidas.

— O que é isso? — ele me perguntou erguendo meu pulso na direção do seu olhar.

— Meu braço — respondi. Ele me olhou com a cara fechada. Eu sorri. — Foi você quem desenhou, sabe muito bem o que é.

— Isso já faz duas semanas.

— Posso ou não ter tatuado por cima — comentei casualmente. — Só vamos saber se não sair.

  Comecei a andar em direção a porta, mas Remus me segurou para um último tchau. Seus braços apertaram minha cintura, e eu poderia ter ficado ali para sempre se não tivesse ouvido a voz de Lily gritar que o sol estava sumindo do céu.

— Boa sorte, Moony.

Moony?

— Testando um apelido novo — falei, finalmente saindo da casa.

  Lily me esperava agachada perto de uma moita, James estava encostado em uma árvore, terminando de devorar um sapo de chocolate. Não sei como ele conseguia, nós comemos tanto antes de virmos para cá, que só de pensar em comida me sinto enjoado.

— Ele vai ficar legal — Lily falou.

— Eu sei.

  A Lua cantava nos meus ouvidos, e alguma parte de mim conseguia ouvir ela chamar Remus também. Lily segurou meu braço com força para me impedir de voltar para a casa. Uma voz doce fazia eu me impulsionar para fora do agarro de Lily e me juntar a Remus.

  E quando finalmente voltei para dentro, o cheiro de sangue penetrou minhas narinas. Corri até o lobo castanho deitado em um canto mal iluminado. Nenhum dos nossos amigos me seguiu, nesses primeiros minutos, quando Remus ainda não estava totalmente consciente, eu era o único que ele deixava se aproximar. Procurei pelas feridas que eu sabia terem surgido nele e ele me empurrou com o focinho longo, vasculhando meu pêlo. Deitei ao lado dele, minha cabeça sobre uma de suas patas, e ficamos ali até que ele se sentisse melhor.

...Ready For It?Onde histórias criam vida. Descubra agora