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Acho que depois que meu pai deixou a gente para viver com a segunda família que mantinha, eu passei a ser uma adolescente desconfiada demais para relacionamentos. O fato do Pedro nunca ter me dado bola não funciona bem como uma frustração. Seria bem pior se ele agisse como agiu o Thomas, que manteve as fotos da Babi ocupando mais da metade da parede do seu quarto até aparecer uma nova aluna no colégio e fazer todos os garotos disputá-la como um troféu do Oscar. Está tudo bem se o Cadu partir logo para o combate com o Pedro pelas pernas e peitos fartos da Lorena. É bem óbvio para mim que isso vai acontecer mais cedo ou mais tarde.

― Samanta, Raquel, Vitor, Júlio... mais alguém? Valen? Valen, você está em que planeta!? ― Babi faz a pergunta enquanto toca meu ombro.

Estamos no pátio do colégio, é o nosso intervalo e ela está me ajudando a fazer a lista das pessoas que queremos levar para o meu acampamento de aniversário.

― Desculpe, eu estava pensando...

― No Cadu. ― ela revira os olhos.

― Não era no Cadu, Babi. Que saco!

― Tá, então volta aqui para a lista... O que você acha da gente convidar o Júlio?

― Humm. Não sei. Será que o Júlio e a Samanta não vão acabar discutindo mais uma vez sobre o escândalo que foi o término deles no ano passado? ― torço o nariz, depois bebo um pouco do meu suco de laranja, daqui a pouco nosso intervalo acaba ― A Samanta até hoje jura que viu o Júlio no fundo da casa da Raquel beijando uma garota de cabelos pretos, naquela festa que a Raquel deu, lembra?

― Ah, Valen, corta essa! A Samanta é meio médium, você sabe, né? Ela viu uma entidade, alma penada, um espírito ou algum fantasma do ciúme doentio dela.

― Não sei, Ba. Geralmente a mulher é que ganha a fama de louca quando surta como ela surtou depois de uma possível traição. Você acha que eles já estão bem? Tipo, resolvidos?

― Eles estão aparentemente bem como amigos. Eu até dei uns beijos nele e nela já, não simultaneamente, claro.

― QUÊ? ― arregalo os olhos desacreditando da capacidade que a Babi tem de sempre me surpreender.

― E tenho que assumir que ela é in-dis-cu-ti-vel-men-te melhor que ele no manejo da língua. Você sabe, né? As mulheres geralmente tem o beijo mais adocicado. ― ela pronuncia a frase num tom abaixo do normal enquanto arregala os olhos para algo que está vendo atrás de mim ― Eu te conto isso em outro momento, Valen. Porque agora está vindo na nossa direção nada mais nada menos que...

― Consegui achar vocês antes do sinal bater! ― Cadu apoia as duas mãos na nossa mesa e se vira para mim ― Já que você decidiu ignorar a minha mensagem, acho que vou ficar com isso aqui para mim! ― em uma das mãos ele balança um brinco de prata com um pingente das fases da lua.

É meu. Eu o havia deixado cair em algum momento e não me recordo. Voltei para casa com apenas um brinco na orelha sem me dar conta de que havia também retirado apenas um brinco da orelha antes de entrar no banho. O que claramente revelava a mim mesma que eu estava vivendo algo frenético e desgovernado internamente.

― Muito obrigada por ter achado e, bem, por ter trazido aqui para mim.

Estico meus dedos para pegar o brinco, mas ele espera uma aproximação ideal da minha mão para afastá-lo rapidamente e me chantagear.

― Nada disso. Só devolvo o brinco se puder comparecer ao seu aniversário. Sua mãe me convidar não é o mesmo que você, marrenta. Inclusive, eu tenho um kit camping e uma seleção de músicas no meu pen drive esperando uma ocasião especial como essa. ― ele mira meus olhos como quem faz uma aposta numa mesa de pocker.

Sempre fomos nósOnde histórias criam vida. Descubra agora