Ao ouvirmos passos subindo as escadas, o Cadu me larga subitamente. É o seu Geraldo. Ele assovia uma melodia enquanto balança um molho de chaves em uma das mãos. Passa por nós com um olhar recriminador, seu "boa tarde" soa como uma ameaça. Assim que ele entra em seu apartamento, eu me volto para o Cadu:
― Bem que a Babi disse que a gente deveria ter tirado uma foto do seu Geraldo com a dona Lourdes.
― Você contou para a Babi sobre aquele dia? ― ele me perscruta arqueando uma das sobrancelhas.
Assinto com um balanço de cabeça. Ele dá um passo em minha direção e fica bem próximo do meu rosto novamente.
― Onde foi mesmo que a gente parou? ― sua mão sobe em busca do meu pescoço.
Eu desvio rapidamente. Sei que os vizinhos tendem a diminuir a quantidade de roupa que estou vestindo se a notícia se espalhar pelo prédio.
― Preciso entrar, Cadu. Amanhã é meu aniversário, e ainda não organizamos tudo para o acampamento do final de semana.
― Oook. Posso passar aqui amanhã pra gente ir junto pro colégio? ― ele toca minha mão com os dedos.
― Pode ser. ― falo baixo sem demonstrar todo o entusiasmo que sinto com a pergunta.
― Uhumm. Que "pode ser" fraquinho, marrenta. Acho que você ainda tá bem ligada naquele Pedro... ― ele me surpreende.
Como ele sabia sobre o Pedro? Será que eu dava tanta bandeira assim nos anos anteriores? Mas nesse tempo todo ele estava morando com o pai, não tinha possibilidade alguma de ele saber que eu tinha sido enlouquecida pelo Pedro. Tinha alguma coisa muito estranha naquela pergunta.
― O que a Babi andou contando para você, Cadu? ― claro que só podia ser ela.
― Não foi a Babi, Valen. Foi a Lorena, a própria namorada do Pedro.
― QUÊ? Da onde...essa maluca tirou essa história? ― pergunto aturdida.
Além de me sentir surpreendida com a fonte de informação que o Cadu obteve, também começo a achar questionável o que ele havia me dito antes de me beijar. Afinal, ele tinha negado que estivesse com a Lorena e agora isso?
― Ela me contou que você chegou a ficar muito vermelha durante um campeonato em que o Pedro dedicou um gol para você depois de ter apostado isso.
― Ele tinha apostado aquela dedicatória? ― arregalo os olhos surpreendida mais uma vez.
― Sim, e também que você ficaria vermelha.
― Mas, mas... é mentira! E também parece ser mentira o que você disse! Você estava com a Lorena, Cadu!
Tenho certeza que estou mais vermelha agora do que no fatídico dia em que ocorreu o que Lorena narrou.
― Não, não. Eu não fiquei com a Lorena, Valen!― ele tenta impedir que eu abra a porta colocando a mão sobre minha e interrompendo meu gesto sobre a maçaneta. ― Ela me puxou para um dos banheiros próximos à quadra quando eu estava saindo do treino, e eu disse que era seu namorado mesmo sem ser, porque nossas mães sempre acreditaram em projeções quânticas, e eu resolvi fazer uma projeção ali mesmo para me livrar daquela maluca. Naquele momento, eu disse que só pensava em você. Ai ela deu uma gargalhada e acabou me contando isso de você ser apaixonada pelo namorado dela.
― Cretina! Cretinos! Isso é mentira, Cadu! E ela não é a única que mente aqui. Ninguém diz não à Lorena. Tá na cara que você ficou com ela ― abro a porta num ímpeto e deixo que ela bata na cara dele com toda a força do meu ódio.

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Sempre fomos nós
Novela JuvenilQual é a fórmula mágica para o primeiro amor? E quando a garota em questão não tem lá uma autoestima assim tão elevada e se apaixona justamente pelo novo garoto popular da escola? E quando esse garoto é também o seu vizinho? Valen é uma adolescente...