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Durante o nosso próximo beijo, Cadu envolve a minha mão na sua e a leva até seu coração. Nossos lábios se afastam apenas o suficiente para eu ouvir sua respiração ofegante e seu hálito quente bem próximo a minha boca. Ele mantém a mão sobre o peito enquanto sussurra:

― Ele também é todo seu.

Então, com a mesma mão com que conduz a minha, ele aponta com o indicador para o lado esquerdo do meu peito: direto no meu coração.

― E eu quero que o seu também seja todo meu, marrenta.

Cadu lança uma piscadela provocativa antes de voltar a me beijar. Nos pequenos intervalos, ele intercala falas que quase me fazem esquecer por que, afinal, a gente não continuou junto depois daquele show do Engenheiros.

― Eu... ― mais um beijo ― nunca... ― outro beijo ― beijei... ― ele desce para o meu pescoço ― ninguém... ― seus lábios tocam minha clavícula ― como... ― ele dá um selinho no meu ombro ― beijo... ― ele para, me encarando ― você.

Sinto o calor subir pelo meu rosto. Sei que estou mais vermelha que um molho de tomate e que a minha respiração está entregando tudo que estou sentindo naquele momento, mas tento manter a minha fama de má. De marrenta.

― Mentiroso. ― reviro os olhos.

Ele se afasta ligeiramente e apoia as duas mãos nos meus ombros, forçando-me a encarar seus olhos. Seu olhar é sério, intenso.

― Você acha que eu estava brincando quando simulei aquele beijo horrível para você? Eu queria que você entendesse que eu fui um puta de um machista, mas que não tive nenhuma sensação próxima a essa aqui quando beijei aquela garota. ― Ele chacoalha de leve meus ombros, como se tentasse me fazer entender ― Não senti absolutamente nada quando beijei aquela garota. Nada. Você está entendendo, Valentina? Olha para mim. ― sua voz soa mais rouca, mais grave.

Ele me chamou de Valentina de novo. Pelo pouco tempo de reaproximação com esse ex-magrelo que saiu direto da minha infância e aterrissou subitamente naquele corredor daquela maldita tarde de março, já consigo entender um pouco sobre esse novo Cadu, o de dezessete anos. Ele vai me chamar de Valentina toda vez que me achar cabeça-dura ou quando não entender que, muitas das vezes, eu faço um certo charme como tática para disfarçar que quero, quero muito, acreditar em tudo que ele me diz.

― Responde. ― seu olhar é insistente.

― Responder o quê, Cadu? - solto o ar, impaciente. - Você quer que eu diga "tudo bem, você foi incrível por pegar a garota mais popular da escola e depois me dar uma amostra grátis do beijo dela, tudo bem, isso nem foi nada, agora podemos ficar juntos e eu vou me sentir maravilhosa porque, olha só, estou pegando O Cara, o popular, o cara que beijou a Lorena, vejam só, estou pegando O Cara que beijou a Lorena"? É isso?

Desfaço as pernas do colo dele e me ajeito na pedra, puxando o vestido para baixo, porque, bem, ele já estava quase na altura do meu quadril. Cruzo os braços.

Ele suspira profundamente.

― Marrenta...

Olho para as ondas que explodem nas pedras à nossa frente e espalham gotículas sobre nós.

― Marrenta, olha pra mim.

Viro meu rosto lentamente em sua direção. Ele continua:

― Eu sei que eu fui tudo aquilo que uma garota como você odeia. ― abaixo a cabeça e ele a levanta com o toque de seus dedos. ― Mas olha pra mim quando estou sendo sincero com você, ok? Só te peço isso.

Aceno com um movimento breve de cabeça e fixo meus olhos no dele enquanto ele tenta me fazer entender. Ele busca as palavras, e eu sinto cada uma delas me atravessar.

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⏰ Última atualização: Oct 14 ⏰

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