21

33 3 0
                                    

Assim que saio do banho, ainda com os cabelos molhados e uma toalha jogada nos ombros, vejo Cadu e Júlio agachados, ajeitando alguns troncos e gravetos para uma fogueira. Eles estão super concentrados. Alguns mastros maiores de cedro rodeiam o espaço, prontos para serem nossos bancos improvisados. Enquanto caminho até minha barraca, percebo o olhar discreto de Cadu me seguindo por um breve espaço de tempo. Estou usando um vestido florido leve que fica um pouco acima do joelho, o único vestido que gosto de usar. A noite está linda. A ausência de poluição da cidade permite contemplar as estrelas de um jeito extraordinário.

Logo, as garotas se juntam a nós e começam a comentar sobre as roupas umas das outras. Esse tipo de papo sempre me deixa sem jeito, porque faz bem pouco tempo que passei a me importar mesmo com o que vestir. Acho que até os meus doze ou treze anos, eu apenas queria me sentir confortável. Mas um dia, em uma festa de quinze anos bem clichê, percebi que ser jovem significava me equilibrar e dançar sobre um pedaço de madeira de sete centímetros e torcer para a meia-calça não rasgar ou o vestido não subir demais. Agora, aqui estou, usando um vestido de verão bem delicado, porque aprendi a ser minha própria versão feminina. Nada de saltos, apenas uma rasteirinha. E vestidos, somente aqueles que também me deixem confortável. Ser o tipo de versão feminina que a sociedade quer não vai rolar.

Assim que Cadu e Júlio terminam de ajeitar os troncos na pequena cavidade que fizeram na terra, Vitor aparece com um acendedor de churrasqueira que pegou na barraca de Cadu. Ele realmente tinha vindo preparado com seu kit camping, como tinha me dito.

― Preparados? - Cadu pergunta, com um isqueiro na mão.

Ele acende e rapidamente espalha fogo pelos troncos empilhados em forma de cruz.

Todos temos um momento de arrebatamento. Depois, nos sentamos sobre os mastros de cedro, formando um círculo em volta da fogueira, e passamos a conversar animadamente. Cadu se afasta um pouco, vai até sua barraca e volta trazendo seu violão. Quando ele começa a tirar as primeiras notas, Babi intervém:

― Combinamos de começar a noite com "Verdade ou Desafio", Cadu! Música depois!

― Acho que podemos deixar o Cadu fazer a trilha sonora para todas as revelações e desafios da noite, Bá! - Raquel propõe a tarefa enquanto seus olhos parecem destilar veneno sobre todos nós.

Cadu, no entanto, afasta o violão, encostando-o em um dos mastros ao seu lado. Ele está sentado à minha frente, do outro lado da fogueira. O crepitar das chamas ora revela seus olhos, ora os esconde. Consigo apenas identificar um ar desanimado, bastante nítido em seu rosto, para a brincadeira. Ele parece estar morrendo de medo de ter de responder à pergunta: "É verdade, Cadu, que você beijou a Lorena no mesmo dia em que beijou a Valen?".

― Vamos começar! - Babi esfrega as mãos animada. ― Valen, você é a mais nova, então, você começa! Verdade ou desafio?

Apesar de ter acabado de completar quinze anos, eu era a única do grupo que, até poucas semanas atrás, ainda tinha catorze. Então, era justo começar comigo. Para não me colocar em nenhuma situação embaraçosa logo de cara, escolho "Verdade". Ok, fui um pouco covarde, admito.

― Verdade. - respondo rapidamente.

Todos me olham com ar de decepção, menos Cadu, que parece atento à situação. Babi então dispara:

― É verdade que você já beijou o Júlio?

Cadu estreita os olhos na minha direção enquanto Júlio sorri pelo canto da boca. Um está curioso com a minha resposta, o outro já sabe o que vou dizer.

― É verdade. - solto de supetão.

Todos olham surpresos para Júlio, que agora abre um sorriso sem a menor vergonha. Ah, caramba! Até eu mesma tinha me esquecido desse episódio. Ao ver o olhar do Cadu queimando mais do que as labaredas à minha frente, tento me explicar.

Sempre fomos nósOnde histórias criam vida. Descubra agora