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Na hora da saída não vi o Cadu por lugar nenhum. Claro que também não vi a Lorena. Então não havia outra chance no universo de múltiplas possibilidades quânticas, que o professor de física insiste em afirmar que existe para um colapso da realidade, além de um cenário meio que óbvio: uma explosão de hormônios estava ocorrendo em algum canto do colégio. Eles estavam se pegando. Ou melhor, a Lorena estava devorando a sua nova presa. E, talvez, isso estivesse ocorrendo porque não sei ser uma predadora eficaz ou porque a Lorena não vive de tantos "quases" como eu. Ela nunca quase fica com o garoto que quer, ela sempre fica com o garoto que quer.

Saco! Minha vida até dois dias atrás era uma contínua falta de esperanças em torno do Pedro e estava tudo bem. Eu estava focada apenas em pensar no meu acampamento de aniversário e convencer a minha mãe de que eu não me vestiria como uma mocinha de algum filme antigo a que ela assistiu. Aí veio o Cadu com seus olhos castanhos e pungentes cruzando o estreito corredor que separa os catorze dos meus quinze anos de idade. E agora apenas isso: eu olhando para baixo e pisando "quadradinho-sim" e "quadradinho-não" para ver se o asfalto me confirma o que eu tenho certeza que ele vai confirmar. Dito e feito, o último quadradinho antes de atravessarmos a rua disse sim. Eles estão ficando.

A Babi tagarela sem parar ao meu lado há uns quinze minutos enquanto caminhamos rumo ao nosso prédio.

― Vai ser incrível, Valen! O seu aniversário vai marcar a minha vida para sempre. Vou investir na Samanta. A Raquel é muito magrinha e fofoqueira, se eu beijar mal, ela vai espalhar para o colégio inteiro, o Vitor é uma possibilidade remota, porque é gato mas defende o inominável, o Júlio eu já provei, então é figurinha repetida. ― as palavras da Babi saem quase todas emendadas uma na outra como se ela tivesse uma metralhadora de criações esperando o alvo selecionado.

― Tem o Cadu também, você tá se esquecendo dele. ― pronuncio a frase num tom baixo quase ferido.

Ela percebe.

― Ei! Pode parar! Que bad vibes é essa? Não é porque o Cadu provavelmente esteja pegando a Lorena agora que ele não esteja caidinho por você em todos os outros dias da semana! ― ela tenta me animar.

― Não é o Cadu que está pegando a Lorena, é a Lorena que está ampliando seu monopólio. Ela é uma matriarca imperialista!

― Tá. Ela é. E daí? Ela não estará no acampamento, e o Cadu sim. Você já separou o seu biquíni? 

― Não tenho coragem de levar aquele biquíni. Aquilo ali me deixa esquisita. Eu fico parecendo a...

― A Sophie Charlotte. ― ela completa. ― Quantas vezes eu vou ter de te dizer que você não deixa nada a desejar para aquela aguada da Lorena nem pra Paris inteira?

― Não exagera, Babi. No máximo, fico mais feminina com aquele biquíni, mas não viaja. Eu e a Lorena ou essa Sophia Charlotte ai somos completamente diferentes.

― Sim,  a diferença é que a Lorena age como quem sabe ser poderosa como Sophie Charlotte. E você precisa se empoderar...

Fico em silêncio. Já estamos dentro do prédio. Babi me dá um beijo no rosto seguido de um tapinha leve na coroa da minha cabeça e pede para eu falar logo para minha mãe sobre as decisões que tomamos:

Trindade, Rio de Janeiro, Praia do Rancho.
287 km de São Paulo
4h42 minutos de viagem
Lista de convidados:
Babi
Samanta
Raquel
Júlio
e
Cadu.

Minha mãe abre um sorriso gigante ao saber que sim, sua filha geniosa e complicada tem amigos. "Quem diria que a lista não teria apenas Valen e Babi" é exatamente a frase que a minha mãe tem na cabeça neste momento.

Sempre fomos nósOnde histórias criam vida. Descubra agora