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Preciso voltar para o camping.

Pego meus pertences, visto o shorts sobre o biquíni molhado e me preparo para enfrentar a mata mais uma vez. Acabaram os damascos e meu estômago está fazendo um show de rock and roll aqui dentro. Tudo bem, a trilha não é tão longa assim. E eu sou uma garotinha jovem com uma vida inteira pela frente, é o que eles sempre dizem: os adultos em suas crises de meia-idade. Vou sobreviver e ainda ver o Cometa Halley passar mais uma vez por esse planetinha aqui.

Que horas são?

Droga.

Estou sem o relógio.

Droga.

Celular sem bateria.

Ok.

Céu das cinco: levemente alaranjado.

Chegarei ao camping antes de anoitecer.

Será que eles já se deram conta de que eu, tipo, sumi? Será que estão preocupados? Sendo mais específica: será que o Cadu está preocupado? Por que eu não deixei um bilhete avisando? Por quê? Por que a gente só tem uma ideia óbvia depois de não ter tido essa ideia óbvia antes? Provavelmente a Babi já contatou a polícia federal. Helicópteros contratados pelos pais do Vitor devem estar sobrevoando Trindade agora mesmo. E minha mãe? Dona Clarice deve estar chorando desesperada enquanto um repórter faz perguntas inapropriadas como "Quando foi que você viu sua filha pela última vez?".

Sorrio sozinha enquanto caminho pela trilha. Ninguém está acostumado a procurar a aniversariante na suposta festa de aniversário dela. Eu sei. Mas é que a aniversariante precisava ficar um tempo sozinha com seus recentes quinze anos.

E cá estou eu, de novo, no meio do caminho.

Me distraio e um galho corta o meu joelho. Pronto. Já tenho o motivo perfeito para o "Pelo amor de Deus, Valentina, por que você não chamou seus amigos para fazer essa trilha com você?" que vou ouvir repetidamente na próxima semana durante todos os cafés da manhã. Pelo amor de Deus, mãe, é só um arranhãozinho dramático que quis se aparecer mais que o necessário para chamar atenção.

Ao sair da trilha, vejo Vitor correndo na areia. Provavelmente ele me viu antes mesmo de eu me dar conta disso.

― Dios mío, Valen! O que aconteceu com você? Seu joelho está...

― Sangrando. ― completa o Cadu, enquanto se ajoelha para observar o machucado com a precisão de um cirurgião. Ele estava bem mais próximo da saída de trilha do que Vitor, e eu não o vi.

― Não foi nada demais. - reviro os olhos, tentando parecer indiferente.

Cadu levanta o olhar e seus olhos de desaprovação encontram os meus. Ele balança a cabeça, pede a garrafa de água para o Vitor e a despeja sobre o ferimento. Eu solto um grito, e a Babi aparece imediatamente, seguida pelas outras garotas e pelo Júlio. Todos prontos para o "resgate de emergência da aniversariante perdida na trilha".

― Valen! Onde você estava? - Babi parece brava e aliviada ao mesmo tempo. ― A gente já estava pensando em fazer um cartaz de 'Procura-se'. Mas, em todas as fotos da minha galeria você está de moletom, e eu decidi não acabar com a sua vida, ok? ― ela lança um olhar para o meu joelho ― Eu tinha uma leve suspeita de que você estava planejando um grande retorno, mas "sangrar em público" definitivamente não estava na lista de ideias brilhantes.

— Não aconteceu nada demais. Eu só acordei bem cedo e decidi caminhar sozinha pela praia. Acabei encontrando a entrada da trilha que leva ao Cachadaço e pensei...

― Ah, você pensou que se transformar em uma aventureira sem aviso prévio ia durar dez minutos, mas, olha só, durou um dia inteiro porque a heroína da trilha esqueceu de levar a equipe de apoio — Babi franze o cenho num ar de reprovação. — Da próxima vez, nos avise pra gente preparar um estoque de primeiros socorros quando seu joelho resolver se manifestar.

Sempre fomos nósOnde histórias criam vida. Descubra agora