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O final de semana chega e eu acordo no sábado com a minha mãe abrindo as cortinas e janelas do meu quarto. Sei que ela me viu chegar ontem um pouco depois da meia-noite e deve ter ouvido o Cadu me desejar "boa noite" com um certo ar de triunfo.

― Bom dia, mocinha. Já vai dar onze horas da manhã e a senhorita precisa acordar. Ainda bem que não marcamos o seu acampamento de aniversário para este final de semana, pois você está com aquela cara de quem vai passar o dia inteiro assistindo Netflix. ― ela fala enquanto retira o edredom da minha cama.

― É exatamente isso, mãe. ― puxo o edredom de volta.

― Nada disso, Valen. A Babi já interfonou três vezes esta manhã, dizendo que você não lê as mensagens dela nem atende o celular. Ela parecia apreensiva. E você não pode esquecer ainda de que ficou de levar seu irmão ao futebol hoje enquanto faço as compras e o almoço. Pode ir se levantando daí, mocinha.

―  Saco! O Caio já tá pronto? Fala pra ele se arrumar logo. ― me jogo para o lado da mesa-de-cabeceira e alcanço o celular enquanto minha mãe apressa meu irmão.

Há aproximadamente mil e quinhentas mensagens da Babi e mais o triplo de ligações não atendidas. Quando abro nossa conversa no WhatsApp, dou de cara com uma imagem do Pedro. É um print da página dele no Facebook. Babi circula com um verde-neon o que está escrito logo abaixo da sua bio: solteiro. SOLTEIRO. Como assim SOLTEIRO?

Não perco tempo e peço uma chamada de vídeo com a Bárbara. Ela atende rapidamente. E, enquanto apoio o celular no abajur e visto a primeira calça jeans que encontro jogada no quarto, procuro apressá-la:

― Vamos levar meu irmão ao futebol, Bárbara! Coloca uma roupa leve e um tênis, estamos atrasadas! ― desligo a chamada, não dando tempo suficiente para ela responder.

Em cinco minutos a campainha toca. É a Babi com uma roupa de esportista ridícula que me faz pensar se será mesmo o meu irmão a entrar em campo. A Bárbara veste um shorts curto preto, um top rosa-pink e tudo nela gruda e realça seu corpo inteiro. Ela parece estar pronta para uma partida de vôlei ao mesmo tempo que pode querer fazer parte de um grupo de torcida feminina com seus pompons. Só tenho tempo de virar um copo de achocolatado gelado que minha mãe deixou pronto e pegar um pão com manteiga para ir comendo pelo caminho. Puxo meu irmão pelo braço e o apresso. Saindo pela porta, Babi me questiona sobre seu visual:

― O que achou da torcedora mais animada desse campeonato? ― ela pergunta enquanto levanta meu irmão e dá um giro com ele no alto.

― Você está achando que o Pedro solteiro estará lá na torcida, Babi? ― reviro os olhos.

― Ah, qual é, Valen!? Estamos indo a uma partida de futebol, provavelmente haja muitos Pedros por lá, mas hoje eu sou apenas a tiete do Caio. - ela dá uma piscadinha para o meu irmão, que sorri alegre.

A quadra onde acontecerá o jogo fica a poucos quarteirões do nosso prédio. Temos tempo de caminhada suficiente para que eu arranque dela o motivo do término entre o Pedro e a Lorena. Não sei bem o que senti quando vi a palavra solteiro no Facebook do Pedro. Para mim sempre foi impossível que ele terminasse com a Lorena. Ou será que foi ela quem terminou com ele? A curiosidade estava me matando, mas ao mesmo tempo também queria compartilhar com a Babi os momentos incríveis da noite de ontem com o Cadu no show, e ainda tínhamos que fazer os últimos ajustes e combinados para o acampamento do meu aniversário. Muita coisa. O sábado estava apenas começando.

― Não sei se quero falar de Pedro e Lorena ou de Valen e Cadu... Acho que preciso de um termômetro para medir qual temperatura de casal está mais alta. Só me fala se vocês ficaram para eu começar a acreditar que vale a pena ouvir você primeiro, Valen.

― Nós ficamos, Bárbara. Na real, eu quase perdi metade do show encostada numa parede com o Cadu amarrotando meu vestido. ― cochicho bem perto do ouvido dela para meu irmão não ouvir os detalhes da nossa conversa.

― Jura!? ― Babi solta um grito ― Então conta você primeiro... Vai, conta logo!

― Não, não. Dessa vez tô muito ansiosa para saber uma coisa: esse término do Pedro com a Lorena tem alguma coisa a ver com o Cadu?

― É... ― Babi titubeia ― Tem e não tem.

― Então tem. Eu sabia. Eu sabia que eles tinham ficado. Eu sou uma tonta de ir àquele show com o Cadu ontem e...

― Calma lá, Valen. Não é bem o que você está pensando. Falei com a Raquel ontem, liguei pra ela pra falar do acampamento, e você sabe né, a Raquel é a maior fonte de informação do bairro inteiro.

― Tá. Conta logo. Eles ficaram ou não?

― Não dá pra saber. O Júlio pegou eles bem próximos perto do vestiário do lado da quadra e contou para o Pedro ontem na saída do colégio. A Lorena disse que só foi um beijo, mas o Júlio disse que até o pescoço dela estava borrado de batom. Então eles, bem, não ficaram, tipo, não ficaram completamente, porque não deu tempo, o Júlio chegou.

― Quê?! Você está me dizendo que eles se beijaram ao ponto de ter marcas de batom da Lorena no pescoço dela? E que eles se beijaram no mesmo dia em que, mais tarde, o Cadu me beijou no hall do nosso prédio?

― É... ― Babi coça a cabeça e faz uma careta com receio de que eu possa surtar, sim, porque eu vou surtar ― acho que sim, eles ficaram. Aiiii, eu não deveria ter contato tantos detalhes...

Balanço a cabeça enquanto olho para o chão e tento conter o choro. Não consigo acreditar que o Cadu tenha mentido para mim. Que ele tenha me beijado no mesmo dia em que, mais cedo, havia trocado saliva com aquela loira aguada. Provavelmente a ausência dele na escola no dia do meu aniversário e na sexta-feira não teve nada a ver com a bebedeira da sua mãe, mas com a possibilidade de tudo vir à tona. Ele e o Pedro poderiam sair na porrada por causa da Lorena, dessa forma eu descobriria a verdade, consequentemente não teria bilhete de aniversário no meu travesseiro nem show algum que pudéssemos ir juntos. O Cadu tinha calculado tudo. E eu agora estava parecendo a minha mãe, me sentindo enganada e ao mesmo tempo apaixonada pelo cara que me enganou.

Assistimos ao jogo do meu irmão sem trocarmos uma palavra. A Babi vibrou com a vitória do time do Caio com alguns gritinhos, mas logo percebeu que eu não tinha clima para comemorações. Dei um "parabéns" seguido de um beijo e um abraço forte no meu irmão e seguimos os três para a casa. No caminho, ela tentou estabelecer algum diálogo na tentativa de me deixar menos pior:

― Você não quer me contar mais detalhes de como foi o show? Valen, os homens são assim, beijar a Lorena é naturalmente excitante pra eles. Isso não quer dizer que o Cadu não esteja caidinho por você.

― Eu não quero saber do Cadu nem desse papo dos "homens serem assim". Meu nome é Valentina Salles, eu tenho quinze anos, e não aceito nenhum tipo de naturalização de comportamentos. E não, não quero contar como foi o show. Quero esquecer que um dia fui a algum lugar com o Cadu, que um dia beijei o Cadu, que um dia cheguei a acreditar que eu e o Cadu... Ah, dane-se o Cadu!

― Oook. E o acampamento? Todos já confirmaram. Mas tem o Ca...

Antes que ela possa construir a última sílaba do apelido dele, eu a interrompo:

― O Cadu não vai.

***

E agora?

Como o Cadu vai explicar essa?

Demorei um pouco para postar esse capítulo, mas vou tentar manter o ritmo de um capítulo por semana.
Prometo!😉

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