Capítulo 10. Everything is changing

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Enid Sinclair

Morte. A única certeza da vida.
A morte é o fim para a maioria, para alguns o início ou recomeço. Alguns sofrem com a perda, outros celebram. Muitos a temem, outros a desafiam. Mas não importa nada disso pois ela chega para todos, mais cedo ou mais tarde.

Apesar de planejá-la a um tempo, eu tenho medo. Medo de não ter nada além da mesma dor que sinto aqui, afinal, tirar a própria vida é um dos piores pecados que existe. Mas eu já não tenho forças para continuar. Sou covarde, fraca demais para enfrentar uma vida assim.

E aqui estou eu. Imersa na escuridão sem fim, um vazio profundo, em um silêncio torturante. As vezes é como se eu pudesse sentir alguém comigo, como toques que sinto em uma espécie de formigamento. E a voz, distante, mas inconfundível. A melhor parte no meio desse nada sombrio é quando consigo ouvir sua voz.

O som doce e calmo, histórias e pensamentos indecifráveis por mim, mas que me confortam na melodia de seus sussurros. É ela. É Wednesday. Mas aí lembranças sempre aparecem depois que a voz se cala. Enchem de arrependimento o que restou do meu ser.

[...]

Desespero, angústia, medo e vergonha. Tudo se misturou em um furacão dentro de mim quando Wednesday e Murray estavam discutindo.

Suas palavras, seu olhar, me doía muito, como sempre. Mas ter alguém me defendendo foi como sonho. Ter Wednesday o enfrentando por mim, mesmo sem me conhecer direito, foi uma sensação tão maravilhosa. Até tudo se desmoronar novamente quando o meu segredo foi revelado.

Sentir sua mão na minha foi tão acolhedor, que no momento em que ela a soltou eu me senti tão solitária como nunca havia me sentido antes. Então eu vi, mesmo ela me defendendo das palavras do meu pai, eu ainda continuava a ser uma aberração. Ela não iria ficar ao meu lado depois de saber. Nunca ficam, ninguém. Eu não posso culpá-la.

Mas eu queria tanto. Tanto, que ela ficasse, por mim. Comigo. Mas eu não mereço, ela não merece alguém como eu. Merece mais, melhor. Então no momento em que ela deu um soco em Murray eu decidi que não causaria mais mal na vida de ninguém. Muito menos na vida de Wednesday. Ela ficaria melhor longe de mim e meus problemas.

Enquanto eu andava pelos corredores antes de esbarrar naqueles olhos negros, eu consegui pegar um bisturi em uma sala. E o escondi. E quando tudo estava sufocante demais, eu simplesmente fiz o que estava adiando a muito tempo.

A dor em meu peito foi intensa. Um grito agoniado saiu da minha garganta e senti meu corpo indo de encontro com o chão.

Minha mente ficou confusa, de repente Wednesday estava do meu lado chorando e apertando meu peito. Seu toque apesar de intensificar a dor no local, era reconfortante. Vi em seus olhos o medo e a tristeza que eu causei e me arrependo imensamente por ter feito isso na frente dela. A culpa me corroeu mais do que o ferimento que causei. Nos seus olhos eu vi algo que não consegui decifrar, mas que me fez querer voltar no tempo e não ter feito isso. Ter ficado... por ela.

Movimentos... vozes... choro. Era tudo confuso, mas eu ouvia Wednesday dizendo “Por favor, Enid, fica comigo. Não durma, a enfermeira está vindo. Por favor, fica comigo. Olha para mim, Nid. Não dorme.” e tentei não dormir, mas era como se uma força maior me puxasse para a escuridão. Tentei focar em seus olhos o máximo possível. Só existia ela ali, só aqueles olhos banhados em lágrimas. Lágrimas causadas por mim.

Eu não queria que ela chorasse. Não imaginei que ela sofreria por mim, mas ela estava sofrendo. Por minha culpa.
Eu precisava pedir perdão por essa dor que a causei. Mas não conseguia.

E, quando finalmente consegui sussurrar um pedido de perdão, tudo se apagou.

[...]

Se eu não tivesse você - Wenclair | g!pOnde histórias criam vida. Descubra agora