Y7- O Casamento

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✨Lumos✨

Pov da Narradora — 29 de abril de 1989

Os risos infantis eram o único som que passeava pelas ruas naquela tarde primaveril. S/N tentava ignorar ao máximo o ruído de fundo, olhando para as nuvens branquinhas que decoravam os céus ou pintando seu caderno de folhas brancas, preenchendo-o com desenhos que mal faziam sentido.

Quem no seu perfeito juízo desenharia uma fogueira no tempo livre?

A jovem menina não sabia o motivo pelo qual o fazia, apenas sentia vontade. Nas folhas anteriores, ela desenhara e colorira um desenho onde estava retratado um pobre casebre no alto de uma montanha, rodeado por enormes árvores e, estranhamente, S/N decidira que para complementá-lo um ursinho de pelúcia deveria repousar ao sol.

Ela gostou do desenho por algum motivo, mas assim que o observou com mais atenção, percebeu que os traços eram desleixados, que sua pintura deixara pelo meio imensos espaços em branco e que nada ali fazia sentido. Mesmo que S/N S/S tivesse apenas oito anos, ela sabia que poucas coisas faziam sentido.

O mundo não era colorido como nos desenhos que passavam na televisão ou como os parquinhos — exatamente como aquele onde ela estava — tentavam demonstrar. Ele possuía, sim, algumas cores. Porém, não eram tão intensas quanto ela gostaria.

S/N observou o desenho mais uma vez e então, num minuto de coragem, arrancou-o do caderno de desenho. Depois, rasgou-o ao meio. Antes de jogá-lo no lixo, a menina dobrou cada pedacinho de papel com força até que formasse duas bolas de papel. S/N conseguiu lançar as duas na direção do cesto, mas só uma caiu no local correto.

A outra chocou-se contra as costas de uma menina. Não queria que aquilo acontecesse, até porque fora um simples acidente, mas Jenny virou-se com os olhos extremamente vermelhos cintilando com lágrimas de crocodilo.

Embora fosse cinco meses mais nova, Jenny tinha sua idade. Seus longos fios de um loiro ondulado caíam por suas costas e as cores dos mares que banham a costa da Grécia coloriam seus olhos. Era uma bela menina que possuía uma beleza natural. Porém, era uma pena que suas ações ficassem aquém.

S/N conhecia cada pormenor como a palma da mão, mas desde que Jenny simplesmente acabara com a amizade entre elas, a menina não sabia se a conhecia verdadeiramente.

Ela era horrível.

Mesmo assim, a situação doía muito. Perder sua melhor amiga de um dia para o outro machucava. Especialmente quando ela nada tinha feito.

— Quem atirou isso? — Jenny questionou à beira das lágrimas.

S/N manteve-se em silêncio, encarando a folha em branco do seu caderno de desenho. Se não olhasse para ela, talvez Jenny não reparasse que a menina era a responsável pelo ocorrido. Em parte, S/N sabia que não deveria sentir remorsos, porém, na outra ponta da espada, havia um longo abismo de memórias que a faziam cair.

Talvez esse fosse seu defeito fatal: sentir cada pequeno detalhe em demasia.

Jenny continuou explorando com o olhar as crianças que brincavam livremente e que soltavam risos animados a cada segundo. Seus olhos já não ardiam — uma vez que suas lágrimas eram falsas, nunca sequer chegaram a arder —, e, por isso, a loira deu de ombros e correu em direção a uma garotinha ruiva que a chamava, impaciente.

S/N engoliu em seco, apertando ambas as mãos com força uma na outra. Seus pulmões pesavam e sua garganta, esmagada por lágrimas recentes, quase implorava para que o ar a estrangulasse.

Uma adaga cravada em seu peito, assim como em Romeu e Julieta, doeria menos do que sentir que a culpa andava por suas veias. Era doloroso, cruel e esmagador. Ela poderia muito bem carregar um explosivo em suas pequenas mãos. Se explodisse, se fosse levada pela brisa em partículas invisíveis, o frenesi em sua mente acataria finalmente uma ordem de descanso.

𝐈𝐓 𝐖𝐀𝐒 𝐌𝐄𝐀𝐍𝐓 𝐓𝐎 𝐁𝐄, Harry PotterOnde histórias criam vida. Descubra agora