capítulo 29

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Eduardo Montawk


Aproveitei a agenda livre do dia e convidei o meu primo Heitor para me visitar como se fosse uma reunião de trabalho, preciso conversar com alguém e ele definitivamente é a melhor escolha.

—Heitor, finalmente chegou. — Comentei assim que ele passou pela porta da minha sala.

Eu e o meu primo éramos muito unidos quando meus pais eram vivos, na verdade ele é a única família que eu tenho contato verdadeiramente, porem com o passar do tempo nós fomos focando em nossas próprias vidas que fomos nos afastando de forma progressiva.

— Você parecia desesperado demais no telefone, eu teria vindo mais cedo, mas tive que deixar a Hanna na aula.— Heitor tem uma filhinha de dois anos e meio, fruto de uma aventura amorosa que engravidou, escondeu a gravidez e quando a garotinha nasceu ela simplesmente  abandonou na porta da casa do meu primo com nada mais que um bilhete.

Ele podia ter suspeitado que a menina não era filha dele, mas eles se parecem tanto... No entanto ele não se deixou levar por isso, realizou um teste de DNA e diante do resultado positivo de paternidade ele assumiu interinamente o compromisso de cuidar da menina.

— Sem sucesso na busca por uma baba?— Perguntei prendendo o riso.

Heitor consegue ser tão exigente quanto possível quando se trata de uma baba para a sua pequena, nenhuma das anteriores foi boa o bastante em seu crivo e ele procura por uma desde que a Hanna apareceu em sua porta. Eu tenho minhas duvidas se um dia ele encontrará.

— Nenhuma se esforça de verdade, no primeiro susto já correm.— Meu primo disse parecendo cansado.

Quando ele disse isso algo me veio a cabeça, talvez seja a minha boa ação e eu tire alguns pecados da minha conta com isso.

— Tem uma vendedora de flores, ela trabalha em uma floricultura aqui perto, a vi apenas duas vezes mas parece ser uma boa pessoa, e acima de tudo, ela tem extrema necessidade por um bom salario, a mãe dela é doente e acho que susto nenhum no mundo seria o bastante para fazer ela desistir. É só um palpite.— Sugeri dando de ombros me recordando da jovem garota que conheci no primeiro jantar com a Barbara.

A jovem parecia tão necessitada de um bom salario... Espero que ela seja a baba perfeita para a minha querida Hanna.

Heitor pareceu pensar um pouco a respeito e acenou com a cabeça lentamente.

— Sabe o nome dela?— Questionou com atenção e eu neguei com a cabeça sem conseguir me recordar se ao menos já perguntei o nome da garota alguma vez.

— É na floricultura aqui perto, só trabalham lá ela e a dona da loja, a garota é a mais jovem, não tem como confundir.— Respondi e ele concordou prontamente.

— Não acho que vou perder muito por tentar, então irei lá. Mas agora vamos falar sobre o seu problema, como assim você de repente está noivo?— Heitor questionou sorrindo para mim, não o sorriso de achar graça da situação, mas aquele tipo de sorriso que irrita até o ultimo fio de cabelo.

— Não foi planejado.— Confessei e a partir daí eu lhe contei toda a historia com riqueza de detalhes.

Contei que agi em um completo impulso desesperado, uma tentativa sem pretextos para manter a empresa do meu amigo segura, mas eu não previ o tipo de confusão na qual eu poderia me meter com isso.

— Então o noivado é uma mentira?— Heitor questionou tentando acompanhar o raciocínio.

— Era.— Respondi simplesmente dando ênfase no passado, por que no momento a nossa relação é tudo, menos uma farsa.

— E nesse meio tempo você traia a sua noiva com a sua secretária?— Questionou novamente me encarando com atenção.

Não sei explicar, mas a mera menção da palavra "traição" fez o meu estomago revirar e eu fique inegavelmente enjoado, me sentindo sujo e indigno.

— Eu não vi como traição, afinal não estávamos juntos de verdade.— Respondi tentando afastar a clara sensação de vergonha que se instalou em meu peito quando pronunciei essas palavras.

É  claro que foi uma traição.

Uma atitude indigna, baixa e suja que eu tive, usando o pior pretexto que alguém poderia usar para algo assim.

Eu sou homem.

Sinceramente, estou com tanto repudio por mim mesmo agora que não me vejo sendo um homem de verdade.

Heitor me olhou com expressão de tedio, como se não tivesse acreditado nas minhas palavras.

— Mas ela vai ver como traição. E isso na melhor das hipóteses por que ela pode ver como uma dupla traição na pior, afinal você  prometeu para ela que não faria isso novamente e fez.— Meu primo constatou o obvio e isso me fez contemplar o perfeito abismo se formando na minha frente.

Eu estou perdido! Completamente perdido.

— Santo Deus, não sei o que fazer!— Exclamei preocupado com o cenário aterrorizante a minha frente.

— Você podia tentar o convencional e quase sempre bem sucedido: converse com ela. A garota é jovem, mas não é criança primo, se você for claro com ela tenho certeza que vai lhe compreender. Relacionamentos não podem se manter com segredos.— Heitor disse e eu olhei para ele tentando absorver tudo.

Eu sei que ele está certo e que eu deveria fazer isso, mas não tenho certeza se ela entenderia.

Nunca me apaixonei antes, não sei o que fazer com o medo crescente que eu sinto de perde-la caso conte a verdade.

— Vou pensar na  forma certa de contar, mas só depois da festa de noivado, seu convite já chegou?— Perguntei tentando colocar outro assunto no meio desse, a conversa com o Heitor foi muito esclarecedora isso é um fato, mas ainda assim não sei o que fazer.

— Chegou sim, e eu já confirmei presença. Edu, você gosta da garota, não estrague isso com mentiras.— Ele disse e eu assenti com a cabeça. tudo o que eu menos quero é estragar a nossa prematura relação que está indo muito bem.

— Claro, e você, o homem que nunca teve um relacionamento serio, é o especialista nisso.— Retruquei sem perder a oportunidade de alfinetar um pouco.

— Treinador não joga, primo. Não dê a chance de nada externo estragar seu relacionamento. Agora eu já vou embora, vou passar nessa floricultura antes de ir para o trabalho.— Assenti e agradeci pela ajuda.

Quando Heitor passou pela porta e foi embora eu fiquei sozinho com os meus pensamentos, tive bastante tempo para pensar a respeito do que deveria fazer e cheguei a mesma conclusão que antes: Preciso enfrentar o meu medo e fazer o que é certo.

Depois da festa.

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