Capítulo 1

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Todo mundo percebe que você está envenenando o poço.
Mas não há erros, exceto os que você cria.
Você precisa saber o seu lugar.
Porque a coisa vai ficar pesada.
Devil - Shinedown

DEAMHAN

   Em muitos anos, vivendo sob densa escuridão, me senti perdido. Me senti derrotado, algumas vezes, mas em diversos momentos senti fúria, e senti solidão, porém isso mudou há dezoito anos, quase dezenove.

A razão da minha mudança vivia tagarelando em sua mente. Algo que qualquer idiota perceberia pela forma como ela move suas feições, mesmo estando sozinha e mesmo não falando nada. Apenas com seus pensamentos conturbados.
Sempre foi assim, desde criança.

Mas quando não tinha tanta idade, ela não costumava ser tão quieta quanto está no presente. Mais nova, minha pequena Lua comentava com as outras pessoas sobre coisas que via e que ouvia. Sobre coisas que a rondam desde seu nascimento. Sobre mim.

Sem maldade, a inocente criança dizia sobre suas "sombras protetoras" a todos, mas por receber broncas, e ser apelidada de doida, Luna começou a não querer mais ser amiga das sombras. Ela pediu ajuda para as irmãs do orfanato que tentaram "puxar para fora o demônio dentro dela", palavras de uma das freiras.

O que, claro, não deu certo. Por mais que a equipe especializada em exorcismo enviada pela igreja fizessem números espetaculares e dignos de um bom exorcismo, Luna não tinha um demônio no corpo.

Mesmo se eu estivesse em seu corpo ou em sua mente, eu não sou um demônio infernal, sou um tipo de demônio? pode se dizer que sim, mas não o tipo que eles estavam acostumados a lidar. Eu não sou desse mundo, então suas práticas não me atingem, pois estas não foram feitas para aprisionar seres como eu.

E naquele dia, eles souberam disso, souberam que não eram capazes de tirá-la de mim.

Diante do exorcismo não realizado, seus olhos cinzentos continuaram meigos olhando com atenção os movimentos dos religiosos, sua áurea continuou em paz. Ela continuava sentada na cama velha que a tinham posto, suas perninhas juntas e as mãozinhas tão pequenas sob suas coxas cobertas por um enorme vestido branco, que a deixava parecendo um bolo gordo.

Os exorcistas não entendiam, e, ao verem que não havia tido resultado, correram para fora do quarto, afim de conversar com irmã Dulce, sem que a criança escutasse.

-Ela não possui nada maligno com ela. - O padre velho cochichou. -Nada espiritual.

O trio de idiotas ocupavam o corredor, estavam a centímetros da porta que Luna estava, de onde ela estava, em cima da cama velha, não conseguia ver sombras se enroscando maliciosamente no Padre e em sua acompanhante. Especialmente naquela mulher.

Ao visitar seus pensamentos- coisa que eu fazia raramente desde o nascimento de Luna- eu pude saber seus pecados. O quanto ela era fodida pelo Padre no seu escritório, o quanto ela era uma vadia má, e seu nome cantarolou em minha mente.

Rachel.

Era incrível olhar seus pensamentos assim, vê-la parecer tão pura com suas vestes e rosto sereno, mas eu tinha aprendido com Maria, a ultima freira que matei, a maioria delas eram vadias imundas. E eu estava ansioso para purifica-la com minha adaga flamejante. Rachel constantemente pensava o quão Luna era repugnante, mas para a Freira, todos eram. Eu achava isso engraçado nos humanos, os religiosos eram os mais cheios de ódio, em sua maioria, com raras exceções.

Fazia tempos que eu não demorava ao matar alguém, Luna conseguia ser um perigo para si mesma, e eu não deixava minha protegida sozinha por muito tempo. Matar alguém a sua frente também não eram coisas que eu fazia, tinha um plano e um objetivo: Mantê-la o mais normal possível. Mas por algum motivo, que eu não reconhecia, minhas sombras eram completamente expostas aos seus olhos. Ela não me via com o canal de comunicação fechado, mas via as sombras independente do que eu fizesse. Assim como eu não conseguia ler seus pensamentos, mas este eu sabia o motivo.

DeamhanOnde histórias criam vida. Descubra agora