Capítulo 5

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Eu venho como uma lâmina
Um guardião sagrado
Então você me mantém atento e testa meu valor em sangue
Você me pegou em uma coleira.
Chokehold - Sleep Token

DEAMHAN

   É, eu tinha fodido com tudo.
Queimar a festa ridícula não foi o meu pior ato da noite, o que me preocupava, de fato, era ter permitido a proximidade evoluir... Tanto.

Eu devia ser um guardião, mas estava tão preso em sua coleira que não pude resistir às suas provocações infantis. Pela Deusa, eu era um homem com tanta experiência... Como pude me deixar levar por minha protegida drogada?

E, sentado em um banco do corredor do dormitório feminino, eu estava fazendo o que um belo covarde faz: Eu estava a evitando.

Eu estava fugindo, porquê temia pular em seu pescoço assim que tivesse chance. Eu precisava de um tempinho, eu precisava me controlar e, com certeza, eu precisava que ela estivesse sóbria. Seu sabor ainda estava em minha boca, eu ainda sentia sua pele macia em meus dedos, suas coxas grossas envolta de mim...

  Minha mão chocou a minha cara numa tentativa patética, quase falha, de me levar de volta para a realidade. Que porra? Eu não me reconheço. Nunca perdi tanto o controle das minhas ações. Eu parecia um adolescente.

A culpa foi minha. Era uma verdade difícil de engolir, mas o pensamento estava sempre alí.

Em toda a sua vida, eu sempre quis que Luna vivesse coisas reais, por esse motivo ninguém a adotara. Todos desistiam quando a verdade vinha a tona: Luna tinha "amigos imaginários". Que foi a forma tola que Dulce explicara durante um longo tempo sobre a situação da criança. Ela se sentia em dívida com seu Deus se não contasse nada, mas também não queria dizer exatamente tudo o que vira e ouvira, ela ainda lembrava da minha voz, ainda a temia...

E, mesmo naquela festa, antes do desastre vir a tona, pensando sobre ela ter uma vida normal, eu me permiti não manipular ninguém para se afastar dela. Deixei que alguns garotos idiotas a chamassem pra dançar, mesmo sabendo que ela iria recusar, deixei que ela conversasse com pessoas também. Não foi tão difícil, no início, Luna não era o centro das atenções e eu estava sob controle. Então, relaxando como um protetor nunca deve fazer, eu acabei esquecendo que humanos podem ser criaturas desprezíveis. Eu sentia a culpa vibrar em meu peito só pelos pensamentos da noite da passada, quando os sentimentos sobre isso vinham a tona, era pior ainda.

Sua "amiga" Carol se afastou por alguns minutos, e eu permaneci ao lado de Luna enquanto via a proximidade daquele garoto sarnento, então não vi quando o copo que a universitária veterana trazia fora alterado.

Ecstasy misturado com Catuaba. Bebida terrível com droga idiota. Sem contar na maconha que eu vi Luna aceitar de Carol, e simplesmente não fiz nada porquê ei, ela tem dezoito anos, precisa se divertir e fazer suas escolhas.

Que merda de protetor eu sou?

As drogas em seu sangue explicavam as atitudes dela. Mas não explicavam minhas reações a estas atitudes.

  Eu estava todo liberal com ela, a deixei fumar, a deixei beber como uma tonta, a deixei conversar com rapazes, mas vê-la tão próxima de um... o beijando com tanta vontade. Eu não consegui.

Se eu queria tanto que ela vivesse coisas reais, por que não com Isaac?

Eu não conseguia nem me permitir pensar nisso. Enquanto estava do lado de fora do quarto minúsculo, esperando Luna acordar com uma ressaca destruidora, me perdia em mais e mais pensamentos com a culpa me atingindo a cada curva destes.

DeamhanOnde histórias criam vida. Descubra agora