Capítulo 23

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Amante, caçador, amigo e inimigo

Você sempre será cada um desses

Nada é justo no amor e na guerra
Na vida, no amor, desta vez não posso perder
Love And War - Fleurie

LUA LURACH


   A comida de Leona era cheirosa e saborosa, mas eu quase não consegui comer com tantos sentimentos entalados em minha garganta. Fazia um pouco mais de vinte e quatro horas que eu não o via. E, pra mim, era sempre estranho não estar acompanhada de Deamhan quando vivi a vida toda cercada dele.

Durante todo o dia eu aprendi sobre magia e Dìomhair com Peter, lutei com as gêmeas e Alex, e fiz de tudo para não pensar nele.

Deamhan não apareceu desde o ocorrido no meu quarto, eu não perguntei por ele e ninguém disse sobre o seu paradeiro. A verdade é que eu queria esquecer por um minuto da sua existência, mesmo que todo o meu interior quisesse exatamente o contrário e insistisse a todo momento que eu me lembrasse dele.

   Eu tento prestar atenção na conversa à mesa, tento apreciar a comida e me divertir com as gêmeas, que descobri serem bem divertidas, mas eu não consigo me concentrar em qualquer coisa que não seja ele.

Eu não esqueço de suas palavras. Não esqueço de sua frieza comigo, tão diferente do Deam que fez compras pensando carinhosamente em cada coisa que eu gostaria de ter e consumir. Seria essa a diferença entre ele e Ciontach? Então por que me esperou com tanto afinco, como dizem que fez? As gêmeas estariam brincando comigo? Elas não pareciam ter esse tipo de brincadeira...

   A quem eu quero enganar?
Não há maneiras de pensar em Deamhan como alguém com sanidade, claramente ele era tão instável quanto um humano doente da cabeça. Não que eu tenha muito critério para julgar a loucura alheia, mas pensar nele como se ele fosse normal é traçar uma estrada que não me levará a caminho algum.

—Isso não pode ficar assim. -Minha sombra sussurrou em meu ouvido, apenas para mim. Todos na mesa estavam por fora daquela conversa, rindo e comentando sobre qualquer coisa que eles perderam por anos afastados. —Deamhan não pode falar conosco assim. Ele foi muito rude. Não merecemos isso!

As vozes eram banhadas de raiva e um desejo de vingança, ao qual eu tentei ignorar bebendo um pouco do vinho em minha taça. Mas a verdade é que por mais que tentasse ignorar, Deamhan era dono de todos os meus pensamentos.

Eu pensava sobre a forma que ele me beijava com tanta fome. Pensava o quão errado isso era, e o quão eu desejava cada parte errada disso.

E então o pensamento de nossa briga, nossa violência para com o outro, nossos olhares furiosos, suas palavras amargas...

"Eu fui torturado por semanas antes do seu nascimento. Três semanas!" A sua voz soou como um trovão em minhas memórias.

Três semanas.

Quem o torturaria por tanto tempo? Eu não consigo nem imaginar Deamhan preso, ou em algum tipo de posição passiva, não consigo imagina-lo sendo atacado, mas consigo imagina-lo atacando. Ainda me lembro bem do que ele fez com aquela mulher na floresta da Universidade.

—Está calada, Lua. -Leona riu passando a mão pelos cabelos iluminados em tom de mel, os arrastando para trás, e me tirando dos meus pensamentos por um tempo.

Eu gostava de como seus cabelos nunca estavam divididos e caíam em ondas repicadas tão naturalmente enquanto estavam soltos. Seus lábios eram tão cheios quanto os de Indie, assim como seus olhos castanhos e todo o resto do corpo eram idênticos. Sua pele era um tom bege bronzeado quente que a deixava tão atraente quanto uma modelo de capa de revista, sem contar no corpo amplamente definido, sem nenhuma gordura localizada. Por elas já serem caçadoras quando eu era criança, eu sei que estão beirando os quarenta anos, mas por sua aparência ninguém confirma isso. Não há tantas linhas de expressão, não há um cabelo branco se quer. A pele de ambas é bem cuidada, a saúde de ambas parece imbatível, assim como elas carregam uma beleza surreal, a ostentando por aí.

DeamhanOnde histórias criam vida. Descubra agora