Capítulo 3

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Quanto mais alto eu vou, mais baixo eu afundo.
Não consigo afogar meus demônios , eles sabem nadar.
Você pode sentir o meu coração?
Você pode sentir o silêncio da minha cabeça ficando mais alto?
Eu tenho ouvido vozes quando durmo.
Can you feel my heart- Motchica Version

LUNA

   Um toque quente pairou sob minha bochecha, e eu senti um dedo limpar a água que escorria de meus olhos sem o meu controle. Mas as sombras não estavam mais lá. Não eram as sombras que me tocavam. Mas a voz que ouvi, é aquela voz que vêm me guiando desde que eu me lembro, junto as minhas sombras guardiãs. A voz que por muito tempo eu pensava ser das sombras.

Mas aquele toque não vinha delas.

As sombras se enroscavam em meus cabelos, como um gesto carinhoso, se mexiam sem parar e eu prendi a respiração com o peito acelerado, ainda sentindo o toque daquela mão em minha face. Meu coração parecia sair da garganta com a adrenalina de ouvir aquela voz, de sentir aquelas coisas, de não poder dizer a ninguém, de saber que aquilo era errado, dos arrepios que ganhavam o meu corpo, das sensações que apenas aquela estranheza me fazia sentir...

Pessoas normais não vêem sombras, não ouvem vozes, não conversam com sombras e nem as tocam. Mas eu não era normal, sempre soube disso. E por um tempo isso me assustou, por um tempo isso me incomodou, mas depois eu até mesmo me senti especial, porquê eu tinha um protetor. Independente do que as pessoas achariam ou não se soubessem, eu tinha as sombras como meus guias, elas me protegiam e aquela voz me acompanhava. Era raro eu ouvi-la, mas sabia que estava lá para mim.

Aquela voz quase nunca aparecia, mas apareceu naquele momento, para dizer que sou dele.

Para me obrigar a não beijar o homem lindo que estava me dando um mole danado. Eu seria burra de não ter interesse em Isaac, era um homem muito bonito e seu jeito era tão acolhedor e gentil. Sua pele marrom combinava perfeitamente com os olhos castanhos e cabelos crespos do mesmo tom.

Ele era simpático, cheiroso e gentil.
Por que eu não ficaria com ele?

Mas então aquela voz retornou à minha cabeça.

"-Minha Lua."
O apelido, o timbre... Me arrepiaram e me faziam querer mais. Era a mesma voz masculina que eu tanto ouvia, o mesmo tom rouco demais, diferente de tudo que já ouvi. Era insano, era magnético, era enlouquecedor e atraente.

E num impulso, sem pensar muito sobre onde eu estava, com quem estava, ou se alguém poderia me ver, eu levantei a mão, que pareceu encontrar outra, pairada sob a minha bochecha. Eu corri meus olhos para o local, e em, literalmente, um piscar de olhos, uma mão apareceu.

O toque se tornou ainda mais real quando eu o vi, a centímetros de mim. O susto que eu tomei foi evidente ao que estava diante dos meus olhos. Ao mesmo tempo que parecia com um homem, era muito longe disso.

Não tem como um ser humano ser tão belo.

Mas não era só sua beleza extraordinária que alegava a sua falta de humanidade. Suas orelhas longas rente a cabeça eram pontudas, mesmo que os cabelos negros a escondessem parcialmente. Sua pele castanha clara parecia ser o par perfeito aos olhos dourados, e eu percebi que atrás dos ombros largos e fortes as sombras estavam lá, junto com uma neblina assustadora. Como se saíssem dele.
Os olhos alongados eram dourados. Sim, dourados. E eles cresceram um pouco desde a primeira vez que os vi, há segundos atrás. Se arregalando levemente, antes de voltar ao normal. Mostrando uma evidente surpresa nele. Em segundos. Era como se eu o visse em câmera lenta, e meu estômago afundava cada vez mais.

DeamhanOnde histórias criam vida. Descubra agora