Capítulo 20

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Quando minha hora chegar
Deite-me suavemente na terra fria escura
Nenhuma sepultura pode segurar meu corpo
Eu rastejarei para casa, para ela
Work Song - Hozier


DEAMHAN

   Quando a deitei na cama do quarto que um dia foi meu, eu não consegui me permitir afastar. De joelhos no chão, eu agarrei sua mão. Suspirei, e me permiti abaixar as muralhas que eu sempre erguia. Meu coração acelerado e o desconforto eminente só demonstravam descaradamente a verdade que eu não queria encarar. Eu estava desesperado.

Antes que eu pudesse controlar meus olhos queimaram, e eu me segurava em sua mão como uma âncora. Como se eu estivesse a deriva, e ela pudesse me manter firme. Exatamente como na última vez em que chorei, com Lua recém nascida no meu colo.

Ela sempre foi a minha âncora.

Desde seu nascimento eu nunca havia chorado. Lua não precisava de um protetor fraco, então eu simplesmente não fui um. Mas no dia em que perdi minha família que ganhei depois de tantos anos vagando por aí sozinho... eu chorei como nunca antes. Depois de ser negado por meus pais biológicos, depois de ter passado pela guerra, depois de fugir tanto, quando eu finalmente encontrei um lar... eu perdi tudo.

E então, eu tinha ela.

Lua... Que precisava de mim, que só tinha a mim, assim como ela era tudo o que me restava. Eu juntei os cacos, todas as forças que me restavam foram direcionadas a ela, aquela pequena parte de Miha e Klavi, minha protegida.

E agora, olhando seu corpo desacordado, deitado em seu leito aparentemente pacífico, mas cercado de névoa densa e guerreando uma batalha decisiva, memórias começaram a me atingir, lembranças de um período onde eu não a tinha ainda, de um período onde eu não fazia ideia do que passaríamos.

Miha alisava a barriga grande escondida no vestido negro de chiffon que balançava seus recortes junto a brisa daquela noite. O vestido era algo parecido com o que Miha sempre costumava usar, leve, elegante e preto. Ele possuía um decote singelo no busto e as costas ficavam completamente a mostra, as mangas longas eram recortadas e qualquer um que a visse poderia estaria encantado com sua beleza.

Sua criança parecerá tão bela quanto ela? Eu me lembro de ter pensado naquela noite, completamente alheio a perfeição que Lua seria.

Seu rosto tão angelical era iluminado pela lua e seu sorriso feliz vibrava a atmosfera em nossa volta. Miha era tão bonita, quanto era irritante, e aquela criaturinha centenas de anos mais nova que eu, que me chamava de irmão e que eu não conseguia entender como realmente se tornou minha irmã mais nova, me parecia nova demais para ser mãe. Mas a forma que olhava para sua barriga me provava que não haveria criança mais amada em todo aquele Reino.

Klavi estava em uma viagem para representar o reino Gealaich, já que não era bom para Miha certos esforços no final de sua gestação. Eu, o Comandante da sua guarda, permanecia sempre ao seu lado quando Klavi não estava, já que eu não confiava em nenhuma outra pessoa para fazer sua segurança. Acho que minha Rainha nem me permitiria colocar outra pessoa para sua guarda, Miha não se sente confortável com qualquer pessoa, e com seu irmão ela conversa, e me perturba, claro.

-O clima não está bom, Deamhan?- Ela me encarou sob os olhos cinzentos monólitos. Os olhinhos pequenos e puxadinhos a davam um semblante mais inocente do que ela realmente era. Seu sorriso ainda largo no rosto e suas mãos ainda acariciando a protuberância em sua barriga, enquanto os cabelos pretos se agitavam com a ventania que a atingia. -Como naquele dia, no dia que nos conhecemos.

DeamhanOnde histórias criam vida. Descubra agora