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Thalita

SEGUNDA-FEIRA

Três dias se passaram desde o baile e desde que meu pai viajou. Mesmo que o clima de festa tenha acabado, a correria ainda continua. É bem cansativo pra falar a verdade, Lc e Terror me ajudaram bastante nesses últimos dias a manter tudo organizado e para que eu aprendesse a fazer as coisas.

Essas partes mais complicadas de comandar um morro são as menos faladas por aí. Muitos falam o quanto é bom ter dinheiro pra caralho, mulher se esfregando e se jogando em você nos bailes e muitas outras coisas consideradas positivas pelos homens que acham que essa vida é mil maravilhas. Ser uma mulher nesse meio é foda nos dois sentidos. É ruim pela grande quantidade de machistas que acham que você está ali pra ser escrava sexual deles; pelo fato de não sermos totalmente respeitadas, às vezes nem quando tocamos o terror com eles;  por eles acharem que tem mais autoridade por serem homens, entre muitos outros.

Mas, pelo lado "bom", apesar de poucas, ainda sim conseguimos mandar e comandar alguns morros. Isso aqui, pra mim, é um enorme avanço. Ser a futura dona do PPG num lugar onde os filhos homens é quem sempre herdam, é um privilégio. Eu batalhei muito e ainda continuo batalhando pra conseguir total respeito como chefe, mas, mesmo assim sei que sempre vão ter aqueles babacas machistas querendo me colocar pra baixo. 

Meu pai foi fundamental em me ajudar a crescer forte e independente, de me ensinar a não abaixar a cabeça pra ninguém em nenhuma área da minha vida. Carlos Dias foi, e continua sendo o melhor pai que a vida me deu. Há nove anos atrás, uma nova Thalita nasceu, uma mais forte, que conseguiria bater de frente com o mundo se fosse preciso, e tudo isso foi graças a ele. 

Claro que também tive minha fase "rebelde", mas ela só me serviu pra mostrar o quão forte eu poderia ser. Aquele meu ex acabou com o pouco de pureza que ainda restava em mim, o pouco que meu pai conseguiu restaurar quando me salvou da mulher que me colocou no mundo. Se eu não tivesse me envolvido com o filho de um dos maiores delegados do Rio de Janeiro, muita coisa teria sido diferente, mas, eu estava sendo enganada pela primeira paixonite adolescente, aquela que te destrói da pior forma possível. Eu quase acabei com todas as poucas pessoas que eu amo! Tudo por um maldito plano daquele desgraçadinho e seu papai delegado!

Bem, acabei me distraindo para o que realmente importa. Nesse momento, tenho que passar alista de pessoas que devem ser cobradas pro KL. Ele e alguns moleques vão fazer uma visitinha a esses devedores de merda que acham que aqui é a porra da Disney.  Pego meu radinho e aciono eles pra fazer esse serviço o mais rápido possível, pois tenho mais um monte de coisa pra resolver.

Pensar nesses viciados devedores me lembra a mulher que me colocou no mundo. Eu sempre tento evitar lembrar do tempo em que ela estava viva, era praticamente insignificante já que ela passava o tempo todo dopada no chão do barraco em que a gente vivia. No começo, ainda haviam móveis, completamente desgastados sim, mas tinha algo ali. Era num sofá amarelo completamente encardido que eu dormia quase todas as noites, sempre acordando com qualquer barulho que ouvia.

Quando meu pai foi pessoalmente cobrar a enorme quantia de dinheiro que ela tava devendo, eu sabia que minha vida mudaria naquele instante. Achei que ele me trataria como ela me tratava, como se eu fosse um enorme fardo, um lixo, um nada, que não merecia amor e carinho como as outras crianças. Ela nunca me amou de verdade, nunca quis saber de mim, ela foi capaz de vender a própria filha só pra quitar a dívida de drogas dela! Ela foi o motivo da minha rebeldia. Pois eu não conseguia acreditar que a minha mãe, a mulher que deveria me amar e cuidar de mim  como seu bem mais precioso, preferia se matar lentamente, do que me criar.

Afasto esses malditos pensamentos e volto a me concentrar no resto das minhas tarefas. Terror abre a porta da salinha com alguns papéis na mão, indo se sentar no sofá de frente pra minha mesa.

- Sua mãe não te ensinou a bater na porta dos outros não?

- Tu mal começou os serviços e já quer mandar em mim? Me respeite que eu sou bem mais velho que você!

- Você admitindo que é mais velho que eu sem surtar é uma novidade! - relaxo em minha cadeira e digo: -  Então, o que veio fazer aqui com esse monte de papel?

- São os recibos dos aluguéis das casas. Por enquanto esses aqui são só os da viela A. Pedi que alguns meninos de confiança entregassem nas casas do povo, mas antes, queria que você desse uma conferida se está tudo certinho e anotasse no caderno do seu pai. 

- Mas por que não anotam essas coisas pelo computador? É só pedir pro Bola dar um jeito nisso com aquele mega pc dele. Ia ser bem mais rápido, tenho certeza!

- Seu pai anota dos dois jeitos. O Bola já fez a parte dele, agora é a sua vez de pegar o caderninho do papai e anotar tudinho, sem reclamar! - ele dá um sorriso e me entrega a pilha de recibos, em seguida se levanta e começa a sair da sala, mas eu digo:

- Pera aí! Tua vai me deixar fazendo isso tudo sozinha?

- Tu num quer ser a dona disso aqui, Thata? Tem que fazer todas as coisas que seu pai faz também. - ele abre a porta da salinha - E eu tenho que sair pra resolver umas coisinhas aí, talvez eu demore um pouquinho pra voltar.

Terror sai e bate a porta. Filho da puta! Certeza que me largou aqui resolvendo isso sozinha pra ir transar. Ele deve tá amando que meu pai tá viajando pra poder ir pegar mulher a hora que quiser. Bem, o que me resta fazer é começar a passar as anotações pro caderno do meu pai né?! Vai ser um longo dia escrevendo e, quanto mais eu demorar, mais tarde eu vou terminar. 


Oioi pessoal, espero que tenham gostado! Deixem sua estrelinha, comentem bastante e até o próximo <3

Amor ProibidoOnde histórias criam vida. Descubra agora