luzes de trânsito

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Remus nunca acreditou que a causa da sua morte poderia ser um silêncio duradouro

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Remus nunca acreditou que a causa da sua morte poderia ser um silêncio duradouro. Nunca acreditou, também, que Sirius Black pudesse estar envolvido no seu obituário de falecimento; mas depois de dez minutos dentro do carro com ele, estava bastante seguro de que isso viria a acontecer muito cedo.

O único barulho possível de se ouvir além do barulho incessante da chuva era a música no rádio. Óbvio que teria música no carro de Sirius, e óbvio que 90% da sua playlist consistia em músicas do Queen. Essa era a segunda vez que tocava Killer Queen, mas Remus não pretendia reclamar. Ele tinha aprendido, há muito tempo, a gostar dessa banda — principalmente porque Sirius não parava de tocar as músicas em replay, então não havia muita opção além de se apaixonar por Freddie Mercury e suas performances também.

O amor de Sirius, contudo, quase chegava ao nível doentio da palavra.

Remus estava tentando encontrar um assunto que fosse seguro — nada sobre o passado, nada sobre o futuro, nada sobre possíveis novos relacionamentos, nada sobre como a vida foi durante esses quatro anos afastados, nada sobre a saudade esmagadora e enorme que sentiu. No meio de tantas restrições, era difícil achar algo do que se falar.

E o mais estranho é que Remus nunca teve dificuldade em conversar com Sirius.

Seu eu adolescente era uma versão menor, mais espinhenta e paranóica de Remus, que tinha extremas complicações para se comunicar com qualquer pessoa que não fosse ele mesmo. Remus só sabia falar dos seus sentimentos e de coisas em geral quando escrevia no seu diário ou conversava com sua mãe; fora isso, nunca soube se expressar bem. Sempre se sentiu fora do lugar, como uma manga no meio de muitas laranjas. Sabia que não pertencia a nenhum grupo na escola, que ninguém fazia questão de tentar enturmá-lo — e, se sentassem, era capaz que Remus não desse bola. Ele era uma pessoa solitária, mas não sozinha; gostava bastante de ter o seu próprio tempo e espaço. Talvez por essa razão, suas habilidades sociais nunca foram bem exploradas.

Tudo isso para dizer que Remus Lupin não tinha amigos antes de Sirius Black encasquetar com ele e decidir que queria se aproximar do garoto calado e estranho que sentava todos os dias no mesmo lugar: na primeira fileira, diretamente na frente do professor.

Sirius chegou, com toda a sua animação e piadas, e acabou conquistando Remus logo de cara. Mas calma, não foi no sentido que você está pensando. Ele conseguiu o que poucos logravam e alcançou uma parte mais profunda do garoto tímido. A primeira vez que Remus se permitiu a ser ele mesmo com outra pessoa foi com Sirius. Sem filtros, sem paranoias, sem preocupações. Apenas ele. Conseguiu falar, expressar seus sentimentos, conversar do que gostava e ter uma amizade verdadeira, que mais tarde veio a se transformar em coisas mais profundas e confusas.

Remus nunca teve problema ao falar com Sirius. Era algo natural para ele.

Exceto agora.

Ele não sabia por que tinha essa necessidade idiota de conversar. O silêncio estava bom, não estava? Era mais seguro ficar assim. Distante.

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