Remus nunca gostou muito de cinemas, mas, nas poucas vezes em que visitou um, podia afirmar que as memórias e os acontecimentos que transcorreram naquele lugar eram inesquecíveis, marcantes e especiais. O cinema sempre seria aquele lugar em que Sirius e ele se beijaram. Sempre seria o lugar que James, Peter, Lily, Sirius e ele foram quando se formaram no ensino médio. Sempre seria o lugar em que Peter comprou um balde de pipoca doce e derrubou praticamente todos os milhos porque não sabia se sentar na cadeira do cinema. Sempre seria o lugar que guardava risadas, brincadeiras, gritos assustados pelos filmes de terror e suspiros apaixonados pelos momentos românticos.
Enquanto entrava no cinema naquele dia, Remus pensou que ainda conseguia ouvir o eco das gargalhadas, das exclamações, dos sussurros. Quase podia enxergar os beijos, os olhares, os carinhos. Quase podia sentir o toque, o calor, a corrente elétrica.
Quase.
Ao mesmo tempo em que todas as memórias pareciam estar logo ali, à beira da superfície, havia a sensação de que aconteceram na vida passada, que estavam mais distantes e eram mais irreais do que nunca. Quando Grant entrelaçou seus dedos aos de Remus, ele teve certeza de que as coisas eram diferentes agora, e as lembranças anteriores evaporaram lentamente, virando fumaça e se espalhando até ficarem invisíveis.
— Finalmente os pombinhos chegaram! — exclamou James, abrindo os braços para demonstrar a intensidade da sua animação. — Nós morremos e quase decompomos aqui, esperando vocês!
Remus revirou os olhos, um sorriso nos lábios.
— Não é pra tanto — disse. — Nós não estamos tão atrasados assim.
— É culpa dele — acusou Grant, falando pela primeira vez. Todos se viraram para encará-lo, e, mesmo sob a luz fraca do hall de entrada do cinema, Remus observou suas bochechas corarem. O loiro seguiu em frente: — O Rê queria passar numa loja para comprar chocolate e balas. Ele disse que uma sessão de cinema não é uma sessão de cinema sem isso.
— E não é mesmo — falou Sirius, se aproximando de Remus. Ele estava deslumbrante com a jaqueta de couro cheia de bottons coloridos, os coturnos altos com fivela de estrelas, a regata vermelha por baixo e os óculos da mesma cor. Parou de avançar quando chegou a poucos centímetros de Remus, e o sorriso nos seus lábios era cintilante, motivador, e fez o coração de Remus acelerar. Mesmo com os óculos de sol tapando seus olhos, dava para imaginar como estavam brilhando. — Oi. Espero que você tenha comprado a minha barra de chocolate preferida.
Remus ergueu a mão livre, que segurava a sacolinha.
— Meio amargo com castanhas — disse de cor. — Eu nunca me esqueceria.
Sirius passou a língua pelos lábios.
— Acho bom — falou, em um tom provocativo.
Remus podia sentir as faíscas crepitando entre eles, quentes, brilhantes e perigosas. Ele poderia ficar para sempre ali, à mercê de Sirius Black e das suas vontades, mas o aperto na sua mão esquerda o trouxe de volta à realidade.
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Todo Esse Tempo - Wolfstar
Fanfiction{concluída} Na maioria das vezes, voltar para casa depois de anos afastado significa um alívio imenso, uma felicidade absurda. Não para Remus Lupin. Ou, pelo menos, não é assim que o professor recém formado se sente ao se mudar para a fria e tempest...