número dois

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O segundo encontro, de fato, não teve nada a ver com Lily Evans

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O segundo encontro, de fato, não teve nada a ver com Lily Evans.

Remus estava exausto depois de um dia cheio de trabalho. Ele adorava ensinar crianças, estar com elas e observar a inocência e felicidade que brilhavam em seus olhinhos, só que não podia mentir dizendo que o emprego era fácil. Não era. Remus costumava ficar até tarde da noite planejando aulas legais e criativas, diferentes da maioria das tarefas que geralmente eram feitas nas escolas, porque acreditava que cada aluno tinha uma forma especial de inteligência, e desejava explorar todas elas. Ele não dormia bem, e logo de manhã partia para a escola, onde permanecia durante o dia inteiro. Quando chegava em casa, tinha um apartamento inteiro para organizar, comida para fazer e muitas aulas para preparar. Era um ciclo vicioso.

Para Remus, na maioria das vezes, esse ciclo valia a pena.

O contentamento que possuia ao ver aquelas crianças todos os dias era tão grande que quase o fazia esquecer das partes ruins. Porém, a vida era feita de altos e baixos, e naquela segunda-feira em particular, dois dias após o seu fatídico encontro na boate, Remus estava se sentindo mais morto do que vivo.

Foi um dia particularmente difícil na escola. As crianças estavam agitadas e inquietas. Remus estava mais estressado e sem paciência do que o normal. No fim, desistiu de tentar passar o conteúdo que tinha preparado e pediu para que cada um fizesse um simples desenho de como foi o fim de semana. Sem criatividade nenhuma, ele sabia, mas sua mente estava sobrecarregada.

Essa foi a principal razão que o levou até a cafeteria.

— O que você vai querer? — perguntou o atendente, um cara muito bonito, com pequenos cachos dourados definidos e olhos verdes chamativos. Ele tinha um meio sorriso no rosto, como se soubesse de tudo.

Remus não conseguiu retribuir o gesto.

— Um capuccino com muito leite, por favor — respondeu. — Vou pagar no cartão.

— Ok — disse o cara. Ele baixou os olhos para anotar o pedido no papel. — Qual é o seu nome?

— Remus Lupin.

Um sorriso de canto surgiu dos lábios do garoto de olhos verdes. Ele parecia um pouco mais novo que o próprio Remus.

— Nome bonito.

— Obrigado.

Mais alguns segundos, e então ele levantou o rosto. Seus olhos se encontraram com os de Remus.

— Vai ficar pronto em cinco minutos, mais ou menos. Você pode esperar sentado ali, que já vou te levar.

Remus acrescentou que também queria um croissant de chocolate, e então agradeceu o cara e foi até a mesa que ele havia apontado. Era a número 2, ao lado de uma janela de vidro. Parecia grande demais para apenas uma pessoa, mas Remus sentou-se mesmo assim.

Ele não costumava visitar cafeterias com frequência. Geralmente, preferia fazer o seu próprio café em casa, ou ir na livraria que ficava perto do seu apartamento em Manchester, porque lá havia uma máquina de chocolate quente realmente esplêndida.

Com a sua vinda para Londres, esse hábito acabou sendo perdido no meio da viagem, e Remus teria que iniciar a sua busca por uma cafeteria boa/barata/confortável e quieta. Era uma caça demorada, que tinha muitos critérios e miudezas envolvida, mas ele estava disposto a dar o passo principal naquele dia. Quando seu humor estava abaixo de zero e seus pensamentos começavam a ficar altos demais, Remus sabia que era hora para um descanso, para frear o ritmo frenético com que sempre andava. Era como um termômetro interno particular.

Mas agora, voltando ao assunto da caçada pela cafeteria perfeita, Remus já iria começar com o pé esquerdo. Aquela cafeteria em particular ficaria com uma estrondosa nota negativa.

Você já deve imaginar o porquê.

Ele já havia espalhado os seus pertences em cima da mesa — notebook, caderno de planejamento, leitura atual (Orgulho e Preconceito) e a pasta cheia de atividades dos alunos. Estava confortável e aproveitando a música lenta e calma que tocava nos alto-falantes do lugar quando o cara de olhos verdes veio trazer seu pedido.

Bon appétit. — disse, com um sotaque francês invejável.

Dessa vez Remus conseguiu lhe abrir um sorriso sincero.

Merci.

Remus sentia que ele, o cara de olhos verdes, queria falar mais alguma coisa. Só que alguém o chamou detrás do balcão, e o garoto não pôde ignorar a convocação. Ele lançou mais um profundo olhar para Remus e virou as costas.

O sorriso ainda não tinha sumido do rosto de Remus quando ele estendeu a mão para buscar a xícara e percebeu que, embaixo dela, estava preso um papelzinho pequeno. Era um número de telefone, e ao lado dele estava escrito, com garranchos desordenados, Grant Chapman.

Uma chama cresceu no peito de Remus, aguçando ainda mais seu instinto idiota de sorrir. Não era nem de perto tão forte e intenso quanto o fogo que se acendeu dentro dele no sábado à noite, mas já era algo. Era uma esperança.

Que foi completamente morta quando o sininho da porta de entrada soou, e ninguém mais, ninguém menos do que Sirius Orion Black atravessou o cômodo, com os fechos da sua jaqueta de couro fazendo barulho e atraindo olhares apaixonados durante todo seu trajeto.

Essa seria a pior cafeteria que Remus já tinha visitado, isso era uma certeza.

Ele desviou os olhos e focou o máximo que podia em beber o capuccino e comer o croissant. Para falar a verdade, nem sentiu o gosto deles. Não conseguiu fazer nada produtivo, porque Sirius Black não saia da sua mente.

Nem o número de Grant Chapman e o que isso poderia significar foi capaz de distrai-lo.

E no fim, depois da conta ser paga e dos seus pertences retornarem ao fundo da bolsa estilo carteiro, Remus lançou um último olhar ao redor, se odiando por completo por fazer isso, mas não resistindo à vontade imoderada de fazê-lo.

Seus olhos se encontraram com os do Sirius.

Ele estava sentado na mesa do lado oposto da cafeteria. Observando Remus.

A chama se reacendeu. Um arrepio percorreu seu corpo, e as batidas do seu coração se tornaram tão altas que poderiam ser ouvidas até do outro lado da rua.

Remus não conseguiu fazer nada além de desviar o olhar e praticamente correr até a porta. Deu às costas àquele lugar apertado, que parecia sufocá-lo mais a cada segundo que passava lá dentro, enquanto tentava acalmar seu corpo e a sua mente. Não adiantou muito. Ambos eram permanentemente inquietantes. 

 

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