Kim Minjeong respirou fundo e tentou esconder o incômodo diante da presença dos seus pais naquela manhã. Ela os conhecia bem o suficiente para saber que encontros como aquele nunca resultavam em algo que fosse do seu agrado.
— Eu sei que você não gosta de surpresas, Minjeong. Mas gostaríamos que estivesse acompanhada no meu próximo jantar beneficente.
O olhar de Minjeong saltou da mesa do café da manhã para o rosto de sua mãe, que era muito semelhante ao seu. A maquiagem sutil chamava a atenção para os olhos cor de avelã, prontos para a batalha. Aquela não era uma boa notícia para Minjeong. Quando sua mãe colocava alguma coisa na cabeça, era impossível fazer com que mudasse de ideia.
— Tudo bem — respondeu ela.
O choque deu lugar a questionamentos acelerados, motivados pelo pânico. Estar acompanhada era a forma como seus pais deixavam claro que queriam que ela estivesse namorando. Mas namorados eram precedidos por encontros. Encontros levavam a sexo. Ela estremeceu.
— Você tem vinte e um anos, Minjeong. Deveria estar aproveitando essa fase da vida. Já experimentou usar o Tinder?
Minjeong bebeu um gole do seu suco antes de responder:
— Não. Nunca experimentei.
Só de pensar no Tinder — e no encontro decorrente do uso do aplicativo — já começou a suar. Minjeong detestava qualquer coisa relacionada a um encontro: a quebra da rotina confortável, as conversas rasas e constrangedoras, e, de novo, o sexo...
— Me inscrevi em uma optativa na faculdade — ela disse, na esperança de distrair a mãe.
— De novo? — Questionou seu pai, erguendo o olhar do celular em suas mãos. — Faz uns dois meses desde a última optativa, não?
Minjeong assentiu.
— A professora encarregada tem um conhecimento incrível. Ela me deixou brincar à vontade com as tintas, então criei uma tela para cada técnica artística do curso. Pelo jeito, ela ficou interessada.
— E quando você começa suas aulas? — Perguntou seu pai.
— Bom... Hoje mesmo. Depois que sair daqui vou direto para a faculdade.
A mãe recebeu a informação com um gesto de reprovação.
— Você está ficando acomodada, Minjeong. Se continuar focada exclusivamente no seu curso, não vai evoluir no seu traquejo social. Por falar nisso, tem algum colega na faculdade com quem aceitaria sair?
Seu pai levou a mãos ao queixo, pensativo.
— E aquele rapaz, Park Sunghoon? Ele me pareceu um bom garoto no último jantar beneficente.
— Ele é legal, acho. — Minjeong passou os dedos nas gotículas de água condensadas do lado de fora do copo. Se fosse sincera, precisaria assumir que não daria chance a ele sob hipótese alguma. — Acho que Sunghoon tem alguns transtornos de personalidade.
A mãe deu um tapinha na mão de Minjeong e em seguida a segurou.
— Então ele pode ser uma boa opção para você. Talvez entenda melhor a questão do aspectro autista se também tiver suas dificuldades.
Minjeong ficou observando aquela mão sobre a sua, fazendo um esforço consciente para não a puxar de volta. Contatos físicos não solicitados a incomodavam, e sua mãe sabia disso. Fazia aquilo justamente para que se “acostumasse”. Na maior parte das vezes, só a deixava irritadíssima. Sunghoon compreenderia aquilo?
— Vou pensar no assunto — disse Minjeong, com sinceridade. Sua aversão pela mentira era ainda maior do que aquela que sentia pelo sexo. E, apesar de tudo, ela queria deixar sua mãe orgulhosa e contente. Não importava o que fizesse, nunca conseguia parecer bem-sucedida aos olhos dela e, em consequência, aos seus próprios olhos.
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Behind Your Touch - WinRina
FanficDuas almas distintas unidas por uma grande paixão: a arte. Kim Minjeong se encontra em um grande dilema pessoal quando seus pais começam a pressioná-la para que entre em um relacionamento. Talentosa e determinada, a estudante de artes é portadora do...