António Silva
- António? - Ouço a Gabriela a minha namorada chamar-me.
- Sim? - digo aluado, após ter visto a foto da Beatriz.
- Sempre vamos jantar? - diz na porta da sala, eu afirmo e continuo fixo com o aparelho agora desligado. Estava cheio de memórias, memórias essas que me fizeram ficar mais de 5 minutos a olhar para a televisão outrora ligada. Ouço os seus passos para a minha direção, mas não foi isso que me fez despertar, nem ela nua em cima de mim, foi no momento em que os seus lábios beijam os meus. - Estás bem? - Aperto-lhe a cintura, e faço-a descer do meu colo.
- Agora não. - digo, agarro no telemóvel, na carteira e na chave do carro. - Esquece o jantar, eu tenho de sair. - digo apressado.
Ela ficou sem perceber nada, vejo-a apenas encostar-se ao sofá e a tapar-se com uma manta, condeno-me porque depois da Beatriz, tive apenas a Carolina que acabou psicológicamente comigo, e foi ela, a Gabriela, que me tem ajudado, quis voltar para trás e abraça-la, mas não consigo nem sequer olhar para ela nos olhos quando a pessoa que tenho em mente é outra.
Nunca esqueci totalmente a Beatriz, pois ela foi a minha grande paixão, aquela que mesmo que se passem anos, nunca se esquece, e acreditem ou não depois de fazer semanas de terapia, ainda a tinha em mente.
Soube dela pelo João, que soube através de um amigo que ela estava bem, pelos vistos ela mudou de número e nem mesmo o Francisco o irmão dela tem tido notícias, ela quis mesmo desaparecer, nunca pensei que uma brincadeira estúpida pudesse afetar tanto o psicológico de uma pessoa, a verdade é que aprendi isso da pior maneira possível.
Entro no meu carro e digiro sem destino, quando percebo estava parado em frente do apartamento dela.
Não era a primeira vez que ali vinha parar, e talvez aquilo me acalmasse por alguns segundos, mas não, piorou, as luzes estavam acessas e o carro dela estava parado em frente a entrada, vejo o Francisco parar o carro de forma bruta ao meu lado, e sair a correr para dentro do prédio.
Ela regressou, e eu entrei em estado de pânico total. Recupero os movimentos e vou até a praia, descontraiu pelo menos uns 4 metros do carro até o areal, mas não consigo manter a postura, nem mesmo consigo manter nada, ligo ao Neves que atendeu passados uns segundos.
- O teu sentido de oportunidade é excelente! - diz ofegante.
Ela regressou!
- Ela quem caralho? Eu estava a fu..
A Beatriz voltou, ela regressou João.
- Viste-a?
Não! Fui até a casa dela e vi que tinha gente, o irmão dela entrou disparado no prédio, o que eu faço?
- Meu, sei lá, olha, dá-me meia hora, eu vou ter contigo.
Não! Eu fico bem.
- Meu, eu vou ter contigo espera! Manda-me a tua localização eu já vou! - diz e acaba por desligar, eu sento-me na pedra do passadiço da praia e mando-lhe a minha localização, não espero muito tempo, porque não estava a ver o tempo passar.
- Vim o mais rápido possível. - diz ainda mais ofegante.
- Desculpa. Eu só tinha que falar com alguém. - digo mais calmo.
- Tudo bem. - diz e senta-se ao meu lado.
Ficámos em silêncio por alguns minutos, mas foi o tempo de eu recuperar as forças.
- Na segunda feira, eu, tu, e mais alguns temos uma cena para fazer na SPORT TV achas que ela vai lá estar?
- É o trabalho dela. - diz. - Provavelmente.
- Como achas que vai ser? - Pergunta.
- Acho que tens que ter calma e esperar para ver, nada acontece por acaso. - diz.
- Estás muito filósofo. - digo com um sorriso na cara.
- A vida tem destas coisas. - diz e eu acabo por cair-me a rir, às vezes apenas precisava dele e de umas belas gargalhadas.