Beatriz Castro
Fui até ao café mais próximo, porque depois da gravidez a minha bexiga não voltou a ser a mesma, despacho-me, pois queria voltar para os braços do António, cumprimento o pessoal do bar que me deixou entrar, e depois vejo uma passadeira, espero alguns segundos para ativar o sinal luminoso que demorou algum tempo para ficar verde.
Vejo o sinal verde e passo sem olhar, apesar de dizer a Margarida vezes dem conta que aquilo era perigoso, mas como não passou carro nenhum no tempo de espero, passo sem olhar.
Cumprimento o chão dois e três vezes e depois ouço a voz do António, não desmaiei, mas já o via a dobrar.
- Estás viva! - diz. - NÃO VIU O SINAL? CARALHO! Podia te-la matado. - grita o António, ouço alguém chamar uma ambulância, e depois de ver os sinais dela, acabo por desmaiar.
Acordo já de manhã, vejo-o sentado a dormir ao meu lado.
Mexo-me e ele acorda.
- Estás viva! - diz novamente.
- Suponho que sim, ou és algum anjo? - Ele sorriu. - Há quanto tempo estou a dormir?
- Há algumas horas, partiste o pé e o braço, mas de resto estás bem, estão a fazer algumas análises, mas não sofreste mais nenhuma lesão interna. - diz.
- Isso é bom. - digo e começo a gemer de dor.
- Vou chamar alguém. - diz e desaparece do quarto, percorro o quarto com o olhar, e depois ouço alguém a entrar.
- Deveria olhar para a passadeira, mesmo que esteja verde. - diz o médico e eu afirmo. - Por sorte, não lhe aconteceu nada a si. - diz e eu engolo a seco.
- O que quer dizer? - O António estava do lado de fora e percebi que estava com os meus pais.
- Você estava grávida de 3 semanas. - diz. - Perdeu o bebê! - diz e eu engolo a seco. - Infelizmente não podemos fazer nada, o impacto foi muito forte. Soubemos agora pelas análises, dentro de algumas horas, deverá surgir sangramentos vaginais, devido ao aborto espontâneo. - diz seco. - Sinto Muito! - diz e eu afirmo. Ele saiu e eu recupero o ar para enfrentar novamente o António. Ele entra no quarto e aproximou-se de mim.
- Disse sem querer ao Neves, e daqui a pouco a equipa deve aparecer aí, desculpa! - Eu deixo sair um sorriso, talvez não era mau de todo ter alguma distração. - Tive medo de te perder. Quando vi o carro e tu literalmente a voares, tive medo de não acordares. Estou feliz e aliviado por estares de volta. - diz.
- Perdi o bebé. - digo rápida.
- O quê?
- Sofri um aborto, eu estava grávida outra vez. - digo e ele beija a minha testa.
- Não tenho palavras para reconfortar-te, posso dizer a eles para nao virem.
- Não! Não faças isso. Tudo bem! - digo.
- Bia, podes chorar. - diz e eu mordo o lábio inferior.
- Suponho que sim, mas não quero. - digo. - Não era para ser sabes, estou feliz com a Magui e contigo, e apesar de ter perdido, ainda não o conhecia tenho mais uma estrela a olhar para mim. - digo.
- Podemos arranjar um cão. - diz.
- Yha. É uma bela ideia.
- Que nome lhe darias?
- Ao cão ou ao bebé?
- Aos dois.
- Para o cão Lucky, e para o bebé, Príncipe da Arábia. - Ele larga um sorriso.