Algumas horas antes
Beatriz Castro
Cheguei a Lisboa, por volta das 05:30 da manhã, estava estafada, e como não tinha avisado o meu irmão tive que esperar pelos meus pais que souberam ontem quando estava na Roménia a espera do voo para Lisboa, poderia ir de táxi, mas pagaria um balúrdio, quem os meus pais, quiseram baterem-me assim que me viram.
- Beatriz Castro Silva, fogo, avisas a esta hora que chegaste, tu não sabes como fiquei preocupada, avisas só um dia antes que vens, eu, eu... quero... quem é a pequena? - A Margarida adormecida ao meu colo não se mexe, nem eu. - Beatriz! Tu não adotaste ninguém, ou é tua?
- É minha! E do António! - digo, a minha mãe fica branca e o meu pai repousa a cabeça na dela.
- Eu tenho uma neta? - diz o meu pai e eu afirmo, a Margarida acorda e olha para o meu pai.
- Vô! - Quis chorar, porque ela apenas vi-o por fotos, ela foi para o colo dele quase de imediato.
- Como? Como a escondeste de nós Beatriz?
- Desculpem, mas eu não tive coragem para dizer. - A Margarida abraçou o avô e quis voltar para mim.
- Nós poderias ter-te ajudado. - diz a minha mãe a abraçar-me.
- Eu sei.
- Dizeste ao António? - o Silêncio permanece e eles percebem a minha resposta.
- Ele não vai gostar, mas tu é que sabes, vamos levar-vos para a vossa casa. - diz e que saudades que tinha da minha casa.
O cheirinho a limpo era nítido, largo a Margarida e ela percorre a casa, como não tinha comida fui as compras com a minha mãe e deixo a Margarida com o meu pai, que ficou a brincar com ela, tive que dizer ao meu irmão que cheguei a Portugal e ele quase teve uma paragem cardíaca, de todas as pessoas os meus pais eram os únicos que falava regularmente, a minha mãe sofria se não lhe ligasse, e em nenhuma ligação tive coragem para dizer, olhem eu estou grávida, estou em trabalho de parto, a Margarida nasceu, não tive coragem e passar por aquilo tudo foi horrível, uma das melhores e piores experiências da minha vida, pior porque passei-a sozinha, mas a culpa foi minha.
Paro o carro a entrada do prédio já que tinha lugares, e subo com as coisas com a ajuda da minha mãe, poucos minutos de ter chegado o meu irmão entra apressado na minha casa.
- Onde estás eu vou matar-te! - o meu irmão veio para cima de mim e quase atropela a Margarida que olhou para ele.
- Mau. Chico mau. - diz a agarrar-me uma perna.
- Quem é a Pirralha? - Não fica sem resposta por muito tempo, pois percebe. - Não! - Afirmo. - não! Tu tiveste Grávida? E NÃO DISSESTE NADA? - Eu olho para ele que começou a chorar, os meus pais riram-se da sua reação.
- Up.. - Ela esticou-lhe os braços e ele agarrou-a ao colo. - Papah. - diz e eu entrego ao Francisco um iogurte para apertar, ele olha para mim sem perceber, mas depois de lhe abrir o pacote ele só o agarrou já que ela era bastante independente.
Os meus pais saíram depois do jantar, o meu irmão ficou comigo, no dia seguinte fomos passear, já que a Margarida queria ver borboletas, portanto fomos a uma exposição de Borboletas em Lisboa que havia só naquela altura do ano por ser num ambiente ao ar livre.
Tiro esta foto, mas guardo-a apenas para a família.
Nunca expôs a Magui por medo do António descobrir, e por cobardia minha por ainda não lhe ter dito.
- O António namora! - a frase ecoou-se na minha mente porque aquilo bateu-me com muita força, não estava preparada para aquilo.
Não lhe respondo apenas olho para ele.
- Não pensei que ficasse solteiro, porque nem não gostaria dele? Mas isso bateu-me agora com força.
- Os rapazes do Benfica estão fartos de perguntar por ti, deverias ir ter com eles, eles gostaram de ti, Bia! Gostaram a sério, e o que fizeste não foi bonito, mas compreendo e respeito a tua decisão, mas ele vai ter de saber, e se não lhe disseres eu mesmo digo.
- Isso é um ultimato?
- Não, é bom senso! Tu já passaste por muito e eu não fui trás de ti porque tu não quiseste, às vezes, mas só às vezes deverias deixar as pessoas ajudarem-te, tens que deixar de ser camurra e teimosa. Pensa nisto, está bem? - Ele saiu do carro e agarrou na Magui.
- Bobuletas?
- Sim, vamos ver borboletas.
Respiro fundo e saiu do carro.
- Não é fácil pedir ajudar.
- Pois não, mas para isso tens-me a mim, está bem? - Afirmo e ele abraça-me. - Eu adoro-te e agora tenho uma cópia tua. Não é demais? - disse e eu sorri. Realmente tinha saudades dele.
- Tive saudades tuas. - digo.
- Eu também. - diz a sorrir. - Nunca mais faças isto.
- Okay..
- Prometo! - diz a parar.
- Eu Beatriz Castro prometo nunca mais fazer isto. - digo e ele sorriu a esticar o mendinho, a Magui tentou imita-lo e eu sorri com o gesto.
- Tão gira, tem tantas parecenças ao Tojo. O sorriso é igual, as orelhas também o nariz é o teu, a cara fofa saiu ao tio. - Sorri e bato-lhe no braço.
- Convencido! Tens que parar de andar com o Neves.
- Gente boa esse rapaz.
Sorri ao lembrar-me que sim era.