António Silva
Fiquei no hall da entrada do prédio a andar as voltas, foda-se, como eu fui reagir assim?
Respiro fundo, o silêncio era nítido, e aquilo preocupou-me.
Volto a subir e vejo ainda a porta aberta, estranhei, entro e vejo a Beatriz desmaiada.
- Caralho! - Digo e corro até ela. - Bia, acorda. Por favor. - digo e abano-a. - Por favor, grita comigo, diz que sou estúpido, faz uma piada, mas acorda, eu preciso de ti. - Digo a chorar. Ela não acordou e eu entro realmente em desespero. A Margarida começa a chorar, agarro na Beatriz e levo-a ao quarto, deito-a na cama e abano a Margarida. - Merda. Para de chorar, Magui, para! - Digo a chorar. - Beatriz acorda. - Entro em desespero e começo a perder o ar. - Beatriz por favor eu preciso de ti. - Colo as nossas testas e percebo que estava a chorar muito que as lágrimas não pararam de correr para a sua face.
A Margarida parou de chorar e adormece e a Beatriz abre os olhos.
- Não faças isto outra vez! - digo e ela beija-me.
- Desculpa! - digo, Beijo-a novamente.
- Eu preciso de ti princesa, eu quero cuidar de ti, dela, eu quero ser teu. Deixa-me ser teu novamente, por favor, perdi um ano disto, um ano de ti, não quero mais. Não aguento, fiquei com raiva, eu fui estúpido, errei, mas quero remendar, quero que me perdoes realmente.
- António... - Ela chama-me.
- O que foi?
- Eu amo-te e sempre amei, nunca te esqueci em nenhum momento, esperei un momento certo para ligar e dizer que tinhas uma filha, mas tive medo, tive medo que a tua reação fosse aquela , que me processasses por te ter escondido isto, pensei em mil contras, mas nunca vi um ponto a favor, nunca vi isto, nunca percebi que ela precisava de ti, que eu precisava de ti, eu fui ingénua, imatura e cobarde, desculpa!
- Cobarde? Imatura? Bia tu criaste uma filha linda sozinha, num país enorme cheio de animais perigosos, tu foste uma super mãe, não sei o que passaste, mas hoje estás a ser tudo, menos imatura e cobarde. Tu és incrível, linda, perfeita, e eu agradeço ao universo por me teres respondido naquele dia. Porque eu não sei se aguentaria tudo o que passei sem ti. Não estou a ser exagerado, é a verdade, é a mais pura verdade, este ano sem ti, foi horrível e estares aqui comigo agora, é tão bom, desculpa a minha reação de ainda a pouco, desculpa-me se te assustei, eu estou aqui. - digo e ela beija-me, aquele beijo que estava desejoso de voltar a ter.
- Eu quero-te de volta. - diz quando saímos do quarto da pequena e fomos para o dela.
- Eu quero-te também. - Beijo-a e ela choca contra a parede.
- Fica comigo esta noite?
- Fico. - digo e ela beija-me, ela tranca a porta da casa, e eu retiro a camisola, a Margarida acorda e ela veste-lhe o pijama.
- Papá. - Ela diz assim que me viu.
- O quê? - digo.
- Papá. - diz.
- Ensinei-lhe quando estavas na casa-de-banho.
- Mentira.
- Papá colo. - diz e eu agarro-a, admito que comecei a chorar.
- Tu estás a chorar?
- não, foi simplesmente uma coisa que está nos meus olhos.
- Sim, chamam-se lágrimas. - diz e eu beijo-a.
- Tive saudades tuas. - Ela sorriu e beija-me.
- Eu também tive saudades tuas. - diz a abraçar-me. Eu realmente precisava dela. Agora delas!