Capítulo 31: Traumas.

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Levei mais duas semanas antes de ser permitida pelo curandeiro, que meu irmão estava mantendo por perto desde que chegamos em Prythian, a sair da cama.

Não foi surpresa quando ouvi um longo discurso sobre os riscos em uma gravidez feérica que somado a ser uma gestação de gêmeos e com meu recente mau os riscos só cresceram; isso porque eu nem lhes contei sobre ter bebês com asas.

'O parto será difícil. O risco de morte é alto. Mesmo se sobreviver pode ter sequelas graves. Talvez seja incapaz de ter mais filhos. Sua saúde pode não se recuperar. Não sei dizer o que vai acontecer com sua magia.'

Eu perdi muito em Hybern. Perdi minha confiança, meu orgulho, minha dignidade e até minhas esperanças. Em algum ponto no meio do caminho eu só tinha meus bebês para me afastar da loucura, então quando o curandeiro me disse que eu talvez não tenha mais filhos eu realmente não senti nada. Eu tenho gêmeos, não preciso de mais filhos. A magia é outra coisa, enquanto estiver atrás das proteções estarei segura e sei que meu irmão vai nos proteger e Navi precisa cumprir seu acordo e nos proteger também... mas sem meu poder eu nunca me sentirei segura para sair dessas alas de proteção.

Vou viver em uma prisão que eu mesma fiz para mim, ironicamente a prisão foi feita para manter os outro fora e não para me manter dentro.

Vida... talvez eu não tenha nem mesmo isso depois de dar a luz, não depois de desperdiçar os dois frascos com o sangue de Thesan sendo uma idiota altruísta.

Depois de receber permissão para sair da cama eu andei aos poucos pela casa. Ficar de pé por mais de uns minutos foi difícil e eu acabei parando, mas no outro dia caminhei por mais e mais tempo. Uma hora, depois duas, até que tive força suficiente para me mover com maior liberdade pela casa.

No primeiro dia que tentei sair, tive uma crise de pânico que quase assustou Pherkad até a morte. No segundo dia eu dei três passos para fora e voltei. No terceiro dia Navi se ofereceu para me acompanhar em uma caminhada e eu consegui dar 20 passos para longe da cabana antes de começar a ser dominada pelo medo, por lembranças da dor, imagens do horror na voz de Cassian, o sangue e os rasgos em suas asas, as mortes em sob a montanha.

Durante o cativeiro eu tive forças para me manter inteira, eu precisava sobreviver, precisava fugir. Agora eu me sinto como se minha mente pudesse a qualquer momento se desintegrar, eu preciso me organizar, preciso de tempo para respirar e criar confiança de que mais nada ruim vai acontecer.

Eu não sou mais Amarantha a Grã-Rainha, ou a vilã ou o monstro detestável. Cumpri meu papel, eu sobrevivi e agora posso ser eu mesma... o problema é que não sei mais ser eu.

Me lembro vividamente de esculpir esculturas de argila, de trabalhar com os móveis antigos da loja e as peças novas que eu mesma tinha feito. Comer cereais que provavelmente me fariam entrar em um coma diabético, falar com a funcionária da loja, rejeitar as ligações do meu pai e no fim do dia pedir comida no delivery, assistir uma série até tarde e dormir, então fazer tudo outra vez no dia seguinte.

Encontros ocasionais com Hope para acompanhar sua gravidez já que seu maldito marido estava ocupado demais para isso. Ter um ou outro encontro fracassado e pensar se devia adotar um gato para me fazer companhia.

Receber uma ligação da clínica onde minha mãe devia estar internada pela centésima vez em uma de suas crises e então ser obrigada a ligar para meu pai que lhe dava todo o dinheiro para o tratamento, uma reparação por seus erros no casamento deles, como se jogar dinheiro em alguém pudesse atenuar o dano mental que ele fez ela passar.

Corte de Renascimento e RedençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora