Capítulo 27: O caldeirão.

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Cassian deu um passo na direção do guerreiro que descia e grunhiu:

- Você.

Jurian riu com escárnio.

- Trabalhou até conseguir subir de patente, foi? Parabéns.

- Você parece bem, Jurian - comentou Rhys, caminhando até o lado de Cassian, casualmente se colocando entre Feyre e o antigo guerreiro. - Para um cadáver.

- Da última vez que o vi - disse Jurian, com desprezo -, estava aquecendo os lençóis de Amarantha.

Eu estremeci com o peso dessas palavras e senti a mão de Jurian apertar ainda mais meu braço quando tentei me afastar. Todos observaram a interação entre Jurian e eu tentando pensar em como no maldito inferno nos dois estamos um ao lado do outro sem tentarmos nos matar.

Jurian falou sobre Pherkad... como eles fizeram um acordo, quando sendo irmão de Clythia, ele deve odiar Jurian tanto quanto Amarantha um dia fez está além de mim.

- Então, você se lembra - ponderou Rhysand, mesmo enquanto seu ódio disparava. - Interessante...

Ele olhou para mim, acredito que esperando ver a mesma força que tinha quando estávamos em sob a montanha, porém meses em isolamento, medo e tortura quebram o espírito dos mais fortes e eu não era forte... não mais, talvez nunca tenha sido. Não mantive seu olhar, eu tive muito tempo pra quebrar meu comportamento submisso que adotei contra meu pai para sobreviver.

Foram anos aprendendo a agir como uma força da natureza, me convencendo de que eu não era uma garotinha indefesa que se colocou como alvo de seus pais para proteger sua irmãzinha. Anos de recuperação, tudo perdido em poucos meses nesse lugar. Aqui eu voltei a ser uma criança assustada.

Abaixe a cabeça e se torne minúscula para que eles não vejam você. Peça perdão mesmo que não tenha feito nada errado. Obedeça sem questionar. Não faça barulho. Não responda sem permissão. Nunca devemos nos intrometer quando eles estiverem brigando; e o mais importante, tranque a porta quando um deles beber muito.

Seja o que for que Rhysand esteja procurando ele não vai encontrar, eu não sou e nunca fui a mulher que abusou dele durante 50 anos, e também não sou aquela com quem ele conviveu por três meses sob a montanha. Eu sou o que restou das duas.

Os olhos de Jurian se voltaram para Mor.

- Onde está Miryam?

- Está morta - respondeu Mor, simplesmente. A mentira que era contada há quinhentos anos. - Ela e Drakon se afogaram no mar Erythrian. - O rosto impassível da princesa dos pesadelos.

- Mentirosa - cantarolou Jurian. - Sempre foi uma mentirosa, Morrigan.

Azriel grunhiu, o som era diferente de tudo que eu já ouvi, foi perturbador e me fez encolher ainda mais.

Jurian o ignorou, o peito começava a se inquietar.

- Para onde levou Miryam?

- Para longe de você - sussurrou Mor. - Eu a levei para o príncipe Drakon. Eles se tornaram parceiros e se casaram na noite em que você assassinou Clythia. E ela nunca mais pensou em você.

Essas palavras congelaram o sangue em minhas veias e eu puxei bruscamente meu braço do aperto de Jurian me afastando vários passos dele. Coloquei as mãos na barriga sentindo os bebês chutando mais ferozmente, eles sentem meu medo, e eu estou morrendo de medo.

Eu não posso perder o controle aqui! Não aqui, não agora!! Não posso ter um ataque de pânico aqui!!!

Ira contraiu o rosto bronzeado de Jurian - herói das legiões humanas... que pelo caminho tinha se transformado em um monstro tão terrível quanto aquele contra os quais lutara.

Corte de Renascimento e RedençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora