Especial*Aster

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🌿🥀🌿

Nada fazia muito sentido desde que eu posso me lembrar. Existia escuridão e calor, então tinha aquela voz suave e triste que estava sempre presente. Não existe nada além disso naquele espaço apertado onde eu estava constantemente sendo agarrado e empurrado. Nada parecia certo!

Tenho quase certeza que eu estaria morto a essa altura. Mas não conseguia ter certeza, minha mente estava confusa e por mais esforço que fizesse não podia forçar as lembranças em uma ordem de acontecimentos que fizesse sentido, assim esperei por alguma mudança.

Não me agradei com o sentimento ruim que me fazia acreditar que talvez esse fosse o fim, que isso é tudo o que existe depois da morte. O simples fato de que estava convencido de que minha própria morte foi perturbador. Quão terrível foi para mim estar consciente do que é a morte, quando não tinha nenhuma lembrança do que houve antes dela?

A voz foi a única coisa que me manteve firme em descobrir as respostas, eu não precisava entender, o conforto musical dessa voz foi o bastante para me manter com esperança de que tudo ficaria bem.

Depois de tempo incontável e entediante na escuridão sendo empurrado e agarrado no espaço que parecia a cada dia menor fui inundado com luz ofuscante e um mundo com a temperatura desconfortavelmente fria do lado de fora da escuridão. Foi assustador sentir todas aquelas sensações que eu nem mesmo poderia me lembrar e que ao mesmo tempo parecem familiares e perturbadoras.

Tinha tanto barulho e brilho e mãos e cheiro de suor e sangue e flores, vento e calor reconfortante e macio. Eu percebi que estava chorando e me dei conta enfim do que eu havia me tornado. Um bebê... Eu sou um bebê outra vez.

Ao constatar esse fato abri os olhos com esforço e vi a figura que eu mais conseguia recordar durante o tempo na escuridão. Os inconfundíveis cabelos loiros e reluzentes olhos esmeraldas. Meu senhor... o responsável pela minha morte.

Foi assim que as lembranças começaram a se encaixar e eu percebi que pela vontade da Mãe eu tinha renascido. Dessa vez não como um soldado que sacrifica a vida por seu senhor, mas como um príncipe de alguma linhagem feérica poderosa.

Senti a bênção da magia de Tamlin me rodear e parei de chorar completamente, este foi o presente que a Mãe acima escolheu dar, uma vida nova onde eu não seria apenas um servo. Porém não poderia entender o motivo de ao renascer ainda manter uma boa parte de minhas lembranças passadas comigo. Por que não fui apenas refeito como deveria? Qual o propósito de recordar o triste fim que tive? Por que era preciso me lembrar da vida servil que tive como uma criança abandonada na corte Primaveril?

Nos primeiros anos vivia com essa dúvida. Não conseguia entender como tantas coisas eram claras quando outras eram tão incorretas e inconstantes. Eu podia me lembrar de ser um fae e das 7 cortes de Prythian, me lembrar de ter outro nome e ser um soldado, podia fechar os olhos e lembrar perfeitamente o rosto da mortal que atirou uma flecha de freixo em meu coração. Ainda sim, não poderia lembrar o motivo que me levou até aquela forma lupina que estava vagando por meses na fronteira entre a terra mortal e a corte da primavera. Não poderia lembrar do que estava errado, quando conseguia recordar perfeitamente de ajudar um jovem fae a se encontrar escondido com seu melhor amigo na floresta escura no meio.

Posso recordar perfeitamente de lutar na guerra e de testemunhar a mudança de um grão-senhor assassinado para seu filho mais novo.

Aos 3 anos ainda me recusei a falar ou mesmo interagir de qualquer forma. Eu não tinha vontade de viver realmente. A vida de uma criança não era algo com o qual eu estava acostumado e tão pouco as travessuras da garotinha me interessavam. Tudo o que fiz por um longo tempo foi seguir minha suposta mãe. Ela que tão gentilmente me acalmou com sua voz na escuridão e cuidou de mim como em outra vida eu nunca fui cuidado.

Corte de Renascimento e RedençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora