Corte de Renascimento e Redenção

Capítulo 35: Rosas, arte e tempo.

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Em três anos a guerra não aconteceu. Durante um tempo Pherkad ficou longos meses distante, fazendo acordos em outras terras feéricas. Uma e outra vez ele me enviou cartas falando do desenrolar político e seu encontro desagradável com Mor em um encontro neutro entre os diplomatas de cada lugar. Não que ele tenha viajado como o representante de Hybern.

Por tudo o que ele me disse em suas cartas, o diplomata enviado por nosso papai querido sofreu um trágico acidente e foi rapidamente substituído pelo herdeiro do trono que se dispôs a assumir o trabalho tão importante. Seja o que for eu não acredito nem por um segundo que houve um acidente, claro, também não é meu lugar questionar nada, eu quero me manter fora dessa guerra.

Em meio ano de sua ausência, meu irmão mandou presentes para os gêmeos sempre que, em suas palavras, “encontrou algo digno de atenção”.

Durante esse tempo eu fiz meus pequenos esforços de cura, não que tenha surtido qualquer efeito. Sair da alas ainda era um medo paralisante e apenas chegar perto da borda me fez ter ataques de pânico. Em algum ponto Navi não me permitiu sair para minha terapia de exposição que apenas aumentou a frequência de minhas noites sem dormir, atormentada com pesadelos.

Ayla se desenvolveu lindamente. Interativa e com um terrível espírito explorador que vez ou outra me causou mini ataques do coração. Ela sobe em árvores como um filhotinho de macaco, escalar as pedras no fundo da floresta em nosso jardim dos fundos é seu passatempo preferido, arruinar as rosas do jardim é o outro.

Tamlin veio algumas vezes visitar, desenvolvemos uma tolerância um ao outro, depois se tornou uma amizade duvidosa, que por fim se estabeleceu como uma cumplicidade relutante. Atualmente estamos em um estágio não definido entre amizade e rancor passado… enfim ele veio várias vezes me ver, talvez apenas para saber dos gêmeos, no entanto, eu acredito que em meio às mudanças de sua vida o que realmente o trouxe uma e outra vez até aqui foi a solidão.

Então eu me sentei com ele sob o Sol enquanto cuidava do jardim usando magia, aproveitando a tarefa para treinar meu poder de uma forma pouco perigosa. Tamlin como senhor da primaveril fez isso com tanta facilidade quanto era respirar.

De alguma forma foi reconfortante estar apenas parada com ele ao lado enquanto não planejamos nada um contra o outro, apenas estar juntos sob o Sol tocados pela brisa refrescante com o perfume das flores, em meio ao silêncio pacífico, enquanto nossa magia tornava as flores mais brilhantes e o jardim se tornou o local onde poderíamos esquecer o passado e nos encontrar colaborando um com o outro, sem ressentimentos, sem qualquer coisa além de paz.

Assim eu tenho rosas mágicas que florescem todas as manhãs mesmo quando Ayla fez de sua missão arrancar boa parte delas toda tarde em algum momento de distração em que eu me preocupei com a falta de reação de Aster, para destruir as roseiras coloridas e ver como elas ainda teriam várias novas flores na manhã seguinte.

Isso se tornou uma fonte constante de preocupação no último ano, a falta de interesse de Aster com qualquer coisa. Os gêmeos estão com 3 anos e meio, mesmo assim Aster ainda não disse uma única palavra, enquanto Ayla consegue formar frases inteiras, Aster não fez som algum.

As vezes ele simplesmente parece desconectado da realidade, às vezes parece que ele enxerga e sente coisas que os outros não podem ver, seu silêncio é o que mais me afeta, sinto que estou falhando com ele, não sei como posso ajudar meu bebê, nem mesmo sei o que pode estar errado com ele.

Aster é tão inteligente, faz lindos rabiscos coloridos, ele enfileira seus ursinhos e brinca de chá com Ayla, ele ama ver as figuras dos livros ilustrados e tem um fascínio pelos mapas que eu aprendi a projetar com magia, ele brinca com blocos de uma forma tão concentrada que parece muito mais velho do que de fato é, meu bebê já sabe usar a colher sozinho, gosta de comer sem ajuda, mas não se expressa. Aster sorri e se comunica com gestos para conseguir o que quer de sua irmã ou mesmo de Navi ou eu, mas se recusa a pronunciar qualquer som que não seja um choro com o qual já me acostumei, ou resmungos de insatisfação.