01.

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Maju:

Jacaré- RJ

Esse sol quente estava me matando e para piorar, a mochila em minhas costas já estava pesando.

Se eu tivesse nascido burguesa não iria tá passando por nada disso, sem caô.

Cheguei na barreira e dei uma pausa encostando no poste que tinha ali,se eu não der esse descanso não aguento chegar em casa,fora que eu não tomei café antes de sair de casa.

Já estava ficando fraca e meu coração pulsava mais a cada passo que eu dava,acho que vou cair.

Patinho: qual foi,maju,tá bem? - levantei meu olhar colocando a mão por cima do olho e vi o Patinho.

Maju: tô sim,só preciso dar aquela parada de lei,senão eu não aguento- dei um sorriso e ele deu risada.

Patinho: toda monga aí,parece que vai cair a qualquer momento.

Maju: que isso,cara - me desencostei do poste - maior esculacho,tô mec aqui - fiz joinha e ele colocou a mão na cintura.

Patinho: tá querendo mentir pra mentiroso, Maria Júlia? - dei risada e fui na direção dele.

Maju: eu tô bem,minha vida - beijei a bochecha dele - quer não me dar uma carona até lá em casa? Ainda preciso me arrumar para trabalhar.

Patinho: depois nós bate um papo,falô? - concordei e ele passou o braço no meu no meu pescoço e subimos mais a rua para pegar a moto dele.

Conheci o patinho ano passado, ele é vapor daqui do Jacaré; e desde que nos conhecemos não nos largamos mais.

Mesmo ele não sabendo de tudo que eu passo e passei, ele é como um irmão para mim.

Falei com os outros meninos que estavam ali e eles ficaram tirando com minha cara,dizendo que eu estava acabada.

Rapidinho cheguei em casa,me despedi do patinho e já fui entrando em casa tirando a roupa para banhar.

Quando terminei meu banho fui ver o que tinha para comer, vi que ainda tinha três bolinhos de feira e esquentei o café que ainda tinha na garrafa.

Comi devagar para ir saboreando tudo e depois fui trocar de roupa, peguei minhas coisas e já fui para o meu segundo trabalho do dia.

Atualmente eu trabalho em dois empregos, de manhã na pista cuidando de três crianças e na parte da tarde trabalho no barzinho do seu Zé; e por mais que eu não ganhe muito, dá para ir sobrevivendo.

Depois que meu pai morreu de covid eu tive que me mudar,me mudei para uma casa um pouco maior que a antiga, essa agora tem um banheiro completo,já que a outra o banheiro era só um cantinho com o vaso e nada mais.

Fora que essa casa tem sala e cozinha, um banheiro e meu quartinho. Tudo muito simples, mas é cuidado com muito amor.

O final do mês já está chegando e com isso as comprinhas básicas que faço lá pra casa já estão acabando. Por isso eu tenho que ir regando, pelo menos até eu receber o dinheiro daqui do bar.

Os 300 que recebo por mês para cuidar das crianças é para pagar o aluguel da casa, e os 200 do bar é para comprar algumas comidas e comprar o gás.

Sei que é pouco, mas aos poucos e às vezes mesmo faltando, dá para eu sobreviver. Fora que às vezes eu faço uma coisinha ali.

Mas tenho fé que um dia chego no topo da montanha.

Cheguei no bar e já fui colocando meu avental para atender os clientes,até a primeira mesa chamar.

...

Meu expediente já estava acabando e eu já estava agradecendo. Sentei na cadeira atrás do balcão e fiquei desenhando uma flor na folha de papel,até uma voz chamar minha atenção:

Xxx: fiquei sabendo que o baile de sábado vai ser em homenagem ao novo chefe-a menina falou como sua amiga.

Xxx²: não vou perder esse baile por nada - deu risada.

O antigo dono daqui morreu em uma operação já têm uns 3 meses e quem estava cuidando do morro era o gerente de umas das bocas.

Achei que ele iria assumir o cargo, ele é legal.

Fechei os olhos tentando relaxar e coloquei a mão no rosto.

: já tá com sono,menina- abri os olhos no susto e o seu Zé, dono do bar,estava bem na minha frente com um sorriso. - se quiser já pode ir indo, minha neta daqui a pouco chega aqui.

Maju: que isso,seu Zé - ri - tô com sono,não. Consigo terminar meu expediente até a Clara chegar.

: você que sabe- deu de ombros- vou indo para a cozinha, porque daqui a pouco isso daqui vai virar um formigueiro. - dei risada e ele riu batendo no meu ombro e saindo.

Aqui é sempre assim, é chegando final de semana e o barzinho vira formigueiro.

Clara: tá sabendo? - chegou do nada e levei um susto.

Maju: as pessoas tão pra me dar susto hoje,né? - ela riu e depois parou - fala aí.

Clara: novo chefe na área- fiz careta concordando.

Maju: acabei de escutar uma menina falando. Espero que ele seja legal e faça um bom trabalho aqui na comunidade, e que continue com os projetos que já tem aqui.

Clara: vindo pra cá,escutei também que o playboy tá de volta. - fechei a cara- eita,esqueci que ele ainda mexe com você. Assunto proibido- deu risada.

Maju: não mexe, nada. - saí de trás do balcão- prometi a mim mesma que iria deixar as coisas do passado para trás. E agora eu tenho que ir para casa,o turno agora é seu.

Clara: se você disse,tá dito- deu de ombros e pegou o avental- mais tarde passo na sua casa.

Maju: não vou atender- falei e ela deu risada.

Saí do bar e dei de cara com uns meninos do movimento, só balancei a cabeça e segui meu caminho para casa.

A Clara é minha amiga desde o terceiro ano,nos conhecemos no primeiro, mas só viramos próximas mesmo no terceiro e desde então vivemos para cima e para baixo nesse morro.

Ela é a única que sabe tudo que passei há três anos atrás, todos os meus choros e perdas. Somente ela e mais ninguém.

E assim vai continuar.

Comentem e deixem sua estrelinha, bjs!

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