a força do destino.

68.

Maju:

Xxx: os canas vieram cobrar um valor mais alto para não vir invadir aqui, os caras falaram que não era bem assim e mandou chamar o patrão. Ele foi na nossa direção e mandou o papo pro verme,falando que não ia aumentar porra nenhuma.

O menino começou a explicar para todos da facção que estavam aqui na sala.

Xxx: daí eles começaram a discutir e chegou mais um carro da polícia e foi quando um deles mandou o x9 atirar em nós, mas bem na hora eles atiraram no x9. Foram quatro tiros na cabeça do x9.

Migual: eles pediram 50 mil. Já estavam na maldade e quando um deles puxou a arma para o patrão, a gente já atirou nos outros dois,mas ele já tinha puxado o gatilho.

Respirei fundo já sentindo a vontade de chorar vindo. Já tinha uma semana que o Isaac estava internado. Os médicos falaram que o caso dele era grave e para piorar tudo,os policiais descobriram o hospital em que ele está e ficaram dois deles na porta da sala em que ele está internado e outros fazendo a segurança na frente do hospital.

Depois que ele foi levado,foi questão de 10 minutos e o morro foi invadido. A sorte era que os meninos não estavam despreparados e nenhum chegou a morrer, mas 8 ainda foram presos.

Parece que tudo desmoronou, sabe? É estranho não ter ele aqui comigo. É estranho não ver ele brincando com os nossos filhos e nem me perturbando.

O Isaac poderia ter o jeito chato dele,mas ele era ele. Foi ele que meu coração escolheu para amar.

E agora saber que ele está em estado grave na cama de um hospital e que se ele melhorar, ele vai direto para a prisão, meu coração dói.

Não tem saída. Ou ele vai preso ou vai acontecer o que eu mais temo. E eu não vou saber lidar com nenhuma dessas opções.

Maridão: playboy nunca foi preso. Ele sempre agiu no sapatinho, se ele for preso vai ser como réu primário e não vai ser julgado nem pela metade dos crimes que já cometeu.

Martina: mas vai ser julgado pela destruição de uma aeronave policial. Você sabe quanto tempo isso pega? - mordi os lábios já sabendo que,se ele for preso, ele não sai nem tão cedo.

Depois disso eles começaram a discutir sobre o assunto e eu já estava ficando com a cabeça doendo só de pensar nas possibilidades que eles falavam.

Japa: da aeronave são só suposição que possa ter sido ele. Eles não têm certeza, a única certeza que eles têm absoluta, é do tráfico de drogas.

Martina: se isso acontecer como estamos pensando, ele iria pagar só uns 40 anos,já que tem parte de homicídio também.

Maju: "só"? - falei baixo, mas eles acabaram escutando.

Maridão: você acha isso muito porque não sabe o tanto de crime que ele já cometeu.

G2 me olhou e vi ele respirar fundo. Só balancei a cabeça e me levantei saindo dali,eu ainda precisava ir visitar o Isaac e vê as crianças.

...

Ravi: o papai vai demorar? - perguntou enquanto brincava no chão com a irmã.

Maju: Só um pouquinho - ele me olhou - daqui a pouco ele tá com a gente.

Ravi: quero bincar com ele- balançou os ombros e senti uma lágrima descer.

Sequei rápido e tentei distrair minha mente brincando com eles.

Acho que meu maior medo era por eles. Era pelos nossos filhos.

Ravi ainda é uma criança, vai fazer dois anos daqui a dois meses. Mas ele já é esperto e está sentindo pela ausência do Isaac. Hellena tem nove meses e sempre foi apegada ao Isaac, até chorava quando ele saía de casa e ela ainda estava acordada.

E desde o acontecido ela vem chorando bastante. O Ravi é mais de perguntar e isso me dói muito. Então eu falo para ele que o Isaac teve que viajar.

Eu só não sei até quando essa viagem vai durar.

Depois de um tempinho brincando com eles,fomos almoçar e a mulher que cuida das crianças chegou. Peguei minhas coisas e saí de casa,entrei no carro que já estava me esperando e o menino me levou em direção ao hospital.

Assim que cheguei, dei o nome na recepção e fui para o segundo andar onde o Isaac estava e como das outras vezes, os dois policiais que estavam fazendo a segurança da sala dele me olharam de cima abaixo.

Senti um certo incômodo e entrei na sala. Eu até queria não chorar,mas só de ver ele deitado naquela cama cheio de fios e com uma máscara no rosto, fez meus olhos encherem de lágrimas.

Maju: você tem que ficar bem logo- sussurrei segurando na mão dele- eu preciso de você, Isaac. Os nossos filhos precisam de você.

Deitei minha cabeça no peito dele e tentei segurar o soluço, mas foi em vão. Doía muito ver ele assim,porque eu não sabia quando ele iria acordar e se iria acordar.

Dói saber que tem policiais fora e dentro do hospital só esperando o momento dele acordar e levar ele preso.

Doía porque independente das duas coisas que possam acontecer, eu iria ficar sem ele. Seja de forma definitiva, ou não definitiva.

Maju: o Ravi vive perguntando de você e a Hellena parece sentir sua falta. Todo mundo tá sentindo sua falta. Eu sinto falta até de você me estressando, cara- ri em meio às lágrimas.

Eu queria falar tantas coisas para ele,mas os meninos do morro disseram que era para eu evitar falar muito, porque ninguém sabe se os policiais não colocaram escutas aqui na sala.

Maju: você falou que iria está comigo para sempre. Que não iria mais me abandonar. - levantei o olhar para ele e enxuguei minhas lágrimas- você tem que cumprir isso. Tem que ver as nossas crianças crescerem.

Fiquei mais um tempo com ele,orei a Deus pedindo pela vida dele e sem ao menos perceber o tempo passar,a enfermeira veio falar que o horário de visita tinha acabado.

E foi aí que senti meu coração apertar. Essa hora parecia doer mais do que na hora em que cheguei aqui.

Deixar ele aqui doía muito.

Ele estava indefeso aqui e eu não sabia do coração de nenhum desses policiais, não sabia o que eles poderiam fazer com o Isaac.

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