a força do destino.

71.

Maju:

E foi em questão de minutos que o meu mundo desabou.

Eu só precisei fechar os olhos para dormir  e em pouco tempo eu já estava sendo acordada de forma bruta.

Os gritos das crianças. Barulho de tiros. Algema. E uma frase, a qual vou levar para sempre em minha mente.

Policial: Você está sendo presa por associação ao tráfico de drogas. Você tem o direito de ficar calada.Tudo o que disser pode e será usado contra você no tribunal.

Meu mundo acabou ali. Olhei para meus filhos e Ravi chorava encolhido me olhando, Hellena gritava de tanto chorar e os barulhos de tiros lá fora iam se intensificando.

Policial: poderá, somente, avisar a alguém de sua família e seu advogado. - concordei sentindo as lágrimas descerem e uma policial foi em direção às crianças, tentando acalmá-las.

Eles pegaram meu celular, me entregaram  e ficaram olhando cada coisa que eu fazia. Eu não sabia para quem ligar. As únicas pessoas por quem poderia contar por agora era o g2 ou a Clara, mas,se bem que nem com o g2 eu poderia contar agora.

Então liguei para a Clara, às duas e quarenta e cinco da manhã. No segundo toque ela atendeu e só de escutar sua voz preocupada, meu coração apertou.

Clara: eu acordei assustada com os tiros, você tá bem? E as crianças? É a Hellena que está chorando?

Maju: eu preciso da sua ajuda- falei baixo tentando manter minha voz calma- eles estão me levando presa. Eu preciso que você cuide das crianças, só isso.

Funguei sentindo meu coração apertar a cada palavra que era dita. Eu vou ser presa por uma coisa que nunca participei.

Clara: o que? Como assim,maju? Você está em casa? Eu vou aí agora.

Baixei minha cabeça já não conseguindo controlar o choro e o policial pegou o celular da minha mão. Mas eu precisava dizer a última coisa para Clara. Precisava pedir.

Maju: Clara, eu não sei o que vai acontecer daqui pra frente. Mas cuida das crianças. Cuida dos meus filhos, por favor.

Clara: para com isso, maju. Você é inocente, não vai...- antes dela terminar de falar, o policial encerrou a ligação.

Eles me puxaram, me levando até a saída do quarto. Olhei para as crianças e o Ravi deu um grito, correndo em minha direção.

Ravi: não leva minha, mamãe- gritou tentando vir em minha direção e o policial segurou ele.

Maju: vai ficar tudo bem. - balancei a cabeça para ele - a mamãe vai voltar.

Policial: vamos - deu impulso para que eu continuasse a andar.

Os tiros já tinham sido diminuídos. Assim que coloquei meu rosto para fora de casa, vi vários corpos no chão.

Era dos meninos que faziam segurança daqui de casa. Baixei minha cabeça chorando mais e comecei a sentir flash na minha direção.

Uma repórter veio na minha direção e eu só balancei a cabeça negando e foi quando escutei a voz da Clara, mas antes mesmo dela chegar perto de mim,me colocaram dentro de um carro que parou na nossa frente.

Clara:

Horas mais tarde...

Eu estava agoniada. Estava nervosa. Estava com medo e não sabia o que fazer.

A Maju estava sendo presa. Seu rosto estava passando em todos os jornais possíveis.

Repórter: Maria Júlia Oliveira de Lima,mas conhecida como Maju ou "fiel do playboy",foi presa nesta madrugada de sábado,no Jacarezinho, por associação ao tráfico de drogas. Maria Júlia já estava sendo investigada a dois meses atrás, que foi quando seu marido, playboy, dono do Jacarezinho, foi ferido e levado ao hospital e que até então, estava internado. Mas,na noite de ontem, às 21:00 horas,Isaac Gabriel, teve sua saída do hospital liberada e foi levado por agentes da DRE.

Começou a aparecer várias fotos da maju e umas era até ela falando com alguns meninos do movimento.

Repórter ²: estamos aqui em frente ao tribunal de justiça do Rio de Janeiro e já esperamos a saída do traficante Isaac Gabriel Barbosa Dias,mais conhecido como playboy, chefe da comunidade Jacarezinho. Os agentes da Delegacia de Repreensão a Entorpecentes,prenderam na noite de ontem o traficante, acusado por formação de quadrilha,tráfico de drogas e homicídio. Seu processo começou ontem às 21:30 da noite e está até agora, 13:15 da tarde.

Mais outras coisas começaram a ser faladas. E quando não era do playboy eles iam parar a maju.

Ravi: titia- escutei sua voz e virei para ele enxugando as lágrimas- eu quelo a mamãe e o papai.

Sentou ao meu lado e puxei ela para o meu colo. Eu não sabia o que falar. Quando cheguei aqui de madrugada, ele e a Hellena estavam chorando muito, demoraram bastante para se acalmarem.

Eu nem sabia como explicar para ele o que estava acontecendo. Estava tudo muito confuso e bagunçado. O morro estava uma bagunça.

Muitos meninos morreram e outros foram presos. G2 simplesmente sumiu, não sei se foi preso,morreu ou fugiu. Ninguém tem notícias dele.

Loirinho que veio da Penha para cá e está tentando cuidar das coisas. Tem policiais na entrada do morro. As pessoas estão proibidas de saírem de suas casas.

Eu não sei como vai ser daqui pra frente. Próximo mês é o aniversário de um ano da Hellena e só de pensar que nem o playboy e nem a maju vão estar aqui, dói. E por saber também que no mês seguinte do aniversário da Hellena, é o aniversário de dois anos do Ravi.

Eles vão completar ano e nenhum dos pais vai estar aqui. E a maju estava organizando isso tudo com muito amor,muito antes de toda essa confusão começar.

Repórter ²: acabamos de receber a informação que o traficante Isaac Gabriel Barbosa Dias foi condenado a 43 anos de prisão em regime fechado. Vejamos agora ele saindo do tribunal de justiça.

Ravi: é o papai - apontou- ele vai pá pisão?

Olhou sem entender e engoli em seco.

43 anos.

Meu celular começou a tocar e peguei rápido vendo que era a Carol.

Carol: eu já consegui o advogado, mas a maju está indo para a prisão agora. Até agora eles deram 4 anos, 9 meses e 21 dias. A pena pode aumentar, ou diminuir, mas o advogado disse que fará o possível para inocentar ela.

Clara: quatro anos? - perguntei ainda tentando racionar.

Parecia que tudo tinha parado. Carol começou a falar outras coisas, mas eu não conseguia prestar atenção.

Isso só poderia ser um pesadelo. Não pode ser verdade.

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