7 - memórias tristes

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Os dias tem passado depressa, tentamos conversar mais vezes mas era sempre motivo de uma nova discussão, apenas um dia nessa longa semana tivemos um momento bacana, pensei com calma sobre a pequena possibilidade de ser de fato a mãe dessa criança e decidi prestar qualquer suporte a Rosé, independente do resultado é uma vida e eu sou médica.

Na outra semana conversamos com mais tranquilidade, era hora de consultar um médico para seguir com toda burocracia de pré-natal e acompanhamentos preliminares que uma gravidez exige e em breve poderíamos fazer o teste de DNA. Se tudo estiver correndo conforme meus cálculos e pelo exame que atestou a gravidez, Rosé está de 8 semanas e o teste pode ser feito a partir da 11°.

Rosé me pediu para acompanhá-la na primeira consulta, iríamos ouvir os batimentos do bebê, eu não queria estar tão ansiosa, mas eu nem consegui dormir na noite anterior. Não era nada fácil pra mim passar por isso tudo de novo...

— Ah não, eu não acredito, Chaeyoung. O que esse cara está fazendo aqui? Olha como ele está vestido, francamente.

— Estamos juntos.

O menino disse antes mesmo de Rosé falar alguma coisa, ela no mesmo momento me olhou com os olhos preocupados, olhei incrédula para o rosto da garota em minha frente e passei reto pelos "namoradinhos".

Já dentro da clínica, só um poderia acompanhar a gestante e obviamente teria que ser eu, afinal, eu sou doutora e posso analisar o bebê, assim como posso checar com meus próprios olhos e ouvidos se ele está saudável para o tamanho que se encontra.

Não foi difícil convencer Park sobre isso.

No momento em que me coloquei ao seu lado, olhando atenta para o monitor, senti a garota ao meu lado estremecer.

— Você está bem, querida?

A médica perguntou.

— Sim, só um pouco nervosa.

— Você poderia segurar a mão dela? Para tranquilizar a moça.

— Eu?

— Isso, garota. A menos que queira dar seu lugar ao rapazinho lá fora.

Olhei torto para aquela velha médica e tomei a pequena e macia mão da Rosie, no início ela pareceu mais tensa do que antes, mas logo se acalmou.

Ao ouvir as batidas do pequeno coraçãozinho ecoando pela grande sala escura, meu peito doeu, as batidas do meu coração eram fortes e senti meus olhos se encherem de lágrimas, a lembrança de ter vivido esse momento me arrebentou no meio, senti um nó na garganta.

— Olha só, esse pequeno é forte, tens um gene forte, mamãe.

Ao ouvir aquelas palavras seguidas da risada embargada e chorosa da Rosé, senti minhas pernas fraquejarem, eu não iria conseguir prestar todo suporte que ela iria necessitar.

Esperei que tudo acabasse para sair pela porta às pressas, cobrindo meu rosto para que ninguém visse o estado em que eu estava, o som dos saltos finos batendo no piso chamou mais atenção do que eu gostaria. Quando cheguei nos fundos da clínica no grande estacionamento quase vazio, longe de todos me agachei, precisava respirar.

Passaram-se cerca de 10 minutos e minha respiração começou a desacelerar, tudo que eu não precisava era de uma maldita crise de ansiedade nesse momento.

— Oi...

Me virei e a figura da garota se fez presente em frente aos meus olhos molhados, limpei as pressas as lágrimas teimosas que insistiam em cair e me ergui para melhor olhá-la, tentando retomar minha postura mais firme.

— Oi, Rosie.

— Você está bem?

Suspirei pesadamente e passei a mão pelos meus fios soltos tentando criar coragem para abrir meu mundo particular para a garota que eu mal conhecia e já tinha tantas coisas nos envolvendo.

— Preciso te contar uma coisa.

— Pode falar.

Ela se aproximou e com a manga da camisa secou meu rosto com um sorriso doce nos lábios, céus, como ela pode ser gentil com uma pessoa como eu? Depois da forma que eu tratei ela... Sorri em resposta.

— Rosé, há alguns anos atrás, antes de entrar na faculdade e tudo mais, eu estive em um relacionamento.

— Olha só, existe mesmo alguém que conseguiu entrar neste coração de pedra?

— Existia... Nós éramos muito felizes juntas, ela era tudo pra mim, planejava me casar com ela e dar o futuro que ela merecia, éramos muito novas e sonhadoras, mas no primeiro ano da minha faculdade, acabamos bebendo além da conta em uma festa e um deslize aconteceu, transamos sem proteção na semana em que ela estava sem remédios e, bem, as chances que uma pessoa com as minhas condições tem de engravidar uma garota, são menos de 30%. Era improvável. Mas acabou que ela engravidou.

— Oh.

— O começo foi complicado, para lidarmos com a pouca idade e com nossos pais, mas estávamos determinadas a criar nosso filho e ter uma família, sabe? Bem, eu naquela época era muito religiosa e acreditava que se Deus quis antecipar nossos planos, era por algum propósito.

Fiz uma pausa para respirar um pouco e ela pegou minha mão, acariciando e me incentivando a prosseguir.

— Mas o cara não foi tão bondoso assim. No fim da gestação descobrimos que meu garoto teria complicações no parto, o corpo dela estava cada vez mais frágil e descobrimos uma anemia grave.

Apertei meus olhos ao lembrar do estado em que vi o amor da minha vida naquela fase infernal.

— Foi então que os problemas começaram a surgir, brigas e mais brigas, eu estava sem paciência para lidar com tudo, ela achava que eu estava a traindo e começou a investigar minha vida, mesmo sendo um risco para eles dois, ela me seguia quando eu saía.

— Eu sinto muito...

Eu dei um pequeno sorriso pra loira e acariciei sua mão entrelaçando nossos dedos.

— Até aí ainda estava dando pra levar, mas em um dia em que eu tive um trabalho da faculdade, dei carona a uma colega por conta de uma tempestade forte, Sorn me seguiu com o carro dos pais, e após me ver se despedir com um abraço, após acompanhar a garota até a porta de casa, ela desceu do carro naquela tempestade e...

Fiz uma pausa pra respirar mais uma vez e senti uma dor forte no meu peito.

— Ela correu até mim, ela atravessou uma rodovia cega pelo ciúme e medo de ser traída, tão cega que esqueceu de olhar para os lados antes de atravessar. E o pior aconteceu, Rosie... Um carro em alta velocidade a acertou em cheio. Ela voou longe com o impacto e na hora, sem nem ter chance de tentar lutar pela vida, os dois foram tirados de mim...

Qual é o preço da luxúria? - Chaelisa G!POnde histórias criam vida. Descubra agora