Reunião (parte 1)

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Todo segundo sábado do mês é reservado para o encontro do grupo. Colocar as fofocas em dia, se atualizarem sobre as novidades, e uma missão secreta entre quase todas as amigas: tentar uma aproximação entre Gattaz e Montibeller. Cá entre nós, já são mais de 10 anos que se conhecem, outras pessoas já teriam desistido, mas não esse pessoal, principalmente Josy. A jornalista é quem mais luta para que suas duas melhores amigas passem a pelo menos se considerarem mais do que conhecidas.

Como combinado, todas estavam de folga durante aquele final de semana. Carol já estava acostumada a ter plantões e mais plantões para folgar alguns finais de semana, não somente o do encontro. Um churrasco na casa de Thaisa parecia o programa perfeito para aquela tarde ensolarada na capital mineira. Como uma boa arquiteta, Thaisa Daher havia planejado a casa perfeita. Piscina, área de lazer, um amplo espaço para aproveitarem sempre que possível. Aos poucos as amigas foram chegando, e a "festa" estava tomando forma. Cerveja vai, cerveja vem, carnes e até um churrasco vegano especial para Macris, Carolana e Anne aproveitarem.

Falavam de tudo e todos durante essas reuniões. Nesse em especial, Rosamaria, Naiane e Leia falavam sobre seus casos mais marcantes para Josy, que como uma boa jornalista, questionava e prestava atenção em tudo. Caroline, Carolana, Anne, Gabriela e Sheilla falavam sobre a rotina do hospital em que trabalham. Já Macris, Thaisa, Roberta e Priscila comandavam a preparação das comidas. Quando a noite foi caindo, as cadeiras foram se aproximando, e a conversa foi se tornando uma só.

Thaisa: vamos galera, joguem as novidades. Vai Caroline, começa você - fala animada.

Carol: minha vida continua a mesma do mês passado: hospital, hospital e hospital - responde de pronto.

Naiane: ah Carol, vai me dizer que em um hospital daquele tamanho, com um monte de médica e enfermeira gata, tu nunca deu umas bitoquinhas por lá? - pergunta desconfiada.

Carol: não, Nai, nunca - suspira cansada.

Gabriela: isso eu confirmo, pelo menos entre as enfermeiras. O nome de Dr. Gattaz nunca foi citado na rádio fofoca - Gattaz levanta e aponta sua garrafa de cerveja para Gabriela como quem agradece o apoio.

Thaisa: sei que não é o foco e você não fala sobre o assunto, mas desde o Hugo você não se relacionou mais com ninguém? - pergunta para a médica. Carol trava. Olha para Priscila como se pedisse ajuda. E a amiga prontamente intervém.

Priscila: ai gente, Carol já falou que nada mudou. Pula pra próxima, de preferência alguém que tenha alguma novidade ou fofoca interessante.

Carol olha agradecida ao mesmo tempo que está assustada consigo mesma por não ter conseguido responder uma simples pergunta. Isso faz com que ela desfoque e preste atenção somente em sua cerveja enquanto suas amigas conversam. Macris estava ao seu lado e percebe a mudança de Gattaz.

Macris: tá tudo bem? - pergunta baixinho, somente para Carol ouvir. A médica olha assustada para a veterinária e depois olha em volta para ver se mais alguém estava prestando atenção nela. Para sua sorte, a vegana era a única que não estava entretida enquanto Roberta falava sobre uma campanha em que estava trabalhando recentemente.

Carol encarou Macris, encarou a cerveja, bebeu um gole, olhou para o horizonte e enfim falou.

Carol: eu só não gosto disso, desse assunto. Lembrar do Hugo me traz dor, todos sabem - e então bebeu mais um gole de sua bebida.

Macris: sinto muito, você sabe, acho que nunca será possível mensurar o quanto todas nós sentimos muito por tudo que você passou. Mas Carol, não deixa ele vencer de novo, não deixa ele voltar a te assombrar.

Carol: eu acho que ele nunca deixou de me assombrar... - dá um sorriso triste e depois continua - eu me envolvi sim com outras pessoas nesse tempo, mas é difícil, é complicado, frustrante, doloroso. Eu não sei explicar. A Leia e a Nai já me recomendaram alguns psicólogos, mas eu nunca consigo me abrir realmente, nunca falo tudo - suspira e olha para o céu na tentativa de evitar que as lágrimas presentes nos seus olhos comecem a cair. Ela sabe que se começar a chorar, além de não conseguir parar tão cedo, assustaria a todas as mulheres presentes ali. Carol não é uma pessoa de chorar na frente das pessoas.

Macris: você não fala nem sobre o que tenta esconder da gente? - nesse momento seu tom de voz que já era baixo, não passa de um sussurro.

Carol a olha assustada. Tenta falar algo, mas nenhum som sai de sua boca. Ela está completamente apavorada e só pensa que seu segredo foi descoberto. Macris logo entende o que pode estar passando pela cabeça da médica e resolve acalmá-la.

Macris: calma, antes de mais nada, se acalma. Não, eu não sei qual o seu segredo, e de verdade não me interessa ficar tentando descobrir. Eu só espero que um dia você se sinta confortável em compartilhar com a gente. Eu não sei o que você esconde, mas eu sei que te atormenta. Tenta dividir esse peso, não é ruim se abrir de vez em quando.

Os pensamentos de Caroline neste momento estão uma confusão, pior do que normalmente. Em sua cabeça, a médica se questionava se aquele era o momento de contar, pelo menos para Macris. Mas ao mesmo tempo seu cérebro já a respondeu: Não, não é o momento nem o lugar.

Carol suspira e depois de um tempo em silêncio resolve continuar.

Carol: eu não sei como as pessoas vão reagir, Ma. Vocês são a minha família, não sei se conseguiria viver sem vocês... até mesmo sem a Rosamaria - dá uma risada da sua tentativa falha de quebrar aquele clima pesado.

Macris pede para a amiga olhar nos olhos dela e diz com toda sinceridade possível.

Macris: nada nesse mundo faria com que eu te virasse as costas, não posso falar pelas outras, mas acredito que pensam como eu. Carol, você está há anos nesse casulo e nós percebemos como isso te machuca, e nos machuca também. Não precisa ter medo da gente, somos sua família.

Carol: por agora eu só preciso dizer que o que eu escondo não é motivo de tormento, não é um peso, só... - para de falar e suspira olhando para o céu procurando as palavras. Depois de um tempo em silêncio, completa sua fala - é difícil, Ma, muito difícil. Tenta me entender, por favor - pede quase em uma súplica - Um dia eu vou falar, acho que já escondi por tempo demais. Às vezes me arrependo de não ter sido sincera desde o começo, mas acabou virando uma bola de neve que acabou me engolindo, e agora eu só tenho medo de como vocês irão reagir e qual imagem vocês terão de mim.

Caroline deixa Macris sem palavras. A vegana apenas abraça a amiga e sussurra em seu ouvido.

Macris: independente de qualquer coisa, eu tô contigo. Mesmo se você matou alguém, eu te acoberto... menos se for um animalzinho - Ambas riem, continuam abraçadas e voltam a prestar atenção no que estava sendo falado pelas amigas. Naquele momento Caroline começa a se questionar como estaria sendo aquele sábado, se seu segredo não fosse um segredo. Ali Caroline começa a notar que as coisas podem começar a mudar... e pra melhor.



Eu precisava muito viuvar, e esse capítulo foi a forma que eu encontrei.

Apenas um presentinho de natal.

Até terça.

Nossa Vida - RosattazOnde histórias criam vida. Descubra agora